sábado, 8 de novembro de 2025

SOBRE A EVOLUÇÃO RECENTE DO EMPREGO

(Elaboração própria a partir de https://www.ine.pt)

A evolução do emprego em Portugal é encarada por muitos analistas da nossa realidade como um dos grandes sucessos – e fatores de esperança transformadora, para os mais otimistas (como Mário Centeno) – da atual conjuntura económica nacional (contribuindo inclusivamente para que as receitas do Estado, via impostos diretos e contribuições para a Segurança Social, tenham registado uma folga algo imprevista e muito confortável, matéria onde os fluxos de imigração não foram de todo irrelevantes). De facto, os últimos quase 15 anos viram a criação de emprego aumentar de modo significativo e, correspondentemente, os níveis de emprego total conhecerem um muito marcante incremento (superior a um milhão de pessoas). Sendo que foi no último quinquénio (mais precisamente, desde o termo da quebra decorrente da pandemia que colocou a população empregada em quase 4,6 milhões) que o mercado de trabalho não mais cessou de evidenciar um enorme dinamismo, o qual se saldou em cerca de 750 mil empregos criados no período.

(Elaboração própria a partir de https://www.ine.pt

Dito isto, uma observação mais pormenorizada deixa algumas dúvidas quanto à dimensão estrutural destes comportamentos. Com efeito, e especialmente no período mais recente atrás focado, a constatação de que a maioria dos setores de maior crescimento do emprego correspondem a atividades de relativamente baixos índices remuneratórios (caso, designadamente, da saúde e apoio social, da construção e do alojamento e restauração – cá estão as grandes áreas de oferta de trabalho para os tão demonizados imigrantes) indicia claramente sinais de desqualificação e precariedade em, pelo menos, mais de um terço dos novos postos de trabalho ocupados; paralelamente, apenas num setor (atividades de informação e comunicação), cujos índices salariais são mais do que duplos relativamente à média, se regista uma criação de empregos dominantemente qualificados. Aqui deixo, pois, alguns elementos eventualmente motivadores de uma reflexão pertinente sobre onde estamos e para onde vamos ou queremos ir.

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