quinta-feira, 15 de maio de 2025

MAS QUE RAIO DE CAMPANHA!

 

(Só nos faltava mais esta. O refluxo esofágico do stressado Ventura a dominar os canais de notícias, grupos de irrefletidos ciganos a ajudar à vitimização do mesmo, a sua experimentação do SNA, no Hospital de Faro, no Centro de Saúde de Odemira, no Hospital do Litoral Alentejano de Santiago de Cacém e finalmente no de Setúbal, movimentação de seguranças e ambulâncias do INEM, tudo isto com sondagens contraditórias, umas a fazer regressar o empate técnico e outras a afastá-lo e a sugerir que a IL pode ser a grande surpresa da noite. Pior do que tudo isto deve ser difícil e dói-me o coração por assistir a previsões eleitorais com base na intensidade das arruadas. Dizem-me que a arruada de Santa Catarina no Porto encheu o PS de esperança (Ó vã esperança dos indicadores fáceis), mas a AD poderá seguramente invocar o mesmo critério e glosar o slogan de Sá Carneiro (que se deve revolver onde quer que esteja) de uma maioria maior. Todos estes factos se vão acotovelando numa semana que, ao contrário das outras, parece não chegar mais ao fim, na esperança de que pelo menos num dia a cacofonia desapareça. E é nisto que o famigerado dia de reflexão se transformou. Na esperança de um dia com menor ruído.)

Talvez estejamos a ser injustos com alguns jornais que, nas suas edições, como o Público e o Diário de Notícias, mais o primeiro, se esforçam por informar o público leitor, proporcionando-lhes uma leitura comparada sobre o que pensam e propõem os partidos sobre alguns temas considerados relevantes para a sociedade portuguesa. Mas no meio dessa informação existe muita palha, coexistindo soluções que poderiam ser cruciais com outras que são meros embelezamentos para ocultar a vacuidade do pensamento e das propostas.

É uma crónica amarga, pois continuo a não ver solução que se preze para o bicudo problema da habitação em Portugal, porque se ignora o problema da crescente procura de habitação insolvente face às condições que o mercado e a escassa oferta pública proporcionam. Assim como não visualizo qualquer perspetiva de combate ao plano inclinado em que o SNS se encontra, com ideologia a mais e crescente dificuldade de compreender que a situação de onde se parte já não permite uma comparação aberta entre o público e o privado. Como também não vejo ninguém preocupado com a fragilidade precária de algumas das nossas mais relevantes conquistas sociais (falei há dias dos alertas sobre a mortalidade infantil). Ou como ninguém se preocupa com o estado de incapacidade galopante de não assumir riscos de grande parte da administração pública portuguesa, gerindo a inércia, vendo complacentemente as coisas a passar e também as oportunidades para uma verdadeira modernização das estruturas públicas.

No meio de uma campanha tão ensandecida, o Almirante resolveu dar conta de si e dizer estou aqui, mas retirando o entusiasmo do Isaltino ninguém efetivamente lhe prestou grande atenção, mas dando para perceber que o Homem tem uma sensibilidade política que permite antecipar o pior.

Carregar mais um ano no lombo, passar de novo pela mais que provável perda de um campeonato, ainda por cima vencido pelos lagartos e aguentar uma noite eleitoral que pode ser para esquecer é tudo junto um risco grande para este cronista que está de mau humor. É um facto que tudo pode ser revertido quase que por magia: mudar a perspetiva e reconhecer que mais um ano no lombo é sinal de que ainda ando por cá em boas condições; esperar que o Minho, com o Guimarães em Alvalade e o Braga na Pedreira ajudem ao milagre e que a noite eleitoral não seja tão aterradora, tudo pode acontecer talvez no reino dos sonhos.

Creio que a realidade será outra.

Mas continuaremos a estar cá para a semana.

 

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