segunda-feira, 5 de maio de 2025

É URGENTE PENSAR AS QUESTÕES DE FUNDO

Arlindo Oliveira (AO) é um notável cientista português, doutorado em Engenharia Eletrónica e de Computadores por Berkeley, professor catedrático do Instituto Superior Técnico e presidente do INESC, que também publica regularmente algumas obras de divulgação na sua área de especialidade (como “Ciência, Tecnologia e Sociedade”, “A Inteligência Artificial Generativa” e “Inteligência Artificial”) e é subscritor de uma coluna no “Público”. Leio com gosto os seus artigos, frequentemente inspiradores para um leigo como eu em relação às matérias que domina, e recomendo aos nossos leitores que igualmente o façam.

 

Mas não é essa dimensão que aqui me traz à vossa estimada atenção. Trata-se de relevar um apontamento bem mais prosaico que a sua crónica de hoje (“Admirável Mundo Novo”) me suscitou, referenciado ao contexto político-eleitoral que atravessamos. Cito-o sem mais delongas: “Todos gostaríamos que a discussão política que enche os meios de comunicação neste período pré-eleitoral se focasse nas grandes opções políticas de fundo. Devemos investir mais no sistema público de saúde ou, pelo contrário, dar aos cidadãos mais escolhas para poderem usar os sistemas privados? Devemos restringir a imigração que vai inevitavelmente causar problemas sociais ou, pelo contrário, devemos estimulá-la por ser um importante mecanismo de estabilização da economia e da segurança social? Devemos aumentar e tornar ainda mais progressivos os impostos como mecanismo de redistribuição ou, pelo contrário, devemos reduzi-los para estimularmos a criação de riqueza? Devemos investir nas ligações ferroviárias ao interior e entre as grandes cidades portuguesas e espanholas ou, pelo contrário, devemos investir em outras formas de transporte possibilitadas pelas novas tecnologias? Devemos desenvolver Lisboa como um grande centro de tráfego aéreo entre a Europa e o Sul Global ou, pelo contrário, reduzir o fluxo de turistas que entram na cidade? Devemos investir nas novas tecnologias para posicionar Portugal como um polo de atração para profissionais da área ou, pelo contrário, desenvolver áreas onde o país é mais competitivo, como o turismo ou a logística? Devemos reforçar o investimento em energias renováveis ou, pelo contrário, desinvestir dessa área e reconhecer que as prioridades mudaram? Devemos investir na defesa ou manter a baixa prioridade que o tema até agora mereceu?”.

 

Mero bom-senso, pensarão alguns a propósito do que foi escrito por AO e acima reproduzo. O que não deixa de ser verdadeiro, no essencial – faltarão talvez algumas interrogações complementares sobre questões adicionais e determinantes como, designadamente, as que gravitam em torno da habitação, da educação e da ciência, mas o certo é que AO põe o dedo na ferida de um País cada vez mais enredado e entretido a passar ao lado do que o deveria coletivamente (pre)ocupar. Sugiro a todos que pensem nisso e assim avaliem quanto desperdício estamos a gerar com o ruído e o lixo a que consagramos partes cada vez mais importantes do nosso tempo – e não, tal não significa necessariamente que diminuam as nossas inquietações quanto à esfera cidadã/política e às respetivas exigências do foro ético...


(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)

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