(Há quem entenda, e já o defendi neste espaço, que as próximas eleições autárquicas podem, em certas circunstâncias, ser o dique que o Partido Socialista necessita para suster a penosa descida de votação que as eleições de maio passado representaram para o partido. Se há também quem diga que o diabo está nos pormenores, também aqui as tais circunstâncias a que me refiro podem ser a morte do artista. As autárquicas podem de facto representar esse dique de contenção, mas importaria assegurar que todos os autarcas que se candidatam pelo partido assumissem um compromisso, mínimo que seja, em torno de princípios de atuação a nível local que marquem a diferença e impressionem, por essa via, o eleitorado. Porque a luta vai ser dura e a AD irá aproveitar todas as oportunidades para fazer chouriços de vitória. As decisões já conhecidas por exemplo de apoiar Isaltino Morais em Oeiras depois das partidas que o dito cujo tem pregado ao PSD, veja-se o seu apoio ao Almirante com um discurso de desvalorização do papel dos partidos e também o apoio em Setúbal à antiga autarca da CDU, mostram que vai valer tudo e tirar olhos também para clamar vitória, afundar mais o PS e disputar a liderança da Associação Nacional de Municípios. Pelo lado do PS não há evidência de que José Luís Carneiro pretenda impor um conjunto de princípios à utilização da bandeira do PS para protagonizar candidaturas em nome do partido. Receio que a contagem de espingardas eleitorais se sobreponha a uma qualquer defesa de princípios que as candidaturas do PS deveriam respeitar. E, como já referi aqui, o PS tem alguns autarcas que se vão candidatar com o nome do partido atrás que envergonham quem defende esses valores.)
Era uma crónica praticamente anunciada que o autarca de Loures iria, mais tarde ou mais cedo, borrar a pintura, pois a sua agenda está tão viciada pela cópia do Chega que à mínima oportunidade iria destilar esse veneno da cópia para agradar a eleitores sensíveis ao discurso de Ventura e seus apaniguados.
A triste demolição de barracas promovida para a comunicação social se deliciar com imagens de frustração e desespero dos mais desfavorecidos e mais pobres, com a chancela de uma Câmara PS que declara estar a cumprir a lei, operação entretanto suspensa por uma providência cautelar, envergonha qualquer um que defenda os princípios constitucionais e a Lei de Bases da Habitação. Gostaria que tivesse sido José Luís Carneiro a pronunciar-se, mas foi preciso a coragem e lucidez política de Helena Roseta para vir a terreiro processar judicialmente a autarquia de Loures à luz da Constituição e da lei de Bases da Habitação para nos recordar que ainda há gente no PS que preze valores e que, decididamente, se recusa a seguir uma agenda de seguidismo da truculência do Chega. Palavras simples, mas duras foram as que Helena Roseta trouxe, relembrando inclusivamente aos mais desmemoriados que o PS tem responsabilidades históricas na arquitetura das políticas da habitação que o segundo governo de António Costa lamentavelmente esqueceu.
A existência de barracas é tão só a evidência de que há uma procura de habitação insolvente que não consegue resolver o seu problema, por mais precária que seja a tipologia de alojamento que pretenda ocupar. Demolir sem alternativas de realojamento, além de uma crueldade que não se recomenda, é não ter a mínima ideia que seja como resolver o problema no concelho em causa. O autarca de Loures é dos tais que se tira pela pinta. De Socialista o homem terá muito pouco e certamente assentou por ali arraiais em troca de alguns favores que o guindaram ao estrelato local. Não será exemplo único e creio que, infelizmente, a progressão do tempo eleitoral vai revelá-los à luz do dia.
A conclusão é óbvia. Com autarcas destes lá se vai a ideia de que as autárquicas poderão ser o dique de contenção que o partido necessita. Por notícias de violência doméstica e familiar, o PS retirou confiança política ao autarca de Vizela, único concelho a norte em que o PS foi a força política mais votada nas eleições de maio passado. Com o espetáculo degradante desta demolição, também se justificaria a retirada de confiança política. Misturar a imagem do partido com atentados desta natureza anuncia-nos o pior. Há princípios que se sobrepõem a qualquer contagem de votos.
Nota de correção:
No último parágrafo, substituiu-se autarcas por autárquicas. Emenda realizada a 16.07.2025.

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