quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O DEBATE PASSOU POR EDIMBURGO





A conferência anual do INET – Institute for New Economic Thinking tem nos últimos anos proporcionado um contributo valioso para a renovação do pensamento económico, abrindo-o aos efeitos ainda não totalmente dominados da crise de 2007-2008. Há um aspeto das iniciativas do INET que me agrada de sobremaneira. É das raras conferências e instituições que faz gala de abrir oportunidades a jovens economistas, proporcionando-lhes a oportunidade de troca de ideias com economistas mais prestigiados. Dir-me-ão alguns colegas economistas que poderia designar por economistas próximos do Bloco de Esquerda que o trabalho do INET não é suficientemente “out of the box” para gerar a afirmação de paradigmas alternativos. Sempre cultivei a postura de que estar atento a eventuais paradigmas alternativos não nos deve afastar da necessidade de combater por dentro os paradigmas que queremos abalar, restituindo à economia a sua capacidade de pensar em função da realidade, por mais abstrata que possa ser a metodologia de abordagem. Não é aos 68 que vou mudar essa postura para cultivar uma imagem (falsa) de economista radical (os que se reclamam desse radicalismo são menos do pensam ser).

Do programa em anexo (link aqui) e ainda sem materiais apresentados ao debate em Edimburgo, destaco alguns temas, alguns dos quais são música celestial para os meus ouvidos, tamanhas são as interceções com abordagens que marcaram a minha formação.

Um dos temas mais apelativos, que constitui um sinal paradoxal dos tempos e dificuldades que se vão colocando às economias de mercado mais avançadas, consiste no ressurgimento dos modelos de dualismo económico e social que nasceram na economia do desenvolvimento dos anos 50 (o grande Sir Arthur Lewis, economista de origem jamaicana). Essas abordagens consistiam numa abordagem dinâmica do subdesenvolvimento que analisava a transformação dessas sociedades em função da dinâmica de acumulação que era possível desenvolver com um setor moderno inicialmente de expressão reduzida e uma oferta infinitamente elástica de trabalho a taxa salarial relativamente constante, induzido por um universo demográfico de taxas de fertilidade elevadíssimas durante largos períodos. Várias variantes desse modelo surgiram entre os anos 50 e 60 e o dualismo económico e social transformou-se então numa representação dinâmica das economias com o capitalismo a germinar a partir da sua inserção na economia mundial.


Agora, sobretudo pela pena do economista Peter Temin, já aqui referenciei a sua obra The Vanishing Class – Prejudice and Power in a Dual Economy, (MIT Press) a economia dual tem um ressurgimento inesperado, sendo agora aplicado, obviamente com transformações, às economias mais avançadas. Aplicação que não abona em favor do rumo das transformações que estas economias estão a experimentar. Desigualdade e estagnação de uma massa muito relevante de população ativa, designadamente jovem, fazem regressar o velho dualismo. Algum gozo pessoal, mas também tristeza penosa pelo estado das coisas, emergem nesta minha avaliação nesta aparente revisita de um dos modelos mais emblemáticos da velha (então pioneira) economia do desenvolvimento.

Mas outros temas valerá a pena seguir. Alguns mais antecipáveis como o da desigualdade, da economia da informação imperfeita (regresso a Stiglitz, a quem foi dada a honra de uma Diner Conference) ou o da economia da robotização. Outros mais inesperados apareceram como um promissor debate sobre a velha teoria das vantagens comparativas de David Ricardo. Como os materiais não estavam hoje ainda disponíveis, vale a pena ter em conta o sempre transparente Bradford DeLong que divulgou no seu incontornável Grasping Reality with Both Hands o tema da sua intervenção à luz desse tema eterno da economia política (link aqui).

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