sábado, 26 de abril de 2025

FRANCISCUS

 
(Agustin Sciammarella, http://elpais.com) 

O Papa Francisco já descansa no túmulo discreto por si escolhido, em Santa Maria Maggiore (Roma). As cerimónias associadas ao funeral tiveram o ruído mediático que era inevitável que tivessem, embora alguns líderes internacionais (Trump, desde logo) mais coerentes teriam sido se não marcassem presença (como Putin e Netanyahu). No nosso caso, o provincianismo parolo imperou, com nada menos de quatro representantes (Marcelo, Aguar-Branco, Montenegro e Rangel, fazendo com que Leitão Amaro ascendesse por breves instantes ao sempre tão ansiado lugar de primeiro-ministro em exercício) a não quererem perder a oportunidade de posar ou passar perto de muitos dignatários mundiais. Dentro em pouco tempo, iniciar-se-á o conclave eletivo do novo Papa e as apostas são de toda a espécie – recomendo que aproveitem para ver o filme de Edward Berger com o mesmo nome em que Ralph Fiennes surge como o cardeal decano que organiza a eleição num clima que o realizador afirmou acreditar corresponder à “claustrofobia e paranoia” que se verifica na realidade (ainda que os argumentistas, Peter Straughan e Robert Harris, vencedores do Óscar de melhor argumento adaptado, pretendessem, a meu ver, pôr em evidência outras damas determinantes, como a da presença da Igreja em locais de conflitualidade aberta no mundo, no caso o Congo e o Afeganistão, ou a do papel sempre intoleravelmente secundário que é permitido às mulheres no seio da mesma ou do seu raio de ação) –, sendo especialmente crucial que o desfecho venha a traduzir uma clara continuidade/aprofundamento (e não um retrocesso/fechamento, como se percebe ser o sentido preferido de alguns grupos, entre radicais declarados e outros que preferem agir nos bastidores e num quadro de silêncio público) em relação ao que foram os assinaláveis doze anos de Francisco, independentemente de haver quem considere – provavelmente sob a influência de um irrealismo essencial face à natureza da Instituição e às relações de forças que nela se exprimem – que estes até poderiam ter sido mais ousados. Num mundo que se nos apresenta no estado crítico que vamos conhecendo, e onde certos valores fundadores vão sendo questionados e contrariados de modo crescente, será da maior importância que a personalidade daquele que virá a surgir à varanda central da Basílica de São Pedro após haver fumo branco no Vaticano esteja à altura dos imensos desafios com que se irá deparar – assim ele honre o legado e o bom nome do seu antecessor...


(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)

(Nicolas Vadot, http://www.levif.be)

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