sábado, 19 de abril de 2025

A BERTRAND DE AVEIRO

 

(A vinda do filho, nora e netos de Lisboa para o interregno da Páscoa ocupa praticamente o tempo disponível e nessas relativamente raras ocasiões o blogue é que paga como diria o saudoso Variações. Quem se habituou a organizar a vida a dois, ainda embora com os desafios do trabalho a exigir soluções, a mudança de ritmos não é simples e a própria adaptação consome tempo. Curiosamente, a malta de Lisboa vinha com a visita à nova Bertrand de Aveiro filada e, também alertado, pelo orgulho aveirense do José Carlos Mota, lá rumámos na quinta-feira a terras de Vagos com curta passagem pelo outlet da Costa Nova no centro da nova cerâmica da região Centro, à Costa Nova para um almoço sempre agradável e finalmente uma fervilhante Aveiro em tarde de quinta-feira. Nos tempos que correm é um verdadeiro milagre celebrar a abertura de uma nova livraria, embora as que resistem à ofensiva da Amazon. mea culpa para os livros técnicos anglo-saxónicos, se diferenciem pelo charme imenso de transformar os espaços que alojam estantes em verdadeiras atmosferas urbanas. No pressuposto de que esses espaços de resistência correspondem a uma procura solvente, isso significa que os amigos dos Livros persistem por aí, namorando por vezes com o digital, mas encontrando sempre refúgio retribuidor nas edições em papel. A Bertrand de Aveiro tem um belo edifício de dois pisos, o icónico Edifício Avenida e, na passada quinta-feira, respirava-se ainda um ambiente de novidade, com miudagem diversificada a animar o ambiente, já que o espaço de leitura para os mais novos é generoso e dá um tom de frescura e vivacidade ao espaço. Esperaria talvez uma zona de lazer mais ampla, mas talvez esteja influenciado pelos grandes espaços de lazer das grandes livrarias de Londres e Nova Iorque e seria talvez disparatado à nossa escala ambicionar ter essa dimensão.)

Do ponto de vista urbano, o espaço da Bertrand vem completar a qualidade da infraestrutura comercial que anima hoje a cidade de Aveiro, preenchendo um espaço de vivência que está cada vez mais apetecível de usufruir, apenas elo simples prazer de gozar a socialização da Cidade.

Mas imaginar que Aveiro poderia escapar à onda turística que varre o país seria pura ingenuidade. A época é seguramente convidativa e, por isso, nesta quinta-feira pascal a Cidade estava fervilhante, sobretudo com um tráfego infernal de quebrar a cabeça a qualquer um. A densidade de tráfego turístico nos canais era impressionante e a vozearia linguística de outras paragens, muitos asiáticos e obviamente espanhóis, muitos espanhóis, mostrava-nos que a animação turística é por estes tempos imbatível e difícil de controlar, sobretudo a partir do momento em que a procura se instala e atinge um certo limiar, na prática um limiar de procura que abre caminho à sus reprodução alargada. Ou seja, a procura faz caminho e penso que Aveiro está neste momento nesse ponto que diria de não retorno, convidando por isso à regulação futura

Nestas ocasiões, penso sempre como estariam naquela altura outras Cidades que já visitei e cujas atmosferas urbanas aprecio. Provavelmente, nessa quinta-feira pascal estariam também agitadas, intensas na sua procura turística. A regulação irá provavelmente fazer a diferença.

Na curta viagem de Vagos para a Costa Nova é impossível não apreciar a qualidade da infraestruturação que acompanha o chamado canal de Mira, mostrando que o POLIS deixou marcas de grande qualidade. O imponente farol da Barra continua a lá a desafiar o tempo com a sua imponência e a orientar o viajante, enquanto ponto de referência no território.

Boa Páscoa para todos.

Nota final

O meu colega de blogue já registou a perda que enfrentamos com a morte de João Cravinho. Apenas umas ligeiras notas de pesar sobre o desaparecimento de alguém da geração anterior à minha cuja influência exercida nos andarilhos do planeamento como eu é muito relevante. Perdemos sobretudo alguém com Visão de país, construída muito cedo desde os tempos do GEBEI, ainda que renovada sempre com entusiasmo e valoração da qualidade do debate público. A comunicação social valorizou mais o seu contributo para uma cultura de anti-corrupção do que este aspeto da Visão estratégica, não apenas setorial mas integrando também a dimensão territorial, o que é raro na inteligência da Capital. A título pessoal, liga-me a João Cravinho a decisão de não aceitar um convite para exercer uma função pública, que me dispenso agora de mencionar. Com a sua simpatia incomparável e que deixa saudades a todos que dela tiveram experiência, ainda esteve alguns minutos ao telefone a convencer-me do contrário, compreendendo depois que a recusa não era de todo pessoal, mas antes uma questão de manter o recato que ainda hoje continuo a preservar.

Uma perda enorme e a estranha sensação de que os Grandes nos vão deixando.

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