(Submerso em dois relatórios de avaliação, falta-me tempo de pesquisa suficiente para análises mais enriquecidas sobre este triste entorno nacional e internacional, até porque falhou também a redução dos leões à sua insignificância tipo Varandas, neste sábado de frustração futebolística, agravado pela queda no abismo do Boavista. Por isso, a crónica de indignação de José Pacheco Pereira sobre a mortandade e violência gratuita de Israel em Gaza e também na Cijordânia calou fundo na minha própria leitura dos jornais de fim de semana. Cada vez mais me convenço que está em curso um genocídio, o extermínio premeditado da população palestina, o que é talvez uma das mais horrorosas ironias da história, porque é perpetrada por uma fação de um povo que sofreu na pele e na alma a tragédia do Holocausto. Tem por isso todo o sentido a ideia de JPP de interpelar as forças políticas portuguesas, sobretudo as que aspiram ao exercício da governação, sobre o que pensam acerca deste genocídio por parte de Israel, mais propriamente de Nethanyau pronto para as negociatas da imaginária Riviera de Gaza. Há muitas décadas alguns sociólogos e outros pensadores falavam da barbárie como matriz das sociedades modernas, mas tudo o que se escrevia parece desatualizado face à revelação da crueldade perpetrada em Gaza sobre palestinos indefesos, simplesmente à procura de terra para construir um simples abrigo. Não se trata aqui de recuperar toda uma literatura que talvez tenha começado a germinar no Socialismo e Barbárie que Rosa Luxemburgo ainda nas prisões alemãs escreveu, mas apenas de registar um apelo justo contra a incompreensão do mundo civilizado e, no caso português, da completa insensibilidade do debate eleitoral em torno desta questão.)
A crónica de Pacheco Pereira é dura, mas oportuna quando refere que não conhece outra indiferença similar à que o mundo reserva à violência em Gaza que não seja “o encolher de ombros de todos os que sabiam que o Holocausto estava em curso”, considerando o conhecido argumento do anti-semitismo como um verdadeiro insulto para justificar os crimes da presença israelita em Gaza. Daí a interpelação curta e grossa: “(…) chegando ao Governo, estão dispostos a reconhecer o Estado palestiniano, estão dispostos a impor sanções a Israel e a usar todos os meios ao dispor de um Estado da União Europeia para punir os criminosos? E, para além disso, o que é que eles acham do que se está a passar com as crueldades de Israel em Gaza?”
Precisamos de palavras duras e frontais, não de salamaleques para impressionar o eleitor. Porque adormecidas que estão, as forças políticas interpeladas contribuem para que a indiferença se instale entre a própria população portuguesa, imaginando-se numa periferia dourada e imune à barbárie.
Na linha de discutir as coisas que interessam, trago para este espaço uma ideia que me tem surgido nos últimos tempos, focada na fragilidade de algumas conquistas sociais adquiridas em grande medida com o apoio dos Fundos Europeus e ainda há quem se interrogue sobre o seu alcance.
São três as variáveis ou indicadores que escolho para alertar para esta situação.
A primeira é a dificuldade notória em manter a trajetória de redução dos indicadores de abandono e insucesso escolar observados nos últimos tempos, ultrapassando primeiro a meta comunitária dos 10% e caminhando depois para valores em torno dos 5 e 6%, que representou um importante desempenho do sistema educativo e de formação. Ora, os anos mais recentes mostram uma ligeira subida desse indicador, que pode ser meramente conjuntural, veremos, mas que nos alerta para a fragilidade dessa importante conquista social.
A segunda foi notícia hoje pela manhã e diz respeito à evidência de que as mortes de crianças com menos de 1 ano de idade tiveram um suspeito aumento na última observação. Consagrada que foi a grande aquisição dos nossos baixíssimos valores da mortalidade infantil como padrão verdadeiramente europeu e que nos deveria orgulhar sobre a valia do nosso SNS (hoje foi-me agendada a vacina contra o tétano que tinha inadvertidamente deixado passar o prazo de validade, num funcionamento 5 estrelas da unidade de saúde local) aí temos esta notícia a mostrar que as conquistas são frágeis e que não podemos baixar a guarda.
Hoje também pelas notícias da manhã, ficamos a saber que os jovens portugueses são 5 vezes mais propensos a valorizar a extrema-direita do que as jovens no mesmo escalão etário. É algo mais preocupante e que tem que ver com o abastardamento que a menor qualificação e desempenho escolar dos rapazes quando confrontado com o das raparigas tem vindo a representar e que é visível a olho nu para quem está minimamente atento ao social urbano.
Evoluímos muito é verdade em muitos indicadores sociais. Mas o patamar em que estamos é frágil. E isso deveria atravessar o debate político em Portugal.

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