Rendo-me à insanidade nacional que assume o primado do Benfica sobre tudo o mais que possa mexer na sociedade portuguesa. De um modo exaltado, totalitário e profundamente doentio, há que o sublinhar. A cobertura das eleições do clube foi em alguns canais mais exaustiva do que a das eleições legislativas ou autárquicas, até para que se soubesse quem vencia de entre as dezenas que votavam em Barcelona, em Berlim ou no Canadá. A qualidade dos debates entre os candidatos principais mostrou-se inexcedível e plena de uma classe que só cabe aos bons chefes de família. O recorde mundial de participação pôs o mundo de boca aberta, surpreso por nova façanha vinda de um pequeno país centralista sempre capaz de se superar como nenhum outro. Pelo meio, a visita do Bayer Leverkusen prometia a certeza de que os “encarnados” abandonariam a cauda da tabela classificativa da Champions. Rui Costa venceu e tomou posse às 7 horas da manhã, declarando esperar que os benfiquistas enchessem a Luz nessa tarde para assim comemorarem com golos a sua vitória e o início de uma nova fase do clube – marcaram dois, de facto, mas o problema foi terem sofrido outros tantos, com o senhor Gustavo Correia a ser acusado de disso ter sido o maior culpado por via de uma grande penalidade que assinalou devidamente (a meu ver e seguindo a opinião de Jorge Coroado: “Após embater no ventre de António Silva, a bola ressaltou para o braço esquerdo, fora do plano do corpo, que fez firme e travou a trajetória da bola (ficou à sua mercê). Penálti inequívoco.”) e o diretor do topo da hierarquia futebolística (Mário Branco) a dirigir-se amavelmente ao árbitro no final do jogo (do relatório do árbitro: “Informo ainda que o mesmo perseguiu a equipa de arbitragem durante o percurso da saída do relvado até ao corredor dos balneários, proferindo as seguintes palavras para mim: ‘Podes ter a certeza que eu vou-te rebentar todo, olha o que eu te digo! Vou-te rebentar a ti e ao João Bento [VAR]! Não vales merda nenhuma, nem tu nem ele! Palhaços do caralho, é uma vergonha, o que nos fizerem hoje aqui foi uma vergonha.’” Educadamente eloquente...
O treinador do Benfica, José Mourinho, corroborou em campo a atitude do seu diretor e deu-lhe a devida sequência em declarações violentas contra o “erro” (palavra que assumiu simpática para a gravidade dos factos) do árbitro e do VAR, não se isentando ainda de se atirar a alguns jogadores (que não mencionou nominalmente) e a assim evidenciar a sua moral em termos de liderança. Mas o que aqui quero recuperar é o histórico recente de tal personagem: ato 1, ainda técnico do Fenerbahçe, resignado à sua eliminação aos pés de um Benfica “mais forte, experiente, com mais soluções”; ato 2, recém-contratado pelo emblema da Luz, elogioso perante “um ótimo mercado e dotado de qualidade” e assegurando a sua adaptabilidade em relação ao que existe”; ato 3, hoje mesmo, reivindicativo por um reforço da equipa (dois alas, um lateral-esquerdo e um médio-centro) em janeiro. A coerência de quem vai deixando por demais visível quanto perdeu os poderes diferenciadores que já deteve e quanto os seus mind games já eram, disso se ressentindo amargamente...


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