(As eleições ontem realizadas nos EUA trazem alguma esperança de afirmação de alternativas à despudorada administração de Trump, ainda que os resultados vitoriosos de Democratas não garantam por si só que o desgoverno trumpiano esteja exaurido. Basta estar atento ao que virá por aí nos próximos dias e meses para perceber que Trump poderá estar disposto e preparado para viciar o jogo para que nele possa continuar. Mas há vitórias importantes e elas não se limitam à mais mediática eleição do mayor de Nova Iorque, com a novidade de um muçulmano com identificação socialista ter ganho com alguma clareza a corrida, 50,4% contra 41,6%. Na Virgínia um Democrata moderado superiorizou-se em 14 pontos percentuais o candidato Republicano, em New Jersey o candidato Democrata para Governador superiorizou-se em 13 pontos percentuais ao candidato Republicano e na Califórnia os Democratas conseguiram uma redistribuição de distritos eleitorais, contrariando assim os jogos na secretaria que Trump ensaiou noutros Estados, confirmando o o Governador da Califórnia, Gavin Newsom, como uma figura a ter em conta em próximas eleições Presidenciais. Os números da promissora terça-feira mostram que os Democratas estão alinhados com o descontentamento que as arbitrariedades de Trump têm despertado e com o desconcerto da governação Republicana em matéria económica.)
É óbvio que a pujança carismática de Mamdani impressiona e cativa, sendo evidente que se trata de alguém que não vira a cara à luta e obviamente que a perseguição que os grandes interesses económicos em torno de Trump irão fazer-lhe a vida negra. Mas o seu discurso de proclamação de vitória não foi feito com punhos de renda em relação à Presidência de Trump e como foi importante ouvi-lo clamar que Nova Iorque foi e sempre será uma Cidade de imigrantes e que um imigrante é hoje Mayor.
Vale a pena reter a interpretação central que BradfordDeLong faz dos resultados de ontem: “O votante mediano assumiu o remorso pelo modelo de “chaos monkey” (o caos dos macacos é a mais sibilina descrição que conheço da governação Trump) para o qual a crueldade é a característica principal, talvez com o sentimento de que o “shutdown” do governo mostra a incompetência Republicana e também com a evidência de que Trump não conseguiu segurar os Republicanos em New Jersey e na Virgínia, parece-me ser a maneira certa de compreender os resultados da eleição de terça-feira”.
As vitórias Democratas de ontem, que se estenderam também à Geórgia, mostram muito provavelmente que o conhecimento efetivo do Trump 2.0 por parte do eleitor mediano é hoje mais compreensivo do que o subjacente à grande vitória de Trump nas Presidenciais. Esta interpretação é corroborada pelo facto do estilo de Mamdani em Nova Iorque não ter sido o que predominou nas restantes eleições. Foram Democratas relativamente moderados que ganharam com margens substanciais face aos candidatos Republicanos. Nem sempre os indicadores de popularidade em baixa dos Presidentes americanos em exercício se traduzem em desaires eleitorais. Mas neste caso a conformidade entre a desaprovação pela governação de Trump e estes resultados é elevada, sugerindo que a fanfarronice económica do Presidente começa a não iludir os eleitores, mesmo os que lhe asseguraram a vitória em toda a linha.
Claro que umas eleições Presidenciais suscitam reações de outra natureza que o tipo de eleições de ontem não conseguem gerar. E a escolha da personalidade Democrata que vai assumir o futuro combate não será fácil, além de não poder ser ignorado o contra-ataque da manada Trumpiana.
Mas que os ventos de ontem são esperançosos é algo que não pode ser ignorado.
Se os Democratas conseguirão como um todo navegar esse vento de bonança é uma questão a que os democratas de todo o mundo estarão atentos.

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