sexta-feira, 4 de julho de 2025

MISCELÂNEA DE ÂMBITO NACIONAL

 


(O mês de julho entrou pela canícula adentro, enquanto uma concentração de trabalho de avaliação de políticas públicas, tantas propostas para concursos públicos são esgotantes e, por vezes, frustrantes, me tem retirado a mais ínfima vontade de regressar a este espaço com alguma coisa que se justifique. A resistência ao esforço de trabalho e também ao calor já não é a mesma de outros tempos e, como diria o outro, o blogue é que paga. É neste contexto muito específico que surge esta miscelânea de notas, dispersas, talvez erráticas, que substituem o tempo inexistente para uma reflexão mais estruturada sobre um determinado tema. Talvez não fique para memória futura, mas sem esta alternativa o tempo de afastamento do blogue seria bem mais dilatado.)

Neste interregno, a sempre imprevisível Vida com todo o seu sortilégio, vertiginoso, de choques positivos e negativos, trouxe-nos a morte trágica de dois homens genuínos, irmãos, bem identificados com as suas raízes. Intérprete, dos bons, do universo mundializado do futebol, o Diogo Jota era um personagem notável de uma consistência acima de qualquer construção mediática artificial e a imagem do Liverpool projetou-o para uma notoriedade que aparentemente é contraditória com a sua personalidade e postura de modéstia e coerência. A canção WE NEVER WALK ALONE que nos estarrece e encanta quando a ouvimos cantar em Anfield enquadra por estes dias a tristeza que toda a gente de bem sentiu, de Liverpool a Gondomar, tocando todos os cantos em que a seleção portuguesa ou o Liverpool são venerados, quando foi confrontado com aquela trágica notícia.

Confesso que também fiquei aturdido com a notícia e que demorei algum tempo a recuperar do choque.

Por estes dias, percebeu-se que o governo de Montenegro se aventurou por domínios como o da restrição das condições de atribuição da nacionalidade portuguesa que suscitam sérias dúvidas constitucionais e um dos inspiradores da Constituição, o Professor Jorge Miranda arrasou plenamente a deriva de Montenegro e Leitão Amaro. O problema é sobretudo grave porque essa ousadia é apenas o resultado da tentativa de comprar alguns votos ao Chega, praticando o continuado erro de pensar que alguma vez a cópia suplantará o original. O tom está dado e dificilmente a orquestra da governação tocará noutro tom. O que é uma limitação para os Ministros que ousarem ensaiar uma estratégia mais reformista. Não são muitos, mas existem.

À esquerda, Augusto Santos Silva depois de encher artificialmente o balão da expectativa presidencial, desceu à terra, considerando que não seria capaz de protagonizar uma candidatura não divisiva, mas reservou-se implicitamente a ideia de poder apoiar uma candidatura unitária de esquerda, que alguns julgam ser Sampaio da Nóvoa. Não tenho qualquer informação se existe alguma dinâmica de formação de uma candidatura dessa natureza, mas que pelo que conheço de Sampaio da Nóvoa, não me parece que ele possa estar interessado em protagonizar algo que, em meu entender, agravaria a situação já problemática em que o partido socialista se encontra depois do ato eleitoral do passado mês de maio.

Noutro plano, o Douro está em polvorosa e a tragédia económica dos pequenos produtores paira há muitos anos sobre a Região, perante a grosseira indiferença dos governos, de Montenegro, mas também dos governos de António Costa, sobretudo pelo erro de casting que a escolha do(a)s ministro(a)s da Agricultura tem representado. O disparate contraditório do atual Ministro, continuando a permitir a distribuição de subsídios à plantação de novas vinhas com excedentes descomunais de produção e preços de miséria pagos à produção é bem a imagem do desconchavo a que o Douro chegou enquanto objeto de política pública.

Espanta-me também que os produtores e exportadores mais representativos, o chamado Grupo dos 5, continuem impávidos e serenos face à tragédia dos pequenos produtores que paira sobre a região e ao indisfarçável excedente de produção para o mercado nacional e capacidade de exportação.

A situação tem tudo para acabar mal, num quadro em que a existência de vencedores equivalerá a encontrar uma agulha num palheiro.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário