segunda-feira, 9 de outubro de 2017

CATALUNHA PLURAL …




(As relevantes manifestações deste domingo na Catalunha por uma Espanha plural, tão expressivas do catalanismo identitário como as que se seguiram aos acontecimentos do 1-O, mostram que a deriva independentista assenta numa perigosa viciação da representação política do catalanismo; que o revolucionarismo romântico de uma certa esquerda portuguesa subsista contra as evidências e apoie a deriva do radicalismo independentista já me causa alguns arrepios…)

Não vou pelo fácil caminho de comparar manifestações ou presenças de rua. Estou convicto que uma parte significativa dos que estiveram na rua no 1-O querendo votar não estão perfeitamente em linha com o radicalismo da CUP e seus aliados. Estou também seguro que muita gente que esteve na rua para protestar contra a atuação policial no 1-O esteve de boa-fé e clamando por uma outra saída para o problema catalão que não a do confronto violento e suicida. Mas também não tenho dúvidas de que os falaram este domingo são tão orgulhosos da identidade catalã como os independentistas. Posso ter dúvidas se, como sugere Francesc De Carreras (link aqui), as manifestações de ontem significam um antes e um depois para a questão catalã. Também não tenho dúvidas de que em relação às manifestações de ontem houve menos aproveitamento mediático do que o observado nos acontecimentos do 1-0.

Não vou entrar também pelo tortuoso caminho dos processos através dos quais a intervenção policial do 1-O foi mediaticamente trabalhada. Não posso esquecer que a intervenção da Polícia Nacional e da Guardia Civil só foi necessária porque a intervenção preventiva que tinha sido decidida não foi aplicada pelos Mossos d’Esquadra, hoje uma força dividida a meio entre os que seguem o independentismo e os que recusam fazê-lo. Não vou também explorar a caprichosa maneira como as autoridades da Generalitat registaram o número de feridos, primeiro não distinguindo entre feridos e atendidos e, segundo, estabelecendo como códigos de registo em que até foram contadas como agressões situações de ansiedade provocadas pelas imagens televisivas.

Parece também evidente que o independentismo ocultou ao povo catalão os efeitos negativos de uma declaração unilateral de independência e o que ela poderia significar do ponto de vista do relacionamento com a União Europeia. Bastaram as primeiras reações dos principais grupos empresariais catalães, retirando as suas sedes de Barcelona, para compreender a dimensão da mentira que foi divulgada insistentemente. Como sabem, por intermédio de sucessivas tomadas de posição neste blogue, sou um crítico reformista da globalização e nunca o ocultei. Mas apetece dizer que, como arma contra as derivas vanguardistas, bendita globalização.

Horroriza-me a captura dos interesses identitários por parte de grupos políticos manipuladores que são capazes de colocar uma sociedade à beira do precipício, sem que para isso tenham enveredado pelo terrorismo sanguinário tipo ETA. Já não me espanta o recorrente ressurgimento do romantismo revolucionário entre a esquerda portuguesa, que aparenta já algum cansaço por ter de raciocinar e desenvolver luta política no âmbito de um “estado de direito”.

Proponho que discutam um trabalho realizado pelos jornalistas Xavier Vidal-Folch e José Ignacio Torreblanca do El País (link aqui) designado de “Mitos y Falsedades del Independentismo”, publicado em 24 de setembro. Merece ampla discussão e os nossos historiadores Rosas e Loff, tão revolucionários que eles se apresentam, talvez possam contribuir para essa discussão.

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