Volto a um assunto que já começa a cheirar mal, o da presença portuguesa na União Europeia e dos seus impactos perversos em termos de um acesso continuado e descontrolado aos respetivos fundos comunitários. Nuno Palma (NP), um investigador português da Universidade de Manchester, tem sido um dos grandes mentores da tese de que “estamos hoje mais longe da UE do que estávamos há 25 anos” (veja-se o caso mais recente da sua entrevista do último fim de semana ao “Nascer do Sol”), embrulhando com ela conjuntos diversos de argumentos válidos e inválidos ou até perigosos, aqui como os dos “negócios e negociatas” ou os dos “benefícios para políticos a pensar nas próximas eleições”.
Autor de um livro best-seller (“As causas do atraso português”) neste nosso Portugal culturalmente pobrezinho em que o efeito repetição/imitação prevalece sobre o pensamento, NP parece ter-se deixado capturar pelo convencimento pessoal de uma assumida fulgurância político-social, que aliás contrasta por demais com a qualidade indiscutível da sua investigação histórico-económica, prosseguindo uma evangelização missionária contra os efeitos da participação nacional no espaço europeu – Os fundos causaram habituação? Sim, causaram. Tal habituação é limitadora de reformas no país? Sim, é. Cabe na cabeça de alguém [e por maioria de razão do Presidente da República] achar que o que interessa é gastar, não importa como? Não, não cabe. Portugal é um deserto intelectual e vai ter de mudar? Sim, é e vai. Ou seja, sendo tudo isso assim, o que merece todos os possíveis avisos de denúncia, tal não significa que possamos deitar o menino fora com a água do banho e extravasar os limites da verdade e da decência em relação à intervenção esforçada da maioria dos protagonistas da sociedade civil e da classe política, sob pena de um favorecimento gratuito de todos quantos vêm num ataque sectariamente ideológico a funções determinantes do Estado e numa corrupção de doses mais do que imaginárias as causas de todos os males de que o País sofre.
Claro que sabe bem fazer capas de jornais com pregações fáceis, mas um pouco mais de recato nas afirmações em torno do nosso padecimento atual de uma doença holandesa e da inerente dispensabilidade dos fundos chega a soar como provocatório, para não dizer intelectualmente pouco honesto, a quem conheceu o Portugal anterior à adesão à CEE e ao acesso a fundos que lhe permitiram infraestruturações essenciais e políticas públicas de manifesto resultado positivo.


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