segunda-feira, 30 de abril de 2012

EUROPA ILUSTRADA 2012 (IV)

Com a devida vénia aos autores e aos jornais de publicação, aqui fica uma síntese ilustrada do Abril europeu que hoje é encerrado:

1. em continuada desordem e afirmação nacionalista [Dave Brown em “The Independent”, Londres (http://www.independent.co.uk) e Ingram Pinn em “Financial Times”, Londres (http://www.ft.com)],

 

2. sob o domínio do dogma da austeridade e seus efeitos [Tom Toles em “The New York Times” (http://global.nytimes.com) – “looking for the omelette” –, Tom Janssen em “Trouw”, Amsterdão (http://www.trouw.nl) e o sérvio Vlahovic em http://www.presseurop.eu],



 
 
3. essencialmente focado no duo hispano-italiano [Niels Bojesen em “Linkiesta”  (http://www.linkiesta.it), Forges em “El País”, Madrid (http://www.elpais.com) e Bernardo Erlich em “El País”, Madrid (http://www.elpais.com)],




4. muito atento ao primeiro “round” das simbólicas eleições francesas [Peter Schrank em “Handelszeitung”, Zurique (http://www.handelszeitung.ch)],


5. e crescentemente evidenciando sinais de inquietação em relação ao futuro de uma qualquer ordem democrática com estabilidade social (Vasquez em http://www.presseurop.eu)...


A NOSSA IMAGEM



Volto a trazer à colação o discurso presidencial deste 25 de Abril. Que alguns encararam muito criticamente, quer por comparação com a dureza do ano precedente (em que notoriamente quis empurrar Sócrates para fora do poder), quer pela lateralização dos efeitos sociais da crise profunda em que vivemos, quer ainda por quase mais parecer um presidente do AICEP a falar. Mas que outros avaliaram positivamente pelos seus aparentes objetivos de promover uma trégua na sociedade portuguesa e de contrariar os efeitos nefastos em termos de credibilidade que a intervenção externa necessariamente acarretou.

A questão para que aqui pretendo chamar a atenção centra-se precisamente neste último ponto: é que, ao mesmo tempo que Cavaco vai descobrindo a importância de valorizar a imagem do País (mesmo quando esquece que Saramago existiu!), o seu governo encarrega-se de a ir subestimando ao mais alto nível e nos mais escutados areópagos mediáticos. Seja o primeiro-ministro – veja-se o infeliz artigo que fez publicar no “Financial Times” do passado dia 17 e onde escrevia nomeadamente: “por demasiados anos, Portugal prosseguiu um caminho irresponsável, de políticas e estruturas que falharam na promoção do crescimento, que nos levaram à situação em que nos encontramos hoje” – seja o ministro das Finanças – vejam-se as suas declarações ao “New York Times” do dia 23, marcadas por uma postura ideológica risivelmente vaidosa (“há algumas limitações às intuições de Keynes”) e onde dizia nomeadamente que a sua política económica é a abordagem adequada para “eliminar os enormes desequilíbrios que flagelaram o país durantes anos” –, os dois devidamente irmanados nesse projeto de “salvação nacional” que tão bem sabem explicar fora do País e em língua inglesa.

Um país irresponsável, um país falhado, um país flagelado. Mas, ainda assim, um país inigualável a fazer sapatos e até chapéus…

A DESORIENTAÇÃO DE RAJOY



Excelente artigo de Soledad Gallego-Diáz no suplemento de domingo do El País.
Mariano Rajoy constitui hoje o efeito colateral mais representativo de toda a embrulhada europeia em que estamos metidos. A Presidência do Governo espanhol, com uma maioria sólida, um PS ainda anestesiado pela violência do choque eleitoral e interno e com quatro anos à sua frente sem o espectro de uma eleição, é talvez dos governantes europeus mais acossados e inseguros e não necessariamente por razões que lhe possam ser assacadas individualmente.
Com previsões de que a taxa de desemprego possa atingir 27%, é de facto inacreditável como a Europa no seu todo olha para este número como se não representasse uma situação de exceção, a exigir obviamente medidas de exceção. Mas há dois números recentes que explicitam bem a gravidade excecional do desequilíbrio no mercado de trabalho: de 2007 a 2012, (i) o número de pessoas que desistiu de procurar trabalho passou de 155300 para 411800 e (ii) o número de trabalhadores a tempo parcial que o são porque não encontraram trabalho a tempo inteiro passou de 725300 a 1416600. É, de facto, necessário ser portador de uma miopia ideológica em estado avançado para continuar a admitir que um mercado de trabalho neste estado de desequilíbrio tem condições para se autocorrigir.
O que o artigo de Soledad Gallego Diáz tão bem explicita é a patética situação de um Rajoy surpreendido pelo facto dos mercados internacionais não revelarem sinais de compreenderem as sucessivas medidas de corte fiscal que o governo espanhol tem aplicado, injustiçado pela pressão a que os mesmos submetem hoje a economia espanhola. A manta começa a ser curta. Sua Majestade não se lembrou de melhor oportunidade para exercer o seu direito de pernada. O independentismo catalão, acossado pelos cortes fiscais, ressurge com força e nem sequer um PS catalão alquebrado pela sucessão interna no PS pode constituir um aliado nesse travão. A coordenação intergovernamental, sobretudo ao nível das pastas económicas, já virou anedota. O nacionalismo espanhol emerge ferido pelas diatribes nacionalistas de Cristina Fernandéz na Argentina. Por conseguinte, uma situação pouco recomendável para um homem político que não gosta de exposição pública e seguramente menos vaidoso que Aznar. Os espanhóis, esses, atónitos, ainda não conseguiram compreender se a acomodação de Rajoy aos efeitos colaterais da crise europeia é meramente de circunstância ou se também veicula, como em Portugal, uma tentativa não escrutinada de mudança radical de modelo económico e político, como por exemplo a alteração do quadro das comunidades autónomas.

REGRESSO



Descobri-o nos anos 80 e devorei os seus quatro livros por então publicados – “Cortes”, “Lusitânia”, “Cavaleiro Andante” e “O Conquistador”. Perdera-lhe entretanto o rasto, ao que parece muito por força das suas ausências editoriais. Numa das minhas recentes incursões pelas livrarias, saltou-me à vista a familiaridade do seu nome na capa de uma obra de viagens da excelente coleção dirigida por Carlos Vaz Marques na “Tinta da China”: Almeida Faria.

Não era, efetivamente, o novo romance que à primeira vista desejei fosse. Mas “O Murmúrio do Mundo – a Índia Revisitada” acabou por ser um reencontro feliz. Trata-se de uma espécie de diário de uma viagem à Índia (sobretudo Goa e Cochim) organizada pelo Centro Nacional de Cultura em 2006. E, como referiu Gustavo Rubim na Ípsilon, “não se fica com inveja do viajante, fica-se-lhe grato pela generosa magia de converter vários dias de viagem em menos de cento e cinquenta páginas de puro prazer para a imaginação e a inteligência”.

De entre o muito que este ensaio contém, destaco memórias da expansão portuguesa e restos do império, manifestações de conquista e indícios de fratura, bocados da Índia colonizada e sinais da sua emergência. Mas, sobretudo, a espessura de um intelectual e a riqueza do ensaísta assim afirmado. Como ele próprio explica: “À medida que avançava tacteando, ia descobrindo o efeito de surpresa causado pelo confronto ou o encontro do meu texto com o texto de outros autores, antigos e modernos, portugueses e estrangeiros”.

Breves passagens, quase ocasionais:
·         “Uma pessoa distraída ou que tivesse dormido mal e não soubesse onde estava, diante da igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, muito branca no cimo da alta e branca escadaria, à primeira vista pensaria estar em Portugal. Mas, reparando melhor, veria que o púlpito exterior de cantaria azul rendilhada como filigrana tem um toque oriental. E, se houvesse missa, tanto poderia calhar ouvi-la em inglês como em concani ou português.”
·         “Os pretensos prodígios europeus não tornaram o planeta mais feliz, e deixaram por todo o lado uma herança de dois gumes, de benesse e pesadelo. Há anos, na Hungria, perguntei ao escritor Péter Esterházy se herdara ao menos algum pequeno palácio dos príncipes seus antepassados. Não herdei palácios, herdei ‘nomes’ de palácios, respondeu com uma gargalhada. Algo de semelhante aconteceu com a herança portuguesa em Cochim e Kerala.”
·         “As latitudes quentes, húmidas, onde tudo floresce depressa e depressa apodrece, tornam mais visível o que há de fugaz nas nossas vidas. A irrealidade daquele quase-idílio convidava a não prosseguir viagem, a ficar na calma senhorial da tarde deixando escorrer as horas, contemplando o deslizar dos dias, dialogando com aqueles que por aqui passaram e cujas vidas podem apossar-se de nós a ponto de se recusarem a passar.”
·         “Desejei-lhe boa tarde, muitas tardes do seu tempo intemporal. Quando íamos separar-nos, achou que devia justificar a vida contemplativa que levava. Com voz enfraquecida, concluiu num francês arcaico, peculiar, talvez do tempo de Montaigne, que ele era ‘soy-mesmes la matière de sa vie’ (ele mesmo a matéria da vida dele). Desejando-me boa estada na ‘sua’ cidade, virou costas, umas costas dobradas, e desapareceu a passo lento sob o arco de um altar do lado esquerdo.”
·         “O visitante ocidental que pela primeira vez chega a Goa e Cochim enfrentará provavelmente a vertigem do caos à sua volta e dentro de si. Quando começa a familiarilizar-se com a estonteante exuberância e com as contradições coexistentes, quando julga começar a entender a complexidade das castas, dos cultos e costumes tão diferentes, quando começa a fixar nomes, imagens, atributos dos deuses, tudo lhe foge de súbito, tudo se torna de novo confuso, como se o véu de Maia voltasse a cobrir a indecifrável irrealidade da Índia real.”

Seja bem-vindo, Almeida Faria – e para quando o romance há tanto tempo em falta?

A HIPOCRISIA DE MERKEL



Bastou uma simples e não plenamente assegurada vitória de Hollande anunciada pelos resultados da 1ª volta das eleições francesas para que o “establishment” europeu tremesse e, um pouco gingão, começasse a falar de uma Agenda para o Crescimento. Primeiro, Mário Draghi preparou a audiência, qual “entertainer” que antecipa a entrada do artista principal. Ora, a artista principal, depois de entrar em palco declarando como inegociável o pacto fiscal, apressou-se a retomar a ideia da Agenda para o Crescimento e fê-lo, curiosamente ou talvez não, invocando uma ideia de Hollande que constitui em utilizar o Banco Europeu de Investimento para protagonizar um plano abrangente de modernização infraestrutural, de energia verde e de tecnologias avançadas.
Claro que nesta performance ninguém reparou no “pequeno” do sidecar (Sarkosy) que, com esta posição, fica numa situação complicada. A Grande Amiga afinal tira-lhe o tapete e até tem o topete de cobrir uma ideia do adversário político.
É claro que ninguém hoje ainda consegue compreender como é que este golpe de rins da desengonçada senhora Merkel é compatível com uma defesa tão feroz do pacto fiscal. E ainda como é que será possível injetar dinheiro no descapitalizado e ameaçado pela baixa de rating BEI, dinheiro esse que não foi possível ainda reunir para reforçar o firewall do Fundo de Estabilidade Financeira. Pelo que se vai ouvindo, os incorrigíveis de Bruxelas já estarão a pensar num esquema qualquer de engenharia financeira que bondosamente designam de imaginação para fazer as políticas de crescimento regressar, atraindo investimento privado. Não se entende de facto como que é que se recupera a confiança do investimento sem que as razões últimas dessa desconfiança estejam dissipadas.
Aplicando tudo isto à situação interna, ocorre-me cada vez mais a metáfora que se usava no serviço militar e que consistia mais ou menos nisto: excesso de voluntarismo na tropa significa muitas vezes estares isolado numa parada com toda a gente a dar um passo atrás, não alinhando nesse voluntarismo. E, como já se viu, os “pequenotes” do sidecar são descartáveis, mesmo muito descartáveis.

domingo, 29 de abril de 2012

À PROCURA DA METÁFORA

UMA IMENSA DIGNIDADE!

Miguel: difícil que o roteiro que imaginaste, “para o caso de isto correr mal”, pudesse ser mais conseguido. Foi muito bom estar hoje à tarde no Teatro S. Luís com o André e o Fred, o Paulo e a Catarina, o Nuno e a Helena, o Chico e a Marisa, entre tantíssimos outros amigos teus…






SWALLOWED UP



Música para uma tarde de trabalho de domingo: Bruce Springsteen no álbum Wrecking Ball – Swallowed up (in the belly of the whale).
Porque será que não me entra na ideia o ter que ir ao Rock in Rio para poder ver o Bruce de hoje?

SERENIDADE




Tempo para parar e meditar nas palavras que se apanham numa entrevista em contraciclo com a vertigem das notícias.

A entrevista de José Mattoso ao jornalista António Marujo no Público de hoje constitui um oásis retribuidor que está muito para além do título que o jornalista avidamente colocou numa caixa, pois aparentemente seria ele que chama o leitor à entrevista: “O ‘governo do povo’ favorece quem já tem o poder”.

Numa semana marcada pelo zigue-zague um pouco patético de Cavaco e Silva a puxar pela autoestima dos portugueses e destacando os pretensos símbolos (pontuais) de afirmação externa de Portugal, as palavras de José Mattoso levam-nos para outro lado, para a retaguarda desses símbolos de afirmação externa. Aliás, historicamente a nossa contradição tem sido permanentemente essa: a falta de elos de ligação entre os símbolos da excelência internacional e o que fica para trás.

Por estranho que possa parecer, a investigação histórica de José Mattoso marcou indelevelmente a minha forma de ver a questão da centralização/descentralização em Portugal e a minha própria compreensão do território. Num pequeno opúsculo com a Fundação Mário Soares abriu a sua série editorial, designado de A Identidade Nacional, José Mattoso enuncia em termos sintéticos uma tese que a sua diversifica investigação histórica documenta. A tese é a de que em Portugal o Estado precedeu a Nação e só a centralização do poder político tornou possível a consolidação de uma nação cuja longinquidade não nos cansamos de glorificar. Aliás, a decisão de abrir a linha editorial da Fundação tem certamente a inspiração de Mário Soares que viu certamente na tese uma boa forma de fundamentar a sua rejeição do processo de regionalização do País. Mas a tese de Mattoso não suporta esse simplismo de análise. Permite, pelo contrário, compreender a resiliência do centralismo em Portugal e, por exemplo, as dificuldades de controlo e moderação da despesa pública

Mas a entrevista de Mattoso ao Público está noutro plano, distinguindo entre ideologias e ideais, acusando a ineficácia das primeiras e confiando nas segundas, o que é próprio de um homem de fé, aqui entendida num sentido telúrico, de afirmação do poder da bondade, da cultura e da criatividade.

Mas como exímio medievalista, destaca a maior tolerência e maleabilidade institucional desses tempos, contrariando o primarismo redutor da ideia da idade das trevas. E o que é interessante é a sua denúncia da pouca maleabilidade do Ocidente, da sua incapacidade de entender que “a realização do ser é tão pluriforme, que ninguém pode abarcar essa totalidade”. Mas também a denúncia do primado da racionalização dos opostos, segundo uma interpretação que é muito pessoal e que assenta na triangulação da sabedoria, razão e fé.

Não tirando o mérito aos nossos símbolos da excelência internacional, é mais na robustez interna da excelência do pensamento como o de José Mattoso que a minha autoestima de ser português se recompõe.

sábado, 28 de abril de 2012

UM VERDADEIRO SENADOR


Tenho um grande apreço pelo Dr. Silva Lopes. Considero-o um verdadeiro Senador. Ao contrário de outros denominados ou auto-proclamados senadores, decrépitos ou sem qualquer coisa de relevante para nos transmitir, o Dr. Silva Lopes mantém uma lucidez de pensamento que faz inveja a qualquer candidato ao envelhecimento e alia uma robustez de conhecimento teórico a uma imensa prática não só de governação, mas de fundamentada reflexão sobre a mesma. Mantenho vivo na memória um almoço em Lisboa, ainda Silva Lopes desempenhava as funções de Presidente do Conselho Económico e Social, para preparar um seminário da Presidência portuguesa para o qual preparei um contributo a incorporar no parecer do CES. Nessa conversa informal pude confirmar a extrema sensibilidade já na altura à insustentabilidade do modelo de afetação de recursos públicos e às componentes (re) distributivas da política económica, sensibilidade pouco comum entre os economistas portugueses. A sua obra “A Economia Portuguesa no século XX”, publicada em Julho de 2004 pelo Instituto de Ciências Sociais continua a representar um marco indelével entre as diferentes perspetivas sobre a economia portuguesa.

Sempre atento às faltas de transparência e de “accountability” dos processos públicos, Silva Lopes veio ontem denunciar muito pertinentemente a total falta de transparência que constitui o facto de não ter sido ainda disponibilizado aos portugueses o texto concreto do acordo de ajustamento financeiro da Região Autónoma da Madeira. Embora objeto de todas as críticas, o acordo com a Troika é público e o seu texto está acessível a todos que o pretendam monitorizar. Que razões obscuras explicarão o desconhecimento que os Portugueses e os próprios madeirenses ainda hoje têm do que terá sido oportunamente acordado entre o governo da República e o governo regional? A isto chama-se falta de transparência democrática e como sempre o Senador foi o primeiro, creio eu, a denunciar esse facto.

A CRISE EUROPEIA EM LEGOS


A celebrar o post nº 500 deste blogue, aqui deixo um imaginativo registo explicativo da crise europeia (clicar sobre a imagem para melhor visualização). Concebido por Michael Cembalest (com a ajuda do seu filho Peter de 9 anos), e originariamente publicado numa “research note” do banco americano J.P. Morgan (“Eye on the Market”, 6 de Setembro de 2011), tal registo corresponde a um esquema pedagógico integralmente assente numa exploração das famosíssimas peças da Lego.

Segue a respetiva legenda em versão reduzida:
1)       o toureiro e o piloto de Fórmula 1 representam a Espanha, a Itália e o resto da periferia europeia, os supostos “maus alunos da Zona Euro“;
2)       os guerreiros representam os três partidos no poder na Alemanha (CDU, CSU e FDP), opostos a soluções europeístas e defensores da austeridade nos países “incumpridores”;
3)       o marinheiro representa os finlandeses, exigindo garantias pela sua contribuição para o fundo de resgate e sustentando que ela seja calculada em função do risco de cada país (bancos franceses e alemães mais expostos à dívida periférica);
4)       a mulher com uma desproporcionada cenoura e o seu companheiro de macacão e pá representam a oposição alemã (SPD e Verdes), mais recetiva a soluções europeístas;
5)       o feiticeito Wotan representa o “Bundesbank“, guardião dos interesses económicos e fiscais da Alemanha;
6)       o porco-mealheiro representa o FMI, desempenhando um papel secundário a nível de empréstimos e controlos da respetiva implementação;
7)       o indivíduo de cabelo grisalho designado por ”Banque” representa o BCE, atualmente mais ativo no mercado de obrigações soberanas;
8)       o boneco com uma babete vermelha representa a Polónia, membro mais recente da UE e um não participante na Zona Euro que aguarda a evolução dos acontecimentos;
9)       os artistas representam a França, um país que está longe de estar a salvo de alguns estilhaços;
10)   o chefe zangado, o varredor, o piloto e o resto da variada tripulação representam os contribuintes dos países centrais europeus, principais afetados pelos cortes e principais pagadores dos planos de ajuda (repare-se no grande número de setas que lhes está apontado);
11)   os bonecos da ”Guerra das Estrelas” representam a Comissão Europeia e os ministros das Finanças do Eurogrupo (Durão e Juncker), tendencialmente apoiantes das intervenções do BCE e críticos impotentes do excessivo protagonismo franco-alemão;
12)   o banqueiro com monóculo e seu assistente representam os bancos e os detentores de obrigações europeias, em risco de serem chamados a um maior envolvimento de capital no desenvolvimento da crise.



Refira-se, a concluir, que o autor explica que a sua principal motivação foi a de abordar simplificadamente uma situação que considera ter-se tornado ”o ‘Berlin Alexanderplatz’ das crises da divida soberana”, numa feliz referência ao marcante livro (magistralmente adaptado ao cinema por Rainer Werner Fassbinder) em que Alfred Döblin (1928) retrata exemplarmente um homem saído da prisão decidido a começar uma vida nova e jurando manter-se doravante probo ao mesmo tempo que vai premonitoriamente evocando todas as feridas que irão ser abertas entre a Alemanha e a Europa. Citando um crítico do “L’Express”: “ele explica que a miséria económica engendra muitas vezes o racismo social e que a fraternidade desaba quando se torna tão simples cair nos dogmas perentórios da estratégia do bode expiatório”…