(O funeral de uma antiga funcionária dos meus sogros, a saudosa Rosa, levou-me hoje de manhã bem cedo a terras de Lousada, mais propriamente na antiga freguesia de Lustosa, hoje União das freguesias de Lustosa e Barrosas, praticamente contígua ao concelho de Vizela, o tal que de repente adquiriu notoriedade pela vitória do PS nas eleições de 18 de maio, pela impetuosidade marital do seu Presidente da Câmara a quem o PS de Pedro Nuno Santos retirou a confiança política e pela mais que provável não subida de divisão para a primeira Liga do Vizela, amanhã em confronto final com o Aves SAD (derrota na primeira volta do play off por 3-0) . Não pode deixar de registar o carinho daquela comunidade para com uma das suas nativas, a igreja Matriz praticamente cheia e um sentimento de companhia ainda apreciável, visível na generosidade e sinceridade da sua aproximação aos filhos e respetiva descendência. Somos padrinhos de casamento da filha Marta e isso tem permitido que acompanhe com alguma reflexão aquela comunidade em transição acelerada, desde que o surto de industrialização, sobretudo têxtil vestuário e também têxteis lar e calçado, ali entrou e revolucionou o emprego local, com precariedade e muita, mas introduzindo uma melhoria significativa no rendimento das famílias. Quando reflito na evolução social da família da Rosa e da Marta chego rapidamente à conclusão de que a democracia trouxe boas coisas aquele lugar e aquela família. A qualidade da infraestruturação básica é notória e o elevador social daquela família é flagrante. Os avós (a Rosa e o marido) eram respetivamente empregada doméstica e trabalhador de obras públicas, com a escolaridade primária, a Marta e o marido são operários industriais com avanço na escolaridade secundária e a sua filha mais velha é hoje advogada, licenciada em Direito com distinção pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto. Um exemplo claro e bem-sucedido de melhoria na escala social, não como uma simples dádiva, mas com muito trabalho e sacrifício à mistura.)
Consultei os registos eleitorais e verifiquei que, com vitória da AD, esta e o PS têm uma maioria confortável, com o Chega a incomodar um pouco, mas ainda não tão ameaçador como noutros cantos do país. Interrogo-me se o exemplo daquela família é um caso isolado e concluo que não. Aliás, bastava estar atento ao universo de residentes e amigos da Família que encheram praticamente a Igreja Matriz para compreender que, nem sempre bem-sucedida, a industrialização naquelas terras alterou profundamente as condições de vida e longe vão os tempos de pobreza que lá atrás no dealbar da democracia dominava aquelas terras. A evidência da melhoria das condições de vida material é óbvia e podemos dizer com grande aproximação que essa melhoria converge com o ciclo da democracia. O papel da autoconstrução e da construção de pequena escala tem permitido mitigar o problema habitacional que é trágico noutras localidades, mas que ali parece relativamente contido.
Já no fim da manhã quando tomava café e provava as delícias doceiras de Vizela, em frente a um grande cartaz do tal Presidente Vítor Hugo, nada meigo para a sua mulher (shame on you), que dominava a praça, interroguei-me se a percentagem da população que tem a perceção das virtudes da democracia para as suas vidas pessoais, por mais trabalhosas que elas sejam, será ou não muito elevada. Arriscaria dizer que o ressentimento ainda anda por aquelas paragens bastante contido.
Depois, graças à por vezes não legível mas expressiva rede de autoestradas do Sócrates, coloquei-me em relativo pouco tempo em Seixas para iniciar o fim de semana de lazer. O homem era diabólico nas suas intenções, mas a verdade é que nos deixou um panorama de rede viária de velocidade rápida, que deve ser hoje olhada como um ponto de partida favorável para combinar com outros fatores de desenvolvimento.
Bom fim de semana a todos.
Nota complementar:
Junto a minha pena ao meu colega de blogue para salientar quão tocante e rigorosa foi a última aula do Professor e Amigo Paulo Pinho, como só Ele sabe fazer. Sempre sem levantar a voz, já que a consistência do seu pensamento disso não necessita, o Paulo ofereceu à Cidade e à sua gente pensante (estavam lá candidatos à Câmara Municipal) uma leitura como ele advertiu contra a corrente do que vai sendo feito. Mas um contra a corrente fundamentado e fruto de muito trabalho dele e da sua equipa no CITTA. Quer estiver de boa-fé e vier por bem para resolver os problemas da Cidade e da sua integração metropolitana tem nesta última um valioso capital de reflexão para operacionalizar com políticas consequentes, que o Paulo aliás identificou de modo pertinente.










