quinta-feira, 5 de março de 2015

A ALMA DE AL DI MEOLA


Foi fascinante, esta noite, ouvir Al Di Meola ao vivo na “Casa da Música”. Acompanhado pelo pianista argentino Mario Parmisano, pelo percussionista húngaro Peter Kaszas e pelo guitarrista sardo/italiano Peo Alfonsi, o guitarrista norte-americano esteve simplesmente prodigioso do alto da sua técnica e da profundidade da sua linguagem musical.

Devo ao meu amigo Zé Nogueira o facto de me ter tornado um apreciador de Meola nos idos de 70, quando ainda tocava com Chick Corea e o seu supergrupo de fusão “Return to Forever”. Faço por isso parte daqueles muitos a quem ele agradeceu no fim do espetáculo por o terem querido seguir, mais ou menos insistentemente, nas diferentes fases da sua já longa carreira de mais de quarenta anos. Sendo que, no que me diz respeito, a proximidade foi maior em três situações especiais: no início dos anos 80, quando foi um dos membros do inesquecível trio de guitarras acústicas que formou com o mestre do flamenco Paco de Lucia e o inglês John McLaughlin; nos anos 90, em interpretações virtuosas do tango de Ástor Piazzolla que se lhe devem; nas duas últimas décadas, e muito centrado no seu projeto “World Sinfonia”, em trabalhos de cruzamento entre a world music e o jazz que se tornaram referências inconformáveis.

Defeito meu, mas não conhecia o seu disco de 2013 (“All Your LIfe”) em que quis prestar um tributo pessoal aos “Beatles” – “se não tivessem existido, eu hoje provavelmente seria, quem sabe... um bombeiro, ou qualquer outra coisa”, mas principalmente porque “mais do que a mim próprio, eles mudaram o mundo” –, interpretando catorze dos seus êxitos numa lógica orientada para, e cito-o, “introduzir uma sofisticação rítmica sem alterar a harmonia, para preservar a beleza das canções”. Refira-se, aliás, que a digressão pela Europa que Meola agora inicia no Porto tem uma filiação última nesta sua inspiração beatleana, como claramente indica o próprio nome (“Beatles & More”). E creiam que é arrepiante a sua leitura de “Eleanor Rigby”...

Sem comentários:

Enviar um comentário