(Explosões em Telavive)
(Um dos cartões de visita com que Trump se apresentou aos seus eleitores e ao mundo em geral estava pintado de cores celestiais e prometia um mundo pacífico, como Senhor de todas as forças capaz de negociar e ganhar dinheiro com isso. Bastaram uns simples meses para trazer a evidência do contrário. No plano interno, sempre com a imigração como inimigo, ainda dizemos que a história não se repete, está na Califórnia e noutras cidades a fazer prova do contrário, afirmando a sua força pela força e aproveitando, no caso da Califórnia, para tentar colocar fora de combate um dos seus adversários políticos, o Governador. No plano externo, como seria de esperar, o seu estilo de negociação e sobretudo as suas amizades políticas fiéis colocaram o mundo em cima de um barril de pólvora, que vai explodindo por secções. Na Ucrânia, é o que se vê, com Putin a driblar constantemente o presidente americano, em estilo gingão e os povos ucraniano e russo, sim o número de perdas humanas do invasor é assustador, a sofrerem na pele essas atrocidades, os ucranianos por impotência e os russos porque estão presos nas malhas de um torcionário. Mas quem mais e melhor aproveitou esta estranha diplomacia americana foi Israel. Com as costas quentes da proteção que Trump concede a Nethanyau, Israel tem aproveitado como ninguém a oportunidade para alargar território, disparando para tudo que mexe no seu caminho. Já compreendemos que em Gaza e na Cijordânia é de genocídio que se trata. Mas não plenamente satisfeito com a possibilidade de reduzir a Palestina e os Palestinianos a uma simples reserva e tirando partido da desaparecida unidade no povo árabe, o início da guerra com o Irão mostra ambições mais amplas. A ameaça nuclear do Irão é utilizada como fundamento para a ofensiva militar e na opinião pública israelita o Irão não é propriamente alguém estimável, mas o movimento é o mesmo – a conjugação perfeita de um apoio americano incondicional e as dificuldades por que passa o regime teocrático de Teerão.)
A ingenuidade com que muita gente pensou que Trump seria capaz de se impor à instabilidade do mundo ignora uma premissa fundamental – quem é instável e imprevisível por natureza obviamente que tende a tornar mais instável aquilo que já o era.
Com alguns dias de hostilidades abertas entre Israel e o Irão pressente-se nas entrelinhas da truncada informação que nos chega que o regime de Teerão se encontra numa situação de extrema fragilidade, não só interna, mas também ao nível das forças externas com quem pactua, houtis no Yémen e o Hezbollah no Líbano. Não acredito que seja apenas uma já conhecida de outras ocasiões política de contenção do Irão nas retaliações a explicar o teor da resposta iraniana aos bombardeamentos sistemáticos que tem sido alvo, orientados sobretudos para penalizar a sua capacidade nuclear.
Mas o que mais me tem espantado nestes dias é a posição ténue e de expectativa com que o mundo próximo do Irão (China, Rússia, só para citar os mais sonantes) tem assistido aos acontecimentos. De certo modo, podemos dizer que a clivagem entre sunitas e xiitas no mundo árabe nunca esteve tão acesa, com a Arábia Saudita a esfregar as mãos de satisfação com a fragilidade iraniana. Acredito, porém, que a valia secular das raízes iranianas irá encontrar formas de resistência capazes de estancar este declínio hoje evidente. Mas o que considero mais penoso para o mundo e principalmente para os iranianos é a elevada probabilidade de todo este contexto reforçar o padrão teocrático do regime e o seu lado mais negro e repressivo. É que, não tenho dúvidas disso, existe uma sociedade iraniana pronta a explodir de criatividade e de força cívica que continua manietada por um regime de tolerância zero, aliás como o cinema iraniano nos vem demonstrando.


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