terça-feira, 17 de outubro de 2017

DESNORTE E REPRIMENDA





O fim-de-semana passado consagrou o desnorte de secretário de Estado e da Ministra da Administração Interna. Tolhidos novamente pela inépcia do sistema de proteção civil e já com a perceção de que as vítimas mortais iriam ser muitas, os dois membros do Governo apenas se lembraram vagamente de uma referência constante dos relatórios da Comissão Técnica Independente e do estudo do Professor Xavier Viegas, este encomendado pelo Governo. Nesses relatórios, fala-se de facto da necessidade de uma nova cultura das populações sobre a gestão das florestas e sobre a necessidade de promover a resiliência das populações. Obviamente como elementos de uma nova estratégia de valorização e preservação da floresta e de nova abordagem aos incêndios florestais. Nunca, como também é óbvio, como elemento de uma gestão de operações a curto prazo, em plena tragédia, com perdas humanas, com populações desesperadas em busca de auxílio que não chegava, corajosamente resilientes para aquele momento. Pois neste contexto de operações e de frustração incontida, os senhores membros do Governo resolvem invocar apressadamente invocar um relatório, insultando até intelectualmente os seus autores, que devem ter dado saltos de incomodidade perante tanta incompetência política. Puro desrespeito pelas populações e também uma enorme e irreversível incompetência política. Tive disso intuição quando eu próprio vociferei contra tamanha insensibilidade e insensatez.

O que não imaginaria é que o primeiro-Ministro cobrisse essa incompetência política e navegasse na mesma frieza insensível, assumindo uma postura pretensamente pombalina, batendo a tecla de que o tempo é de ações e não de demissões, apegando-se às recomendações da Comissão Técnica Independente como náufrago em busca de uma jangada. E aqui temos uma contradição na navegação atual do Governo: orçamentalmente, gere o curto prazo, acomodando a gestão política à esquerda e avançado pouco em matéria de estratégias de mais longo prazo; em termos de fogos e proteção civil, o governo olha apenas para o futuro (propostas das CTI) e parece esquecer a necessidade de gestão da transição, e os quatro meses desde Pedrogão faziam parte dessa transição.

Perante a forte reprimenda de hoje do Presidente da República, não temos apenas um secretário de Estado e uma Ministra em estado avançado de desnorte e de decomposição política, hoje seguramente convictos de que estes teatros de operações não são para eles. Por muito que me custe admitir e nunca sinceramente o imaginaria, temos também um primeiro-Ministro fragilizado, com um Presidente reforçado no seu estatuto de Voz da consciência nacional de momento.

A insustentável incerteza da política em democracia é algo de espantoso que não canso de apreciar.

Sem comentários:

Enviar um comentário