(É cada vez mais relevante sistematizar evidência sobre os resultados alcançados pela errática política económica de Trump, contrapondo informação séria às fanfarronices habituais de um narcisista que compra sem qualquer hesitação as suas câmaras de eco favoritas. Em jeito de réplica ao intragável MAGA, contrapus a designação de MAWA, o que não é propriamente o resultado de um fanhoso tipo Gilberto Lalande (Herman José no seu melhor) a pronunciar a palavra de ordem de Trump. Making America Worse Again, MAWA, parece-me uma boa sigla para dar conta dos efeitos da alarvidade na economia. É, pois, uma nova secção que organizo neste blogue, subordinada à convicção, espero não me enganar, de que os efeitos económicos da alarvidade de Trump serão determinantes para convencer os americanos de boa-fé que prosseguir por esse trilho os levará a um abismo, pelo menos relativo. Felizmente, a evidência credível abunda e começo em termos oficiais por recorrer ao insuperável Adam Tooze que mobiliza, por sua vez, informação de um think-tank que vale a pena seguir com atenção – a GAVEKAL RESEARCH.)
São cinco aspetos que Tooze destaca:
“Os movimentos monetários das duas últimas sessões conduzem às seguintes conclusões:
• A ideia de que os direitos aduaneiros e as guerras comerciais levariam a um dólar mais forte está hoje plenamente desacreditada. Desde a tomada de posse de Trump, o dólar americano está hoje depreciado face a qualquer outra moeda representativa – em alguns casos significativamente depreciado.
• A pressão sobre as Moedas asiáticas está em alta. São boas notícias para os consumidores locais. São também boas notícias para os preços dos ativos em territórios com moedas ligadas (regimes de crawling peg) – como Hong-Kong, Emiratos Árabes Unidos e Arábia saudita – que não terão agora outra escolha senão criar moeda agressivamente para manter as suas moedas em baixa. À medida que a criação de moeda acelere, o destino das novas notas impressas serão o imobiliário local ou ativos locais. É o caso dos investidores de Hong-Kong que tiveram uma reação quase Pavloviana,respondendo às intervenções para manter o dólar de Hong Kong depreciado comprando ativos.
• Moedas asiáticas mais fortes são más notícias para os Títulos do Tesouro americanos e outros ativos americanos. Quem quer conservar títulos numa moeda em queda?
• O papel dos bancos centrais em mercados emergentes está por estes dias facilitado. Imaginem-se no lugar do banco central do Brasil, África do Sul ou da Indonésia Subitamente, o ambiente global caracteriza-se por (i) fraqueza do dólar; (ii) preços de energia baixos; (iii) preços de produtos alimentares baixos e (iv) estímulos económicos acionados pela China. Numa palavra, para os bancos centrais dos mercados emergentes o Natal chegou mais cedo. Isso significa que os bancos centrais serão capazes de abrir a torneira monetária mais agressivamente do que o esperado, com menor receio de gerar a fraqueza das respetivas moedas ou inflação. São grandes notícias para os bancos locais e outros intermediários financeiros.” Fonte: Research Gavekal.
Em suma, a primeira contra evidência, diria mesmo contradição, das promessas do MAGA é o facto da hegemonia do dólar ter sido questionada e posta em risco. O dólar depreciou-se, não o contrário e muitos investidores deixaram de ter nele confiança como moeda refúgio. E não apenas pelos movimentos da moeda. Também pelo facto de a política económica americana não garantir a estabilidade das operações. A ameaça sobre a independência do Banco Central americano complicou ainda mais as coisas.
Tudo isto pode ser revertido, dir-me-ão os mais céticos. Certamente que sim. Mas os danos estão lá e não podem ser apagados como nos modelos de equilíbrio geral ou parcial em que o tempo não tem espessura, é apenas um tempo lógico para as variáveis económicas se ajustarem. O que se passa durante os ajustamentos não deixa memória. Não é este o caso. Sobretudo com o estilo de personalidade e comportamento de Trump ao leme dos acontecimentos. A reversão de decisões por parte de Trump fará sempre parte do ambiente errático que o caracteriza. E isso significa que os danos são irreversíveis.

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