domingo, 24 de setembro de 2017

PAUSEXIT?




Este é um daqueles temas que, embora jovem, não engana em termos de contributo para a definição de um tempo, de um projeto e de um rumo político. O “Brexit” que os britânicos votaram em junho de 2016 já nos proporcionou uma infinidade de deliciosos momentos nestes quinze meses dominados pela desorientação, pela incompetência, pela hesitação, pelo oportunismo e pela mentira; momentos também acompanhados, aliás, por alguns episódios plenos de um inconcebível ridículo, roçando até picos de hilaridade.

Pessoalmente, sempre tendi a admitir que com o “Brexit” estaríamos perante o assentar de uma importante pedra tumular na construção europeia e nunca pensei, por isso, que sinais de refluxo ou recuo iriam acontecer com a significância que começa a emergir diante de nós. Mas honra deve ser feita às vicissitudes da conjuntura e às ainda inclassificáveis metamorfoses da senhora Merkel, bem assim como à péssima governação britânica e ao militantismo e profissionalismo de alguns agentes políticos “europeístas” (caso de Michel Barnier, em particular), quando nos surgem essas indicações de que a história poderá vir a evoluir em sentido diverso ao que parecia destinado.

Então May admite o pagamento de uns milhares de milhões e apela a dois anos de pausa para a concretização do divórcio, como contam os jornais de hoje? Pois muito bem, sendo a meu ver claro que apenas se trata de uma espécie de pedido de pessangas, embora sintomático, no quadro de uma realidade que ainda conhecerá muitos e contraditórios choques e trilhos. Porque o impulso decisivo da questão provirá do lado alemão e das opções que em Berlim se começarão a clarificar nas eleições deste fim de semana – serão, efetivamente, a verdadeira vontade da senhora Merkel e da sua circunstância coligativa a chave que nos próximos anos nos esclarecerá sobre o que de bom ou de mau de facto adveio destes anos de experimentação e apalpação negocial: uma União Europeia pura e dura, na melhor tradição alemã, significará que devemos lamentar a impotência estratégica de May, Boris, Davis e demais responsáveis ao não terem assim logrado ser bons ajudantes de coveiro no enterro desse monstro que a ninguém servia; uma União Europeia de algum modo renascida, mesmo que sempre inevitavelmente atravessada de complexidades, significará que devemos glorificar aquela impotência pelo engenho que involuntariamente aguçou de novas criatividades fundadoras. Curiosa realidade!



(Patrick Blower, http://www.telegraph.co.uk)

(Pierre Kroll, http://www.lesoir.be)

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