(De preparação para uma curta saída, que passará por Lisboa, e que provavelmente me afastará do blogue, não tenho a certeza, fixo-me nos dados cada vez mais evidentes de que a política económica de impulso a que Trump tem submetido a América e o mundo vai ter os efeitos opostos aos que anunciou para os primeiros 100 dias da sua governação. Sucedem-se as evidências de que, embora os custos globais de tão estúpidas e não fundamentadas decisões venham apenas a tornar-se mais claros com algum tempo de maturação, os impactos negativos estão a chegar aos consumidores americanos e às empresas em nome dos quais as medidas de guerra comercial externa foram anunciadas. Se bem que o percurso ditatorial e anti-democrático de Trump e seus sequazes vá muito além da sua desajeitada política económica, traçando uma ofensiva clara contra juízes e tribunais, veremos como lida com o Supremo Tribunal por si composto, e essa linha vá provocar resistência que baste, continuo na minha de que a política económica vai acabar por minar a sua desmedida arrogância. Vou, assim, ficar-me por hoje por uma longa citação de Bradford DeLong que do seu gabinete em Berkeley e trabalhando no duro no seu substack vai-nos proporcionando a evidência necessária para anunciar o desastre que se avizinha para a economia americana e para a economia mundial como um todo.)
“Gene Seroka do porto de Los Angeles prevê uma queda de 35% nas cargas através de Long Beach, à medida que as exportações chinesas para os EUA parem subitamente. Isso não está a acontecer como resultado de qualquer tendência de negociação, não existem negociações, nenhum plano e nenhuma política económica por detrás dos slogans de “comércio justo”.
A administração Trump isolou-se ela própria não apenas da China, mas de outros parceiros desejáveis como o Japão, o México e a Coreia do Sul, dos quais todos bateram bolas com Trump I, mas sem qualquer retorno e que agora se encontram decisivamente não numa “caixa verde”. Qual o resultado provável? Estagflação. A China, com a sua coordenação centralizada, está a manobrar para mitigar os danos e distribuir a responsabilidade pelas suas prováveis perdas económicas de 4 milhar de milhões de dólares semanais que já começaram a verificar-se. Os EUA, guiados por um macaco caótico, está a caminhar para uma quebra no consume acessível, na continuidade da produção manufatureira e no crescimento económico, sem qualquer alívio no horizonte e nenhum plano para acomodar o embate das consequências de perdas que serão provavelmente dez vezes ou vinte vezes superiores se tivermos em conta a diferença entre o valor de troca e o efetivo valor uso económico.
Tudo isto diz respeito a cadeias de valor: a complexa estrutura das atividades de valor acrescentado pelas quais um sapato de 100 dólares integra 20 dólares em recursos e custos de manufaturação e proporciona os restantes 80 dólares de valor uso em logística, design e notoriedade de consumo. Se os bens físicos não aparecem, todo o valor gerado em torno deles desaparece. A administração Trump clama que a desregulamentação e a baixa de impostos impulsionarão 86% da economia não alimentada por importações, como compensação, mas continua a não compreender porque é que os direitos aduaneiros e não a política fiscal ou a desregulamentação dominam as notícias. Mas os números, e em breve as prateleiras vazias, dirão outra coisa.”
Escreve quem sabe e neste caso cabe-me apenas registá-lo.

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