sexta-feira, 21 de novembro de 2025

E ASSIM VAI A AMÉRICA (DO NORTE)

 


(A capa da Economist costuma ter duas edições, em regra a edição que é publicada na Europa não é a mesma que se dirige ao resto do mundo. Neste caso, retenho a que vai ser publicada no mundo mais dinâmico, ou seja, fora da Europa. O simbolismo dessa capa com que abro este post é arrasador, sobretudo uns dias após o nosso maior símbolo de notoriedade no mundo, Ronaldo, se ter passeado pela Casa Branca como um dos representantes da limpeza de imagem do regime saudita, cumprindo aliás o contrato que tem com o Fundo Soberano saudita que o colocou no Al Nassr, mas descaindo-se com o seu fascínio pela personagem de Trump e o que ele representa. O texto que o editor-chefe Edward Carr escreve na revista é demolidor e bem revelador do contexto em que estamos todos mergulhados, pois verdadeiramente o que se passa nos EUA propaga-se por todo o mundo, como símbolo maior dos desmandos éticos e de comportamento instalados numa democracia agonizante.)

Este é dos tais textos dos quais vale a pena retirar um excerto, pequeno que seja, mas a pena do jornalista tem obviamente mais força do que toda a fúria que pudesse colocar neste teclado em que escrevo matinalmente, no meu dia de adaptação à vida inativa futura, a sexta-feira, a crónica de hoje.

Todas as vezes que visito Washington, DC, sinto que o chão se moveu. A minha perceção atual é que a América entrou no que esta semana estamos a designar de Era do Vale Tudo. Contornar as regras é uma boa opção se tivermos proteção política. Os indivíduos mais ricos estão sossegados sabendo que os seus rendimentos sujeitos a impostos não serão auditados. O Departamento de Justiça deixou cair as acusações de políticos por corrupção. A sua unidade de integridade pública foi esventrada. A Lei de Condutas de Corrupção Externas, uma peça pós Watergate de uma boa reforma da governação, foi na prática imobilizada. O Presidente Trump perdoou a um criminoso das moedas cripto que estava preso por lavagem de dinheiro e o filho de alguém que deu ao movimento político de Trump um milhão de dólares.

Os Presidentes refletem o mais saliente das respetivas eras e a Era do Vale Tudo não começou com Trump. Contudo, ele aumentou o ritmo do processo e removeu os constrangimentos que antes funcionavam. Os membros da sua família enriqueceram. Quando um tomador de decisões muda frequentemente a sua decisão isso torna proveitoso gastar muito dinheiro em seu favor. A nossa capa em grande parte do mundo questiona o que é que isso significa para a América.”

Fúria, revolta e alguma sensação de impotência face a esta Era do Vale Tudo. Gostaria de dominar melhor os recantos mais profundos da psiquiatria, para estudar as melhores formas de canalizar do ponto de vista político e cívico esta fúria e revolta.

 

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