(As casas revestidas a capoto oferecem no inverno uma excelente proteção térmica, mas no verão tendem a manter no interior temperaturas que podem não coincidir durante alguns dias com a descida de temperatura no exterior. Quando esta manhã bem cedo percebi que uma bruma providencial arrefecera bastante o início do dia, dei graças ao nevoeiro, porque tinham sido demasiados dias de temperaturas elevadas e, na minha já bela idade, é sempre o corpo que paga. Continuamos estranhamente avessos a preocupações com os dados que nos chegam dos registos térmicos mais recentes. Cada vez mais, os últimos meses batem recordes de temperatura e de ondas de calor e nem as estimativas de excesso de mortes chegam para assustar o pessoal. O último junho esteve nessa categoria de batimento de recordes, com duas ondas de calor das fortes, a última das quais a fazer a transição para o mês de julho, que também se apresentou inicialmente com propensão para fustigar os corpos com o calor excessivo. O negacionismo climático continua insensível à devastação e nem acontecimentos terríveis como os que as gentes do Texas nos EUA têm vivido por estes dias chegam para demover os interesses fósseis na sua cruzada trumpiana contra tudo o que era política ambiental da administração Biden e a favor da mais despudorada proteção à continuidade da era suicida dos combustíveis fósseis. Mas, metaforicamente, bruma significa também nebulosidade e as evidências que nos chegam é de que a política nacional e internacional está repleta de exemplos de máxima nebulosidade, logo de indeterminação e tateamento de soluções que não há maneira de chegarem e de se imporem aos problemas. Daí a também metafórica oposição bendita/maldita bruma.)
Na política nacional, é confrangedora a natureza macia com que a comunicação social, incluindo a televisão, tem tratado o governo de Montenegro relativamente à sua total inépcia na mitigação dos problemas da habitação e da saúde. Comparando a cobertura dos ecos da inépcia da governação atual na habitação e na saúde com o que os governos do PS tiveram de enfrentar, percebe-se que a tentação que grassa de agradar ao dono na comunicação social já é demasiada para ser ignorada. Na habitação, enquanto a mui liberal Comissão Europeia se atreveu finalmente a falar de controlo de rendas, as ideias de Pinto Luz para a habitação sucumbem todos os dias à evidência clamorosa da subida de valores de venda e de rendas por todo o lado, já não apenas nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. A percentagem de procura de habitação (para compra e arrendamento) que é insolvente face aos valores de mercado não para de aumentar. A lucratividade dos investimentos em construção-habitação (e o lobby agradece entusiasmado) continua superatractiva, continuando a distorcer a alocação de recursos em Portugal a favor dos não transacionáveis. Os proprietários de solo urbano não ocupado continuam a beneficiar de externalidades positivas pelo aumento do valor de construção de tudo que está construído nas imediações (o valor do solo não para de aumentar) e dão-se mesmo ao luxo de gerar externalidades negativas aos que valorizaram o solo com construção. Muitas vezes sem qualquer preocupação de manter os terrenos vazios em condições decentes de limpeza e arranjo, prejudicam a imagem urbana dos espaços.
A resistência ideológica do governo de Montenegro em matéria de habitação é alarmante. Insistem no “mais mercado” para resolver ou mitigar um problema que de raiz é uma falha de mercado.
As desventuras da cara de pau e amargurada Ana Paula Martins na saúde não param também de aumentar. As tão apregoadas e reiteradas propostas de solução anunciadas pela ministra, que deve ter Montenegro preso por uma trela qualquer, não têm produzido qualquer efeito. Ninguém aconselhou Ana Paula Martins a assumir essa posição de que tudo iria mudar com um clique de teimosia e de apelo à saúde privada. O governo tem toda a legitimidade para repor em condições legais as parcerias público-privadas que entender na gestão dos hospitais públicos. Não é isso que está em causa. O que está em causa é proporcionar condições de mitigação dos problemas em algumas urgências, no INEM, na falta de médicos que as administrações hospitalares continuam a reportar, no número de pessoas sem médico de família, etc.
Os médicos mais jovens continuam a dar sinais de que há pessoas para a mudança. Queria aqui registar a vitória estrondosa nas eleições regionais Norte para a Ordem dos Médicos, em que médicos jovens se empenharam no “dono disto tudo” Eurico Castro Alves. Foi uma vitória histórica e uma derrota clamorosa dos interesses instalados por estas bandas.
Entretanto, para acentuar a bruma que oculta a real dimensão dos problemas que interessam aos portugueses, o governo navega nos mares da imigração e da nacionalidade como se essas fossem as preocupações fundamentais. Maldita bruma.
A nível internacional, temos também bruma que chegue e as evidências disponíveis são tantas que transcendem o âmbito deste post.
Quedar-me-ia pela bruma da corrupção em Espanha que deixa o “Zé sempre em pé” Pedro Sánchez preso já não por arames, mas por coisas ainda mais precárias, gerando uma situação inclassificável do ponto de vista de encontrar uma saída possível.
Mas a bruma que também paira sobre o futuro das instituições europeias com os seus Cavalos de Troia de estimação a bombarem na sua desfaçatez e ousadia de ameaças é também matéria para um post autónomo.
Fico-me com o registo de que em situações de nebulosidade, a qualidade dos instrumentos de navegação é crucial. A tecnologia de navegação marítima tem resolvido a questão a contento. Já na navegação política está tudo por inventar.

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