quinta-feira, 17 de abril de 2025

JOÃO CRAVINHO

João Cravinho (JC) foi seguramente um dos melhores de toda uma geração que ajudou a derrubar a ditadura e que foi construindo como pôde a nossa frágil democracia. Mas JC, ontem desaparecido aos 88 anos, era muito mais do que isso, um pensador, um líder e um homem bom. Ferro Rodrigues confessou ontem que ele terá sido quem mais influenciou a sua formação cívica e política e essa é uma afirmação que também adotaria no meu caso pessoal: os textos de JC sobre diversos temas económicos ou políticos, com destaque para matérias ligadas à política industrial e ao construtivismo societal, as suas posições políticas largamente assentes em princípios sólidos e bem ponderadas e fundamentadas, a sua direção do GEBEI desde antes do 25 de abril e a quantidade de quadros bem preparados que ali gerou, a sua atividade governativa (especialmente no primeiro governo de António Guterres, onde deixou conceptualizações e opções que ainda mantêm integral pertinência), a sua relevante passagem pelo BERD em Londres, a sua ação diversificada e o seu impulso às dinâmicas regionais (com a frustração final que a palavra não cumprida de António Costa lhe proporcionou após uma Comissão para a Descentralização que animara competentemente), o seu combate incessante à corrupção... Mais pessoalmente ainda, JC foi o ministro que, em 1996, me desafiou para a presidência da CCDR-N, cargo que só não ocupei – com a compreensão dele, o que sempre lhe agradeci – devido à intromissão de um outro convite para o Ministério da Economia e que por coincidência viria a ocupar vinte anos mais tarde, e JC é também alguém a quem ainda recorro nas minhas intervenções públicas, seja para as enformar e lhes dar maior substância seja para de algumas das suas frases mais marcantes retirar memes apropriados e sugestivos – ilustro-o abaixo com uma referência à sua curiosa caraterização da nossa política de subsidiação da economia através dos fundos europeus como uma espécie de “Portugal dos pequenitos”. Obrigado por tudo, caríssimo João!


(cartoon de Fernão Campos, http://ositiodosdesenhos.blogspot.pt)

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