quinta-feira, 20 de novembro de 2025

PAROLOGIA

 

Juro aos nossos queridos leitores que estava mesmo confortavelmente conformado com a breve alusão ao Web Summit que aqui fiz há dias sem quaisquer alardes. Mas a verdade é que Ricardo Araújo Pereira (RAP) me trocou as voltas no seu programa dominical da SIC (“Isto é Gozar com quem Trabalha”) quando o abriu em termos tão impagáveis que deixaram de autorizar a intenção que tinha de me conter. E mesmo não querendo desvalorizar que o certame é bastante concorrido em termos internacionais e integra momentos de inegável relevância (podendo até não ser tão deficitário para os cofres públicos como já foi e ainda não estou certo de que não seja), a verdade é que “não havia necessidade” de que os nossos governantes e outras autoridades (os atuais como já acontecera com a generalidade dos anteriores, Marcelo na linha da frente) exibissem níveis de ridículo tão obviamente lamentáveis – RAP referiu-se, hiperbolicamente, a “responsáveis políticos que continuam a reagir como se fossem chimpanzés a quem mostram um micro-ondas” e qualificou de “parolice” muitas dessas reações (incluindo a gigafábrica de inteligência artificial que alegadamente nos conduzirá à liderança mundial, nada menos, desse setor de ponta), tendo ainda o humorista levado ao programa a preciosa ajuda de um suposto especialista na matéria (que designou de “parolólogo”).

 

Manuel Castro Almeida (MCA), habitualmente discreto, também quis contribuir para o espetáculo e assim veio eleger D. Afonso Henriques como o nosso primeiro entrepreneur, o ideólogo de um bem-sucedido franchising que espalhou pelo país e deu lugar à criação da brand Portugal – sendo que, como ironizou RAP, se trata de “uma brand que, ao fim de 900 anos, continua a funcionar mal e dá prejuízo”. Mas a prestação de MCA esteve incomparavelmente longe daquela que foi protagonizada pela transbordante dupla formada pelo ministro Gonçalo Matias e pelo inefável autarca Carlos Moedas, como sinteticamente se evidencia mais abaixo no tocante ao primeiro. Termino este post de confessada vergonha alheia com um apontamento do convidado de RAP segundo o qual o insistente recurso à palavra futuro só pode ter uma explicação: a de que o futuro nós ainda não conseguimos estragar e, se estragarmos, já será o presente, ou seja, o futuro está sempre impecável. Valha-nos a Santíssima Trindade! 


(cartoon de Luís Afonso, “Bartoon”, https://www.publico.pt)

Sem comentários:

Enviar um comentário