Ontem iniciaram-se os debates presidenciais, que serão 28 e se estenderão quase até ao Natal. Sendo um relativo suplício assistir a tais exibições, maioritariamente de um fingimento e mau gosto que é confundido por muitos por manifestações incontornáveis da política em ação em todo o seu esplendor, a verdade é que desta vez eles poderão ser decisivos para eleitores que, como é o meu caso, não conseguem vislumbrar um sentido de voto que razoavelmente os conforte. No caso da noite passada, a minha perceção foi a de uma desnecessária confirmação da desonestidade intelectual de André Ventura – sempre preferindo a interrupção e o súbito salto de tema ou a acusação gratuita e tonitruante quando a braços com a manifesta incapacidade e vontade que apresenta no tocante a esmiuçar qualquer matéria, a explicar mentiras e incoerências ou a referir-se a soluções reais para os problemas em causa – e a de um relativamente surpreendente António José Seguro (AJS) que, pela sua tranquilidade e firmeza perante a insuportável agressividade do adversário, se mostrou bem mais ao nível de uma candidatura presidencial do que lhe vaticinava; ademais, AJS foi também eficaz na forma como chegou a embaraçar Ventura e como se posicionou a propósito de alguns erros primários que cometera (do não ser de esquerda ao rebuço com que a dada altura tratou o apoio do PS, p.e.) e da obrigatória correção que se impunha. Pela minha parte, fiquei com alguma água na boca quanto aos enfrentamentos de AJS com Marques Mendes, Gouveia e Melo e Cotrim de Figueiredo, até pela exigência que os mesmos lhe imporão em termos de uma finura e flexibilidade analítica que consigam não contrariar a rigidez e consistência de valores que pretende proclamar. Outro ponto, diverso, é o dos comentários e notas televisivas, os quais ultrapassam os limites do aceitável em alguns casos e ilustram, a meu ver, uma prática jornalística completamente desfasada do que se poderia esperar de homens e mulheres experientes e profissionalmente competentes – as avaliações em torno da prestação de Ventura foram verdadeiramente miseráveis por parte de gente respeitável como Paulo Baldaia (“Ventura eficaz no modo como impediu António José Seguro de dizer ao que vinha”), Ramos de Almeida (“Ventura a não dar licença para que António José Seguro conseguisse falar”) ou Rui Calafate (“Ventura foi muito mais eficaz em fidelizar do que Seguro a tentar conquistar”), confundindo cada um à sua maneira eficácia com ruído, má criação ou inviabilização de troca de pontos de vista. Não seria tempo de estes senhores despirem os seus intrépidos fatos, feitos de uma assumida pseudoneutralidade por dever de ofício, e passarem a recorrer a critérios que os não desqualifiquem pelo serviço danoso que acabam por prestar à democracia portuguesa?

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