sexta-feira, 2 de maio de 2025

POR TERRAS DA ALSÁCIA

 


(Já há muito tempo que nos tinha prometido uma curta digressão por Estrasburgo e pelas terras da Alsácia. Uma curta missão de trabalho que já vai há muito no tempo em Estrasburgo tinha-me deixado água na boca por conhecer um pouco melhor a Cidade. E aí esteve a oportunidade para uma saída de curta duração, voando para Frankfurt, daí uma visita ligeira à muito aprazível Heidelberg, depois com dois dias em Estrasburgo, passagem por Colmar, Riquewihr, Mulhouse e saída por Zurique. A Alsácia sempre me despertou a curiosidade por se tratar de uma Região cuja identidade tem sido disputada por franceses e alemães, disputando-se historicamente numa sequência de guerras, anexações e coisas do género. É daqueles casos em que a identidade está lá, mas em que a realidade política é a coisa menos importante, mesmo agora que desde a Segunda Guerra Mundial a França ocupou o terreno. Mas continuo a pressentir que lá no fundo os alsacianos olham com desdém o centralismo parisiense, pois não é por isso que se deixam de sentir alsacianos e isso temos de convir que pende mais para o lado alemão do que para o francês. Se Heidelberg é um pequeno bijou que mais tarde ou mais cedo estará a braços com o problema das invasões turísticas, sobretudo num dia como o de 1 de maio com temperaturas de canícula estival, com as populações locais, ainda especialmente jovens, creio que devido à atração da secular universidade, a gozar os raios de sol nas margens do Neckar, é com a aproximação a Estrasburgo que se sente o peso da memória alsaciana. O município de Estrasburgo é por estes tempos um oásis político em terrenos claramente da direita e da extrema-direita, com uma liderança dos Verdes. E é de facto uma Cidade especialmente aprazível, fortemente animada em torno dos seus canais, que não são propriamente do Reno, que dominou a história económica da Cidade, mas do ILL, creio que um afluente do Reno, mas com um excelente diálogo entre o Estrasburgo histórico que ainda resiste e surpreende e o Estrasburgo mais moderno.)

A força da identidade alsaciana manifesta-se a todo o momento, desprezando por um lado o centralismo da elite parisiense e sobretudo a sua propensão para cercear a sua identidade nos pormenores mais ínfimos e, por outro, reafirmando em permanência a sua diferença.

Foi para dar uma resposta positiva a estes problemas de não alinhamento entre a ideia de nacionalidade administrativa e de identidade geográfica e cultural que, numa instituição radicada em Estrasburgo e hoje infelizmente pouco falada, o Conselho da Europa se trabalhou arduamente para levar o transfronteiriço a um grau de autonomia e de dignidade. Esse propósito fazia então parte de uma ideia de Europa, que procurava arduamente encontrar um quadro jurídico que não conduzisse ao bloqueio dos Estados e desse esperanças a esses processos identitários como os da Alsácia, elevando-os acima dos conflitos e lógicas administrativos.

Em tempos de Europa dos nacionalismos e com a multiplicação do que eu designo de Cavalos de Troia da extrema-direita antidemocrática, a assunção plena destas identidades como a da Alsácia está fortemente penalizada, já que não é a ideia de nação que a vai resgatar e satisfazer.

São reflexões complementares do lado mais lúdico desta escapadela.

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