quarta-feira, 23 de julho de 2025

AO SABOR DOS MESTRES DA TÁTICA

Alguma preguiça estival, mesclada com compromissos indeclináveis que me têm tirado o tempo necessário para prosseguir animação deste blogue, justificam uma presença pessoal menos regular neste mês de julho. Nesta conformidade, faço hoje uso de uma crónica de Pedro Norton (PN) no “Público” de Segunda-Feira (“Em vez de alternância, rotativismo?”) para a recomendar e, de algum modo, enfatizar quanto nela me revejo. Não há conflitos de interesses a declarar porque não conheço de todo o gestor em causa, embora tenha acompanhado a componente mais visível da sua carreira e normalmente o vá lendo na comunicação social (primeiro sem grande entusiasmo e, mais recentemente, com bastante agrado). Assim sendo, não é apenas a preguiça que me move mas também, e até principalmente, a exemplaridade da essência do texto em termos de leitura sintética do que foi a evolução da realidade política portuguesa desde os tempos de Costa até à caraterização dos atualmente dirigidos pelo autodesignado Luís.

 

A minha sugestão vai no sentido de uma passagem completa do leitor pela dita crónica, mas quero ainda assim sublinhar alguns tópicos mais na mouche:

 

·  Sobre o legado de Costa: “Infelizmente, sabemo-lo agora, o suave milagre de Costa não se fez sem custos tão silenciosos como profundos. A política de cativações de Centeno foi tanto quadratura do círculo como foi a corporização genial de uma antiestratégia. Cortou-se sem critério, pela calada, sem debate nem opções de fundo. O Estado foi-se descapitalizando, os serviços públicos definhando. Reformas estruturais nem vê-las. A competitividade da economia foi-se adiando, não raras vezes para satisfazer meros caprichos de compagnons de route em quem Costa nunca verdadeiramente confiou, mas a quem aceitou, em nome da manutenção no poder, ir pagando tributo. A maioria engordou, fez-se complacente e recheou-se de casos.
·  Sobre a gestão de Montenegro: “Infelizmente, tardam em chegar os sinais de que Montenegro está a saber interpretar o que o tempo presente lhe reclama. Na frente estritamente política, os primeiríssimos indicadores desta legislatura não são tanto os de quem ousa trilhar um caminho corajosamente original, vincando diferenças claras quer à esquerda, quer à direita, mas parecem ser, ao invés, os de uma cedência oportunista ao ar dos tempos. Ora, sem essa coragem dificilmente se agarra a oportunidade de colocar o PSD no lugar de charneira do regime com que o PS sonhou. Pelo contrário. Se o PS insuflou o monstro do populismo negando a existência de problemas, o PSD arrisca-se a reforçá-lo copiando-lhe a retórica e copiando-lhe as soluções.”
·   E ainda sobre Montenegro: “No plano governativo, o que mais angustia, uma vez mais, é o odor a tacticismo. Dou generosamente de barato o ano perdido a antecipar umas eleições que Pedro Nuno Santos entregou de bandeja, mas que Montenegro evidentemente desejou. Mas, clarificada a situação política, reforçada a legitimidade e a autoridade do executivo, aberto um capítulo de razoável governabilidade, esperar-se-ia um alargar de horizontes, o afirmar de uma visão, o articular de uma estratégia. Ao invés, no momento solene que é sempre o de debater a nação, o Governo dá sinais de que não consegue enxergar um palmo além das autárquicas de outubro e serve ao país a esmola de uma redução marginal de IRS, um apoio ilusório (porque pontual) aos pensionistas e até o recauchutamento de uma medida do Bloco para piscar o olho aos professores.”
·   Sobre o fundo da questão: “Não escondo que me angustia a perspetiva de que a um mestre da tática possa simplesmente suceder outro. Não escondo que me inquieta a possibilidade de os horizontes da política e da governação se não alarguem. Não escondo que me entristece a possibilidade de continuar a adiar o país. Não escondo, no fundo, que o que verdadeiramente me horroriza é a hipótese de, em vez de verdadeira alternância estratégica, nos estar a ser servido um mero rotativismo tático.”

 

Aqui fica. Sem mais comentários, que entendo desnecessários na medida em que PN explicita muito bem a sua angústia, a qual é igualmente a minha e a de tantos dos portugueses que ainda não se desligaram do coletivo e do forjar dos seus destinos. A seu tempo, noutras oportunidades, cá voltaremos a este tão nobre quão triste tema.

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