(A minha intuição diz-me já há algum tempo que este tempo movediço das Presidenciais vai revelar as chagas profundas em que o Partido Socialista está mergulhado, penalizando-o fortemente e diferindo não se sabe para quando a necessidade de ir fundo na génese de uma trajetória de recuperar do seu lugar nas preferências do eleitorado. Numa semana em que eram fundamentais palavras fortes na denúncia dos tiques governamentais do nacionalismo mais serôdio, dos tiques miméticos em matéria de obsessões do Chega e na falta absoluta de humanismo de uma Ministra da Saúde que continua a imaginar-se a governar quando na prática o chão lhe foge por todos os lados, como se o aparelho político da saúde por ela montado estivesse a ser permanentemente sob a tensão de abalos telúricos. O modo como a Ministra se referiu no Parlamento ao caso da morte da grávida e do seu filho recém-nascido equivale a um manual de abandono de qualquer pinga de humanismo, por mais débil que ela fosse. Estamos num contexto em que alguns minutos de discurso contundente de Pacheco Pereira se sobrepõe à voz débil e timorata do PS na oposição. E se não bastasse a incompreensível anemia da Voz do PS nesta fase, sem por exemplo um porta-voz para acompanhar com coragem os desmandos da saúde, não ignorando as suas responsabilidades no cartório, a dispersão das intenções de voto em torno das Presidenciais vai revelando como é funda a desorientação de algumas das suas personalidades com maior peso mediático. Correia de Campos já o tinha anunciado, para agora Manuel Pizarro emergir como mais um apoio tresmalhado a Gouveia e Melo. Certamente que não ficaremos por aqui. Todo este ruído dos tresmalhados penaliza obviamente o a concentração da atenção interna do partido na discussão da sua trajetória futura de reencontro com o eleitorado.)
Se projetarmos noutros planos esta decisão de Pizarro de se juntar ao grupo dos apoiantes de Gouveia e Melo, diria sem preocupações de qualquer controvérsia que ainda bem que saiu frustrada a sua terceira tentativa de chegar à Presidência da Câmara Municipal do Porto. Teríamos o Presidente da Invicta a apoiar o Almirante. Esta gente que sempre animou e dependeu da vivência dos partidos e da sua esfera de influência parece não ter compreendido o poço profundo em que os partidos democráticos correm o risco de mergulhar, sem que durante algum tempo, que pode ser longo, o eleitorado acuda para os resgatar.
Nunca considerei que Pizarro fosse alguém brilhante em termos de ação política e sobretudo alguém com capacidade de formulação de saídas consistentes para o revigoramento do papel dos partidos na democracia portuguesa.
A sua decisão de apoiar alguém cujo pensamento sobre o papel da revitalização do papel dos partidos na democracia portuguesa é pelo menos duvidoso, senão mesmo contraditório e equívoco, diz bem da mediania que o caracteriza. O que me sugere algo mais grave, a sua ideia sobre o papel dos partidos pode ser mesmo simplesmente instrumental, ou seja os partidos servem apenas enquanto rampas para as trajetórias políticas pessoais.
Com personalidades deste calibre e sem renovação aparente de forças dinamizadoras internas, o futuro está negro ou pelo menos nebuloso para o PS.


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