quinta-feira, 5 de junho de 2025

DOIS BUSÍLIS E MEIO

 

A equipa ministerial de Luís Montenegro toma hoje posse e sobre ela as capas dos jornais são suficientemente eloquentes ao dizerem quase tudo: “tudo igual, menos duas novidades [Maria Lúcia Amaral e Gonçalo Matias], duas ‘remisturas’ [a Economia com a Coesão para Castro Almeida, que recebe a Economia de Pedro Reis, e a Cultura com a Juventude e Desporto para Margarida Balseiro Lopes, que recebe a Cultura da inenarrável figura que passou por aí chamada Dalila Rodrigues e o Desporto de Pedro Duarte, perdendo a Modernização para o novo ‘superministério’ de Gonçalo Matias] e uma promoção [Carlos Abreu Amorim, que era secretário de Estado de Pedro Duarte, de saída para uma candidatura à Câmara do Porto, e o substitui na função]”, escrevem uns; “Montenegro mantém núcleo duro e cria superministério [o de Gonçalo Matias]” ou “Montenegro muda quatro [as já mencionadas saídas de Pedro Reis, Dalila Rodrigues e Pedro Duarte, além de Margarida Blasco, que sai da Administração Interna para dar lugar a Maria Lúcia Amaral] e puxa pela reforma do Estado [ainda Gonçalo Matias]” e “Mudanças nas Polícias [Maria Lúcia Amaral a substituir Margarida Blasco] e PRR vai para a Economia [Castro Almeida a receber a Economia de Pedro Reis, nela fundindo os fundos estruturais]” ou, ainda, “Governo tem três novos ministros [Lúcia, Gonçalo e Amorim, bem entendido]”, escrevem outros.
 
Em tese, a entrada de Gonçalo Matias parece uma aposta correta, seja pela reputação alcançada pela personagem ou pela lógica estratégica de finalmente se mexer no Estado que estará subjacente, pese embora a qualidade dos políticos e da sua prática tenda a ser como a dos melões que só depois de abertos – uma escolha, portanto, em que Montenegro joga grande parte do seu capital político, procurando ser capaz de mostrar um ímpeto reformista até agora ausente; o mesmo se diga, apesar de com menos peso em termos de dramatismo político, para a entrada de uma jurista de grande competência e seriedade como é Maria Lúcia Amaral que não deixa, todavia, de ser um outro melão a abrir na dimensão mais estritamente pública e gestionária.
 
Mas a verdade é também que fica por salientar um dado eventualmente mais relevante do que qualquer outro: o da manutenção na Saúde de Ana Paula Martins, cuja gestão desajeitada já trouxe alguns dissabores ao primeiro-ministro e que tudo leva a crer que será o principal alvo da Oposição e o elo fraco da ação governativa, isto sem esquecer quanto o setor contém de profundamente essencial para o bem-estar dos portugueses e a credibilidade do Estado Social.

Dito isto sobre a composição de executivo, importa ainda deixar claro que o sucesso da legislatura que se inicia não depende tanto, em primeira linha, do Governo e da sua maior ou menor capacidade (designadamente reformista) como da capacidade efetiva que Montenegro revelar em termos de estratégia e tática políticas, ou seja, da forma como  souber resistir às tentações mais fáceis (jogos de bastidores e truques, cedências gratuitas e pequenas vinganças) de um relacionamento com o Chega e o PS cuja triangulação vai ter muito que se lhe diga para o respetivo vértice (PSD) – que não poderá ainda desvalorizar o campo em potencial crescendo da Iniciativa Liberal. E se é certo que Montenegro não é um estadista de alto coturno, não tenho por adquirido que não tenha a habilidade e a ronha necessárias para se sair airosamente deste desafio de sobrevivência que se lhe apresenta.

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