domingo, 9 de novembro de 2025

PATIFES E COMPADRIOS POR ESSE MUNDO FORA

 


(Uma leitura atenta e não necessariamente muito sistemática dos protagonistas da cena internacional, seja ela política, económica ou mesmo cultural, oferece-nos um sistema de atores por vezes rocambolesco, sobre o qual alguns de nós hesitam em considerá-lo como uma espécie de buraco negro temporário, ou seja algo que não dará origem a nada de definitivo ou se, pelo contrário, haverá que tirar os  cavalinhos da chuva e, uma de duas, ignorar mergulhando na mais profunda indiferença ou adaptar-se, para quem pode, ao novo quadro. Estou declaradamente neste grupo de gente hesitante, que não sabe como posicionar-se, embora os 76 pudessem aconselhar um mergulho na indiferença, mesmo que não sabendo nadar nesse tipo de águas. De facto, nunca vi tanto patife declarado a expor-se sem pudor ou mesmo a tanto compadrio a emergir de todos os lados, com os pratos de lentilhas a tornarem-se paradoxalmente cada vez mais pequenos e nem por isso menos atrativos.

A primeira grande dúvida é saber se Trump é o chefe da banda de toda esta nova orquestração da cena internacional ou se, pelo contrário, é apenas um dos tocadores dessa mesma banda, levantando-se neste caso a complexa questão de saber quem é que comanda efetivamente a orquestra.

Mas a prática de Trump é em si mesma um belo conjunto de patifarias e exploração dos compadrios mais despudorados. O presidente americano lança ameaças via estabelecimentos de direitos aduaneiros, castiga quem não está com ele e, num momento de fúria controlada, resolveu meter a mão nas sanções à Rússia, mais propriamente através de bloqueios à comercialização de petróleo russo, sancionando quem continua a importar a principal fonte de financiamento russo da invasão da Ucrânia. Mas os Amigos e não os valores são para as ocasiões e bastou que Victor Orbán, o cavalo de Troia mais manhoso que a União Europeia tem acolhido alegremente no seu seio, uma espécie de compadre das autocracias, fosse a Washington falar com o Grande Chefe para ser perdoado e afinal poder continuar a importar petróleo russo. Os momentos televisivos conhecidos do encontro a dois forneceram momentos deliciosos do contacto entre compadres da autocracia, sobretudo quando Trump benevolamente interrogou Orbán sobre se a Ucrânia tem alguma possibilidade de ganhar a guerra, ao qual o autocrata húngaro respondeu que só por milagre ...

Patifes e compadrios, cena 1.

A outro nível, na COP que está a realizar-se em Belém, no Brasil e com a Amazónia como pano de fundo, reunião em que os EUA e Trump não estarão presentes, o Brasil recebeu os principais representantes políticos presentes com os mais modernos BYD viaturas elétricas chinesas e o próprio Lula da Silva se fez deslocar nesse tipo de viatura. A mensagem está dada. Em matéria de veículos elétricos é a opção pela China que vale, que não é mais do que reconhecer a evidência de quem vai à frente. Mas não é para falar da COP que este post é elaborado, ainda que possamos convir que também pela COP passam patifes e compadrios.

À margem da Conferência e com ela largamente relacionado, no passado mês de outubro esteve em jogo a assinatura de um acordo histórico para reduzir e travar a poluição produzida pelos navios de carga. Soube-se agora que a administração de Trump foi autora da mais sinistra campanha de intimidação de alguns países potenciais signatários desse acordo histórico, com ameaças do mais descabelado que se conhece em matéria de direito e política internacionais. Desde ameaças de proibição de escalamento de portos americanos a navios com a bandeira desses países a proibições aos políticos signatários de entrada nos EUA, passando por contactos intimidatórios do próprio Marco Rubio com ameaças de pesadas multas financeiras e outras penalizações, o bullying declarado dos EUA conseguiu fazer descarrilar o referido acordo. A escalada das ameaças mostra que o compadrio com as indústrias fósseis, grandes financiadores da campanha de Trump, é para levar a sério e que, além do mais, está já entranhado na administração de Trump, pelo menos a que atua no círculo mais próximo do patrono.

O New York Times deste fim de semana, na edição internacional, documentava também que a política de Trump em matéria de drones poderia ser considerada como um benefício indireto a uma empresa liderada por um dos seus filhos. É assim que estamos.

Talvez valha a pena começar a criar neste blogue mais um espaço dedicado – neste caso ao registo de evidências sobre patifes e compadrios à solta pelo mundo. Não sei se terei capacidade de armazenar e tratar tão volumosa e diversificada evidência.

 

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