No meu fraco entendimento, a última semana foi tragicamente reveladora quanto ao estado deste País que é o nosso. Nada que não já estivesse na calha, mas a acumulação de pequenos e médios incidentes determinou em mim uma agravada sensação de irreprimível melancolia, algo assim como uma nítida e incapacitante perceção de que não temos mesmo emenda.
Não consigo encontrar o critério adequado para a distribuição de doses de responsabilidade individualizada pelos ditos incidentes, iniciados logo na Segunda-Feira com um inédito e completo “apagão” que se estendeu por quase dez horas (sem dúvida que o fenómeno mais gravoso do ponto de vista da inconsistência funcional do País e da inconsciência coletiva que se lhe soma) e prosseguidos com as reações observadas (ou não) em relação ao mesmo da parte dos nossos governantes e entidades relacionadas (Leitão Amaro, por um lado, e Castro Almeida, por outro, destacaram-se em termos de publicidade própria e nível de gratuitidade alcançado, enquanto Graça Carvalho e Margarida Blasco aproveitavam para implicitamente sinalizar um abstruso “não me comprometa”), com a divulgação de uma nova lista de clientes da “Spinumviva” e respetivas derivadas em termos de acusações partidárias mútuas e de indecência de propostas (Hugo Carneiro exagerou!), com a presença de Montenegro em modo de negação e vitimização (quando não de um nervoso insuportavelmente trocista) no debate com Pedro Nuno ou com a celebração suspensa do 25 de abril a realizar-se num 1º de maio pirosamente eleitoralista (entre Carreira, Pauliteiros e sentida cantoria do primeiro) a que se quis dar a designação de “S. Bento em Família”, entre outros factos também bastante sugestivos e relevadores (como inaugurações indevidas, declarações lamentáveis e comentadores capazes de tudo, aqui não podendo deixar de mencionar o exuberante misto de berraria e loucura que a SIC-N permite a Miguel Morgado).
Tudo isto existiu e tudo isto parece cada vez mais uma componente inultrapassável do nosso fado, um fado que já poderia seguramente acabar mal a 18 de maio se não fossem tão deslocadas e desajeitadas as tentativas de André Ventura para se apresentar como um reconhecível candidato a primeiro-ministro – mas, se não mudarmos de vida, o cântaro continuará a ir à fonte até que a asa por lá lhe fique deixada por conta do barro amolecido dos nossos “brandos costumes”...

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