Tenho plena consciência de que “cada um é como cada qual” e de que o mal é como o bacalhau: “é feio, cheira mal mas não é todo igual”. Ora, e assim sendo, no meu caso pessoal há duas coisas interligadas que me irritam particularmente: uma é que façam de mim parvo, pior ainda se disso o cidadão em causa dá o devido sinal trocista ou marotão, e outra é que me atirem areia para os olhos ao confundirem alhos com bugalhos, pior ainda se tal se fizer acompanhar de manifestações tendentes ao apelo à comoção, à compaixão ou à comiseração. Pois, nem de propósito, o nosso Luís Montenegro (LM) – que já vinha de há muito a aproximar-se da primeira daquelas pechas com as suas declarações sempre desviantes em relação a matérias associadas à empresa “Spinumviva” – acertou em cheio nas duas durante a sua longa entrevista a Júlia Pinheiro, animadora na SIC das tardes dirigidas a donas de casa e reformados.
Uma vez que não sigo obviamente o dito programa, foi através de um alerta amigo que se me revelou o facto que abaixo refiro e que considero de uma gravidade insana para não dizer de uma tão obscena exploração de sentimentos que roça a desonestidade pessoal. A saber: LM decidiu-se a ali utilizar os seus dois filhos, os mesmos que envolveu no processo ao torná-los herdeiros de uma carteira de contactos pessoais, para se vitimizar quanto ao efeito que neles observa na decorrência do caso “Spinumviva” – ou seja: o mais velho (24 anos e licenciado em Gestão) tem “projetos com amigos dele e colegas de faculdade” mas “tem tido uma dificuldade enorme, neste momento, em levar os seus projetos pela frente” na medida em que “há muitas pessoas que lhe estão a fechar as portas”; o mais novo (ainda a frequentar a universidade) foi chamado à colação por via do seguinte relato na primeira pessoa: “Ele não me vai levar a mal que eu diga aqui, que num dos dias em que nós estávamos sob maior impacto mediático, estava tão cabisbaixo que lhe perguntei o que é que tinha, e ele lá respondeu à maneira dele, e depois eu disse-lhe: ‘Mas estás com medo?’ E ele respondeu tão simplesmente isto: ‘Já percebi que vou ter de sair de cá’, como quem diz, ‘eu por este andar vou ter de ir trabalhar para o estrangeiro por causa do pai’”. Uma exploração absolutamente miserável dos mais básicos instintos do ser humano, à qual não se coibiu de acrescentar um apelo ao reconhecimento privado e íntimo das injustiças em presença – ademais sublinhando que devem existir limites ao preço a pagar por se estar na vida pública – e, no tocante ao filho maior, a algum possível favorecimento por parte de quem se sinta solidário com “este impacto” num jovem “que já está na vida profissional” – portanto, uma espécie vergonhosamente disfarçada de nepotismo. Imperdoável!

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