terça-feira, 20 de maio de 2025

E QUE VENHA O JOSÉ LUÍS!

 


(O PS vive tempos difíceis, tanto mais ameaçadores quanto mais estivermos atentos à evolução regressiva dos restantes partidos socialistas europeus, caracterizada pelo menos por longos anos de irrelevância política, senão mesmo de desaparecimento em alguns casos. Tendo em conta esse contexto, a gestão do colapso do 18 de maio de 2025 terá de ser uma operação do mais fino bisturi político possível, envolvendo se possível todas as cabeças pensantes do Partido, mas também com a preocupação de rejuvenescimento de ideias. E quando falo de rejuvenescimento não estou a pensar em algumas picaretas falantes ainda de tenra idade que pontuavam na entourage de Pedro Nuno Santos e que ainda se pavoneiam pelas televisões. De juventude de ideias pouco apresentam e isso foi visível nos últimos anos. A falta de densidade de gente como a presumida especialista em habitação do segundo governo de António Costa, onde chegou a Ministra da Habitação, ilustra bem o que estou a sugerir e essa ascensão também foi produto da ascensão do próprio Pedro Nuno Santos. O debate no exterior do Partido está demasiado extremado para meu gosto. De um lado, estão os que pensam que nesta conjuntura viabilizar governos e orçamentos de Montenegro equivalerá a um suicídio político do PS. De certo modo, essa foi a inspiração da desinspirada justificação de derrota de PNS na noite eleitoral. Do outro, estão os que sem pestanejar, advogam que o partido se faça de morto e apoie sem reflexão crítica a viabilização dos governos de Montenegro. Creio que o contexto de sobrevivência do PS não é tão extremado como este extremar de posições o admite e sobretudo não é possível esquecer a força autárquica do PS que é preciso defender e erguer diques ao mais que provável cavalgar do Chega para capitalizar em vitórias autárquicas o tufão que operou num número não despiciendo de municípios.)

O que é preciso assegurar é que a preparação das autárquicas aconteça com o início firme de um processo de reconstrução, quebrando por forças exógenas (novas ideias e novos protagonistas, ou regresso de alguns) as bolhas em que a inépcia do 2ºGoverno de António Costa se deixou cair e que a entourage de Pedro Nuno Santos cultivou talvez com outros rostos, mas tão afastada da realidade social como a da deriva do tal 2º governo de Costa.

Há bem pouco tempo o Partido teve uma luta interna pela sucessão a Costa, um combate frontal, mas relativamente digno (aliás mais polido do que aquele que marcou lá atrás o confronto entre António Costa e António José Seguro) em que Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro se confrontaram. Por isso, sou dos que pensa que não haverá tempo para uma disputa mais alargada com outros nomes possíveis e nessas condições a figura de José Luís Carneiro é mais útil ao partido do que uma permanência de PNS a preparar a sucessão. Se o tom da noite eleitoral de PNS reflete efetivamente o seu posicionamento atual, então é melhor afastar-se da contenda e retomar a sua economia familiar.

Não estamos em tempos de candidatos empolgantes para revisitar o eleitorado. Sabemos que José Luís Carneiro não é essa personalidade de emulação empolgante que o pessoal gosta. Mas parece-me ser, e tem cultura e experiência para isso, para gerir o fino equilíbrio em que o PS vai estar com a mais que provável perda da liderança da oposição para o Chega.

Claro que o Partido vai ter de afinar a sua sensibilidade e leitura política para compreender como evoluirá o relacionamento da AD com a oposição do Chega, não sabendo bem ainda qual vai a ser postura do partido de Ventura na nova Assembleia da República. A direita do PSD, o CDS, a Iniciativa Liberal e os trogloditas do Chega vão começar a sonhar com uma revisão constitucional dada a alteração do paradigma de quem representa os 2/3 no hemiciclo e só isso vai exigir nervos de aço e muito provavelmente alguma capacidade negocial com o PSD para tentar mitigar, senão afastar o espectro dessa revisão. Mas negociar implica cedências políticas e o PS terá de discutir com densidade a nível interno para definir uma política de linhas vermelhas nessa matéria. É nessa perspetiva que considero que, face a este problema do espectro de uma revisão constitucional, a viabilização com abstenção do programa de governo e do primeiro ou dois primeiros orçamentos são amendoins em termos de importância relativa.

Embora não tenha qualquer proximidade direta com José Luís Carneiro, apenas proximidade a colegas que com ele trabalharam de forma mais direta no âmbito da Federação do Porto e que valoram o seu bom senso e cultura, parece-me que, nas condições atuais de grande dificuldade histórica em que o PS se encontra, penso que é a pessoa mais indicada para gerir os equilíbrios no partido neste período e a sua experiência de autarca não será de desprezar na preparação das autárquicas.

Já há muito tempo, desde os tempos do 1º governo de António Costa, que não sou convidado para participar em reflexões políticas. Recentemente, tal como tive oportunidade de o documentar neste blogue, fui a Lousada participar numa sessão de reflexão em que Pedro Nuno Santos participou na parte final, mas isso não teve significado para aí além – resposta ao convite de Eduardo Pinheiro que já foi autarca em Matosinhos e do qual guardo boas impressões e a oportunidade de estar numa sessão com a Amiga Elisa Ferreira que foi por si só uma razão para estar com gosto em Lousada.

Por isso, com toda a probabilidade a minha possível participação numa reconstrução de ideias que potencie o ressurgimento do PS será feita a partir deste espaço, o que vale o que vale, mas é concretizado com desprendimento e sinceridade, longe de querer pertencer a qualquer bolha. Ambientes abertos o mais possível, porque tendência para me encafuar à frente de uma mesa de trabalho já eu tenho e muita.

 

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