terça-feira, 31 de outubro de 2017

DIVÓRCIO, QUANDO E COMO?

(cartoon de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

A primeira página do jornal ”Público” do dia de hoje apresenta de uma forma curiosa aquela que é provavelmente a maior novidade política deste ano em Portugal: os primeiros arrufos sérios, explícitos ou implícitos, entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro. Não será provável que tal se traduza a curto prazo em acontecimentos marcados por qualquer tipo de rotura fundamental. A situação política não está de molde a propiciá-lo e nem um nem outro daqueles altos dignatários do Estado Português tem objetivamente interesse em forçar nessa direção. Ainda assim, fica no ar a possibilidade que uma especial finura posicional, uma especial perspicácia tática ou um especial sentido de oportunidade poderá fazer emergir; sobre quem poderá ser o despoletador direto ou indireto, as opiniões dividem-se entre uma eventual vitória de Rui Rio no Congresso do PSD, uma maior afirmação do peso dos ortodoxos no seio do PCP, uma inusitada insistência auto flagelativa na área governamental, uma (in)esperada imposição de natureza macroeconómica ou um daqueles fenómenos improváveis em que a vida acaba por ser fértil. Veremos, então, quando for virada a esquina da tormenta...

TEN YEARS ON



Dois gráficos reproduzidos a partir de informação produzida pelo “Financial Times” e que, não acrescentando nada de especialmente novo em relação ao que se conhece sobre a matéria, sintetizam bem a dinâmica do pós-crise de 2007/08 (ou a falta dela). Acima, a Zona Euro em perda relativamente aos Estados Unidos – estes recuperam os seus níveis de PIB per capita de partida em cinco anos (2012), contra dez para o conjunto da Europa (2017). Abaixo, os diferentes comportamentos dos grandes europeus, com destaque para o marcante desempenho alemão e para a débâcle italiana. Nunca é demais repisar coisas destas, designadamente pelo que elas indiciam estar por resolver no nosso envelhecido espaço europeu de referência...


segunda-feira, 30 de outubro de 2017

PARA UMA CERTA POSTERIDADE CATALÃ

(Ramses Morales Izquierdo, http://www.cartoonmovement.com)

É possível que todo este processo termine com Puidgemont a abandonar pura e simplesmente o barco, rumando à Bélgica qual desterrado? Mera e pobre saída vitimizadora por parte de um dos maiores flops políticos de todos os tempos? Ou haverá ainda algo que não estejamos a ser capazes de descortinar?

Em qualquer caso, o que é verdadeiramente triste e humilhante é ser-se um garboso cidadão da Catalunha – de uma Catalunha que historicamente sempre transpirou um forte orgulho nacional e que democraticamente sempre se demarcou de qualquer proximidade eleitoral em relação aos partidos de raiz dominantemente madrilista, desde logo a um PP que por lá não atinge os dois dígitos de representatividade – e ver-se de repente sendo dirigido por uma presidenta da Generalitat dotada de poderes delegados por Rajoy e senhora de convicções tão conservadoras e anti autonómicas quanto as Soraya Sáenz de Santamaría.

De todo o modo, as manifestações do fim de semana e as sondagens que começam a surgir a bom ritmo indiciam bem que a estratégia dos independentistas ou foi a todos os títulos desastrosa ou foi guiada por uma lamentável confusão entre a emocionada inocência dos desejos e a força tremenda da realidade.

(cartoon de Agustin Sciammarella, http://elpais.com)