sexta-feira, 30 de maio de 2025

E AÍ ESTÁ O ALMIRANTE …

 


(A crónica anunciada consumou-se e do mundo dos submarinos e da vacinação COVID emerge um candidato à Presidência da República que mostra bem como vivemos tempos tenebrosos. Quando se perfila a hipótese de Gouveia e Melo poder ganhar inclusivamente à primeira volta está tudo dito e a densidade de Marques Mendes é reduzida para servir de dique a uma candidatura sensaborona, do senso comum, pretensamente apolítica e tocando a música do ceguinho Unir Portugal. À esquerda reina a mais completa desorientação. O PS precisa de ser reconstruído e não é tempo fértil para organizar uma candidatura. Ainda há dias, alguém com pensamento e consistência, Correia de Campos, defendia que não há razões de contexto pertinentes para que o PS se envolva numa candidatura. Até agora, António José Seguro perfilou-se entre o universo socialista, mas o Costismo e outras tendências parecem rejeitar essa hipótese, admitindo-se por isso que estivessem dispostos a suportar o lobbyismo de António Vitorino que, experiente como ninguém, vai aguentando o tabu. Em tempos de sacrifício e reconstrução talvez Carlos César devesse chegar-se à frente para protagonizar uma candidatura mais unitária, mas tudo indica que não esteja para aí virado. Claro que é ainda muito cedo para perceber de que modo a entrada em cena, com outra exposição, do Almirante vai ser gerida pela sua entourage, onde se destaca o sempre inenarrável Isaltino Morais. O relacionamento com o Chega que, tudo o indica, não apresentará candidato, vai ser curioso de ver, pois não acredito que o seu apoio possa ser descartado. Portugal prepara-se para uma esquizofrénica sucessão de Presidentes das selfies e incontinência verbal para uma pose majestática e pronta para o ralhete de quem está convencido que possui poderes reforçados de liderança.)

A pose da apresentação da candidatura do Almirante, até aquele casaco azul-marinho a parecer mais uma farda do que um blazer normal, é um verdadeiro postal da presidência que poderemos ter. O homem imagina-se numa campanha de vacinação permanente e sempre disposto a meter na linha os mais duros e renitentes burocratas. Lá foi dizendo que as democracias estão em perigo e face à tremenda polarização que se adivinha no Parlamento exige a união de todos para melhor enfrentar os desafios. E, para nos habituarmos à deceção permanente, uma categoria relevante para enquadrar a possível intervenção cívica nos tempos mais próximos, as sondagens dizem-nos que os Portugueses estarão dispostos a alinhar com esta postura.

O português político começa a diferenciar-se por apoiar algo e o seu contrário. No seio do PS, o unanimismo em torno de Pedro Nuno Santos parece caminhar para outros unanimismos. Quanto à Presidência, muita gente vibrou com a exposição permanente de Marcelo, mas essa mesma gente parece agora disposta a votar numa cara de pau e que para uma selfie exigirá provavelmente a continência.

Dou comigo a pensar que terei provavelmente de preparar cuidadosamente uma espécie de travessia do deserto, pois tudo indica que os tempos futuros não serão a nível interno estimulantes.

É verdade que a nível externo haverá temas de sobra para neles mergulhar com profundidade, mas a degradação moral do mundo, transformada na mais insensível indiferença, tenderá a reduzir os estímulos a coisa pouca.

Hibernar? Talvez seja uma opção.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário