(Gostaria de me ter enganado, mas não, isso não aconteceu. Antecipei que o dia de aniversário não iria ser para recordar, sobretudo pelo início da noite. Antes tinha acontecido a perda de um campeonato, por manifesta falta de categoria e essa mede-se nos momentos-chave, ou seja, quando é necessário ganhar e isso não acontece. Mas pior do que isso as minhas piores expectativas quanto ao ato eleitoral também se confirmaram, mesmo com o inconveniente de refletir apenas com sondagens, várias, à boca das urnas e não com resultados oficiais de contaegm efetiva de votos. À hora em que escrevo, a discussão fundamental é sobre se o PS irá ter a humilhação histórica de ficar atrás do Chega ou se ganha por pouco o segundo lugar. Isso diz tudo e vai definir a noite eleitoral. De resto, fica a convicção do meu erro de interpretação, que já tinha antecipado, de que a questão ética de conflito de interesses em torno da SPINUNVIVA não iria ter nenhuma repercussão eleitoral. Assim aconteceu. O país está cada vez mais videirinho e gosta de videirinhos. De tudo isto, o que é mais preocupante é a confirmação da subida do Chega. Não terá sido por acaso que o partido de Ventura não divulgou publicamente as suas listas. Imagina-se que, se com 50 a qualidade foi a que se revelou, com este resultado a situação vai agravar-se e novos tesourinhos irão emergir. Repito, para o tipo de reflexão que gostaria de fazer, é indiferente que o PS fique em segundo ou em terceiro. A humilhação está lá, límpida e cristalina e dificilmente as pessoas que votam PS com alguma convicção não exigirão mudança de rumo. A bolha em torno de Pedro Nuno Santos só pode ser rebentada se o partido não pretender caminhar para a irrelevância política.)
Mas as minhas reflexões neste blogue foram premonitórias não apenas quando rebaixei as minhas próprias expectativas quanto aos resultados desta noite. A minha premonição foi mais longe, quando em tempos não muito longínquos antecipei que poderia ser necessária a formação de uma ampla frente democrática (de esquerda e direita) para barrar o caminho ao crescimento das forças antissistema como o Chega se apresenta. Não interessa agora discutir se os refluxos esofágicos do Ventura tiveram algum peso neste resultado do Chega, dada a propensão portuguesa para gostar dos que se vitimizam e se há artista nessa performance Ventura é o máximo. O que interessa é refletir que uma força antissistema e antidemocrática está aí com um peso irrecusável e isso muda radicalmente todo o nosso pensamento político. Por isso, penso que a bolha dos que envolvem e rodeiam PNS tem de ser rebentada e chamadas à razão democrática as pessoas que a reproduzem.
Quanto ao resto, antecipa-se que a AD não terá maioria absoluta nem com uma ajuda da IL de Rui Rocha, que tudo indica ficará aquém do que ela própria antecipou como possível. Os resultados diferenciados da CDU e do Bloco como um todo face ao que se desenha para o Livre de Rui Tavares demonstram claramente que a velha esquerda está defunta, por razões diversas no caso da CDU e do Bloco de Esquerda. O regresso à política de Fazenda, Louçã e Rosas foi um desastre completo face aos resultados alcançados e estou curioso como é que a Mariana Mortágua vai interpretar o seu próprio fracasso absoluto. Ainda hoje discutia com alguém próximo a falta de perspetiva que o Bloco revelou ao abandonar temas como os custos e malefícios da financeirização da economia, a relevância das velhas políticas do anti-trust e da regulação forte.
A grande interrogação futura estará em saber se o videirinho Montenegro, revigorado nas suas convicções pelos resultados de hoje, irá resistir ao “não é não” face aos resultados do Chega.
Com todo este turbilhão na minha cabeça e ainda, por convicção, sem ainda ter escutado as reflexões do comentariado político instalado nas televisões, interrogo-me se Pedro Nuno Santos terá elasticidade suficiente para compreender que o cenário mudou radicalmente. Imagino que não terá essa flexibilidade suficiente. Não é apenas uma questão de empatia. Só espero que o PS compreenda essa realidade e que gente com alguma VOZ ainda no partido tire as consequências de tudo isto e prepare um futuro com outros personagens. As perspetivas de não o fazer serão em meu entender ainda mais negras do que as incidências desta horrível noite de aniversário.

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