A campanha eleitoral lá vai prosseguindo o seu convencionado caminho, sem nada que especialmente a recomende ou que minimamente entusiasme um simples mortal. Pior: a pobreza do debate político e das propostas em presença chega a ser assustadora, quando não se apresenta enganosa, boçal ou desonesta. Um período revelador de um País autenticamente desgovernado e em estado que roça o de uma grave doença coletiva.
Ricardo Araújo Pereira, no seu programa diário, disso nos vai dando o respetivo testemunho, chamando ainda a atenção para detalhes deliciosos que a limitada atenção da maioria de nós não deteta (como a incrível similaridade das palavras que fazem os hinos dos partidos ou variegados tipos de afirmações ou posturas inconcebíveis ou rocambolescas). Numa lógica mais atinada, António Barreto (AB) escreveu ontem no “Público” (“Mais uma oportunidade perdida”) um parágrafo igualmente esclarecedor sobre o que carateriza os principais “protagonistas das eleições atuais”, assim: “Os protagonistas das eleições atuais são quase todos bem-talhados e adequados aos tempos que correm. E característicos das eleições que temos. O Chega, uma fabulosa energia de claque de futebol feita de fanatismo e de reflexos condicionados. O PSD (ou a AD), uma eficaz e sub-reptícia máquina de influências, o mais capaz de confundir clientes com eleitores. O PS, um sindicato desnorteado e sem destino, que parece ter negado o futuro, quando apenas queria esquecer o passado. A IL, de uma pureza impecável, a caminho da beatitude. O PCP, nervoso e tenaz, à procura de não desaparecer da história. O Bloco, já sem graça, com o seu ar de superioridade das avenidas, de mãos nos bolsos e dogma bem oleado. O Livre, um neófito envelhecido, aparentemente imprescindível. O PAN, que quanto mais conhece os animais, mais gosta da política.” – com a exceção de pecar largamente por defeito no tocante ao descritivo do Chega, AB não deixa margem de manobra a qualquer pretensão negacionista relativamente à confusão entre clientes e eleitores que define o PSD, ao desnorte sem futuro que o PS evidencia, à impecável beatitude da IL e por aí adiante; verdadeiramente na mouche!
Começa, entretanto, a última semana de campanha rumo ao previsível veredito do dia 18, mas o foco irá certamente estar no título nacional de futebol a atribuir no dia de reflexão, isto não obstante a incauta “juventude leonina” já ter celebrado uma espécie de voto antecipado após o empate da Luz. Quanto ao que vai pelo mundo, isso parece importar bastante pouco e não indiciar, como indicia com clareza, o muito que ainda vamos ser tocados por tão trágicas involuções. E assim por cá vamos cantando e rindo, meus caros e desafortunados companheiros de percurso, insensíveis aos escolhos e agruras de que o quotidiano nos não liberta e inconscientemente indiferentes ao som tremendo e ao das tubas clangor sem fim...

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