Aposto que a larga maioria dos nossos concidadãos só lê ou vê as “gordas” dos jornais que diariamente ainda vão surgindo nas bancas. E a ser assim, a mais pura das realidades é que os ditos são forçados a concluir que está tudo maluco nesta tão potencialmente aprazível república. Faço o exercício com capas dos últimos dias, acima ilustrando as pequenas e grandes corrupções pessoais que foram relatadas e as situações de miséria moral e institucional que emerge de dentro de entidades tidas por defensoras da segurança e da ordem no País (o caso da associação criminosa de Beja e da exploração desumana da mão-de-obra imigrante é por demais chocante e absolutamente intolerável), abaixo evidenciando quanto a atividade governativa (a atual como as que a precederam) tanto passa ao lado da sua função de indicar caminhos e dar o exemplo em pequenas, médias e grandes (in)decisões em que saltam á vista a incúria, a irresponsabilidade, a publicidade gratuita e a utilização abusiva ou incompetente do património e dos dinheiros públicos. Perante este estado de coisas, no mínimo lamentável e na verdade insustentável, não podemos espantar-nos que o discurso demagógico, mentiroso e provocador de Ventura vá passando por entre os pingos da chuva, ou seja, que uma cidadania impreparada, frágil e significativamente empobrecida não consiga discernir entre a educação e a boçalidade, entre a efetividade e o fingimento, entre a propositura e a falta dela, entre o bem e o mal, afinal.
A situação agrava-se quando se constata que os reais problemas do País apenas excecionalmente vão sendo aflorados (quase sempre por motivação editorial do “Público” e do “Jornal de Notícias”, que assim prestam inestimáveis provas de serviço público) – vejam-se, na infografia abaixo, temas como o do concentracionismo em torno da Capital (das pessoas às políticas públicas), das crescentes distorções de funcionamento detetadas no Estado Social (e na Saúde em especial), de um modelo económico em que os baixos salários não deixam de imperar e das respetivas consequências generalizadas na área da Habitação ou de uma casta gananciosa de elites empresariais e sociais que perdeu o sentido do coletivo e que foge quanto pode aos impostos ao mesmo tempo que tende a privilegiar a acumulação fácil de riqueza em relação à sua criação. Pontualmente sinalizadas, estas questões bem careceriam de um maior e mais cuidado foco por parte daquela comunicação social mais atenta e bem-intencionada, seja para que os seus alertas se disseminassem de modo estruturado junto da população seja para que os responsáveis públicos se vissem forçados a considerá-las sem assobiarem para o lado do modo desligado, cínico e negligente que tem feito a sua prática.



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