quinta-feira, 17 de julho de 2025

EXIGÊNCIA... OU FALTA DELA

(Riki Blanco, https://elpais.com) 

No dia em que se debateu no Parlamento o “Estado da Nação”, dou comigo a pensar no completo disparate em que estamos envolvidos, não sendo atenuante para o efeito fazermos apelo desculpabilizante aos desmandos quotidianos a que vamos assistindo em proveniência de um mundo completamente ensandecido.

Montenegro armado em estadista e a distribuir jogo à esquerda e à direita sem critério de valores, a imigração transformada no “eixo do mal” de um país que não pode viver sem ela, o Governo da Reforma do Estado à espera que o proclamado brilho de Gonçalo Matias lhe permita lembrar-se de algo de aceitável para trazer à luz do dia, o maior partido da Oposição entretido a lançar cascas de banana ao primeiro-ministro e esquecido de que tem um prometido governo-sombra para revelar aos portugueses, o outro maior partido da Oposição perdido entre autarcas securitários e alianças radicais, os liberais a teimarem à outrance em liberalizações sem sentido, os “livres” a prosseguirem esforços titânicos em torno de objetivos impossíveis de compatibilização, a restante Esquerda a chorar a desdita da irrelevância que o seu irredutível dogmatismo suscitou, Marcelo e Aguiar covardemente amedrontados perante Ventura, os candidatos presidenciais a agarrarem-se ao que passa para não ficarem calados, os candidatos autárquicos a falarem literalmente para o boneco (com o PSD a ultrapassar quaisquer limites aceitáveis ao pagar a traidores em Oeiras ou a viabilizar Moedas fora de circulação). Sem esquecer as referências ao distributivismo governamental que nos há de levar a mais dívidas e problemas bicudos, a medieval situação que se vive na Saúde e na Habitação ou a nova geração de jobs for the boys, a somar à centralidade dos dossiês associados às contratações e às eleições do Benfica entrecruzados pela tragédia que Gyökeres trouxe aos portugueses à varanda vestidos de verde.
 
Empatia já sabíamos que era bem lamentavelmente escasso nestas nossas paragens, mas é claramente a absoluta falta de exigência que mais me choca e aflige.

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