terça-feira, 13 de maio de 2025

DESCONSIDERAÇÃO MONTENEGRISTA

Refiro-me hoje a uma das poucas coisas gratificantes que me têm acontecido ao longo deste período de campanha e pré-campanha eleitoral: a leitura crítica da atuação do primeiro-ministro por parte de algumas das pessoas que me merecem maior estima e consideração em função do seu currículo de vida pessoal e profissional, com o significativo elemento adicional de a maioria das mesmas ser mais próxima (ou até parte integrante) de opções à direita do espetro político. De facto, e pese embora a irritação que Luís Montenegro (LM) exibe sempre que se lhe fala da “Spinumviva”, as inquestionáveis evidências apresentam-se todas contra ele e as suas incompreensíveis escolhas no tocante ao tratamento do assunto – as análises nesse sentido multiplicam-se pelos espaços públicos, mas uma boa síntese das essências consta da última crónica de Susana Peralta no “Público” de Sexta-Feira (“Autocrítica à força e consultoria à sombra”); e se não existem reconhecíveis ilegalidades cometidas nem motivos identificáveis que possam justificar qualquer tipo de suspeição em relação às práticas de LM, sempre ficará no ar, ainda que para memória futura, uma vertente de prevalência do insondável e enigmático que o próprio não quis a todo o custo enfrentar.

 

Para não maçar os nossos fiéis leitores, escuso-me de elaborar muito mais sobre a matéria e os seus inúmeros lados contraditórios (da transmissão das participações sociais da empresa para a mulher com ele casada em comunhão de adquiridos às manobras de diversão em torno da longa lista de atividades contemplada no objeto social da empresa, às negativas em torno da divulgação do nome dos seus clientes e à sua ulterior publicação a conta-gotas ou ao calculismo do timing em torno da resposta dada à Entidade da Transparência sobre os ditos clientes) e fico-me por duas simples recordatórias. A primeira, para voltar a trazer ao de cima a argumentação de LM quando foi chamado a responder/esclarecer a sua situação no Parlamento (designadamente, a 21 de fevereiro) – “o objetivo central do projeto era o investimento vinícola e turístico da quinta que temos no Douro” e ”chamar a isto uma imobiliária é manifestamente despropositado, é manifestamente um tiro ao lado”, ou seja, estávamos perante uma história de família relacionada com uma herança dos pais e uma forma de envolvimento dos filhos. A segunda, para citar as suas palavras de então (“Sabem o meu património e a sua origem. Sabem os meus rendimentos. Sabem onde moro. A partir de hoje até sabem qual é a minha estratégia pessoal e familiar. A partir de hoje, só respondo a quem for tão transparente como eu, ou seja, que seja capaz de fazer tudo aquilo que eu fiz.”) e sugerir que as confrontem com os autênticos ziguezagues que se lhe foram seguindo.

 

Concluo: neste Domingo, um país cujos cidadãos não apreciassem ser literalmente toureados pelo seu candidato favorito, eventualmente por ser o mais capaz ou aquele que detém melhores condições e programa para o exercício da função primo-ministerial, recusaria certamente a LM uma chancela consoante os termos que ele implicitamente reclama; só que, com uma larga franja de cidadãos destituídos de amor próprio e adormecidos pelo embaciamento que afeta a realidade que os cerca, tudo indica que aquele recém-autoproclamado “farol” possa vir a alcançar o seu principal objetivo de continuar por São Bento, provavelmente atrelado ao intragável purismo de um Rui Rocha forçado a ver para lá da fraca luz proveniente da ideologia primária que tão garbosamente ostenta.

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