segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2013 A CHEGAR

 
Quando vi esta primeira página num jornal espanhol destes dias, não consegui evitar mais uma rebobinagem desse filme dramático que nos vai sendo projetado sem contemplações. Com Passos no alegado papel de ator principal – ou será apenas o idiota útil? –, Gaspar como importante ator secundário e as duplas Relvas/Marco António e Catroga/Borges como figurantes pontualmente relevantes.
 
Em 2011, foi a traição – por ligeireza, inconsciência, ignorância, atração pelo poder ou mera encomenda –, importando pouco procurar o maior de vários Migueis de Vasconcelos. Em 2012 foi a mentira, com Setembro a marcar uma viragem em dois tempos: a completa descredibilização do governo e do primeiro-ministro a 7, a inédita manifetação de revolta de todo um povo a 15.

(Paulo Buchinho, http://expresso.sapo.pt)

(André Carrilho, http://www.dn.pt)

As ilustrações de alguns jornais do último fim de semana apontam sinais díspares de esperança quanto ao futuro (ver acima dois excelentes exemplos). E se pessoalmente, ao contrário do António Figueiredo, me animo com a perspetiva de uma passagem de ano entre amigos, estou com ele ao também não vislumbrar razões para grandes otimismos – não querendo repetir a vinheta de El Roto (“para a frente não há futuro, só há tempo”), resigno-me à hipótese de “saída de tudo isto” pressagiada por Erlich. Mesmo gostando do 13…
 
(Bernardo Erlich, http://elpais.com)

EUROPA ILUSTRADA (XII)

O ano termina com um mês europeu pouco excitante. Destaque para o contraste entre a acotovelada entrega do Nobel da Paz em Oslo (Joris Snaet, http://www.standaard.be) e a situação dos povos laureados (Niels Bo Bojesen, http://jyllands-posten.dk), bem como para o plano pretensiosamente salvador apresentado por Barroso e Van Rompuy (Oliver Schopf, http://derstandard.at).



 
Mais a Sul, um duplo registo para a Grécia – que recebeu finalmente a ansiada “tranche” de 34,4 bi (Ilias Makris, http://www.kathimerini.gr) e cujo desemprego merece um preguiçoso tratamento noticioso em território alemão (Tsimis Skitso, http://www.kathimerini.com) – e para a Itália – de onde ressurgiu em grande forma o velho Silvio (Philippe Chappatte, http://www.letemps.ch), suscitando uma estranha reação frentista e universal pró-Monti (Emilio Giannelli, http://www.corriere.it).

 


2012: A DÚVIDA MENOS METÓDICA DO ANO

(Frankfurter Allgemeine, http://www.faz.net)

2012: A DÚVIDA METÓDICA DO ANO

(El Roto, http://elpais.com)

2012: A FALÁCIA DO ANO

(Bernardo Erlich, http://elpais.com)

EL ROTO E ERLICH



O traço de El Roto e as vinhetas de Erlich, ambos no El País, fazem parte do imaginário visual deste blogue. Os dois desenhos que a edição on line do El País de hoje reproduz são para mim uma boa forma de ilustrar o que me vai na alma neste fim de ano que vai perdendo o atrativo de outros tempos para se transformar numa rotina como outra qualquer. Plenamente absorvido com o trabalho de reposicionamento estratégico do Instituto Politécnico do Porto, uma instituição fortemente reativa que procura um rumo consequente para os desatinos que as sucessivas governações têm produzido sobre o futuro do ensino superior politécnico, passo assim o ano a procurar no trabalho uma fonte de resistência para todo este desconchavo em que o país se encontra. Poderia designá-lo como o síndroma do planeador em tempos de crise. Por isso, a passagem para um outro ano, um 2013 de todos os desafios, esbate-se. Aliás, na minha memória recente a última impressão distinta de uma passagem de ano aconteceu já há anos com o mergulho em Nova Iorque na festa de Times Square com uma concentração de pessoas que impressiona não só pela massa reunida, como pela capacidade logística de a gerir.
Voltando ao traço de El Roto e à vinheta de Erlich, elas completam-se. A expressão do primeiro é notável pela sua capacidade de tradução do que todos enfrentamos: “Para a frente não há futuro, só há tempo”. Assim é. E face a essa projeção, ou reagimos contribuindo para forjar um futuro, ou gozamos com a situação, que por vezes também ajuda a encontrar o equilíbrio. É o que a vinheta de Erlich faz.

domingo, 30 de dezembro de 2012

2012: O FLOP DO ANO

(Peter Brookes, http://www.thetimes.co.uk)

2012: O SUCESSO DO ANO

(Philippe Chappatte, International Herald Tribune, http://global.nytimes.com)

2012: O SOLIDÁRIO DO ANO

(Giannis Ioannou, http://www.ethnos.gr)

QUASE TUDO

O Dezembro de “El Roto” (Andrés Rábago García), cartunista do “El País, inseriu-se à perfeição na terrível dinâmica social do ano que encerra. Falou-nos de princípios e meios, de compra de armas por medo da violência, de neve feita de cinzas e de vidas em desistência. Que mais acrescentar?




MUDAR DE VIDA



Paradoxos dos ciclos de vida. Enquanto que Manuel Oliveira trava mais uma das batalhas da sua gloriosa longevidade, Paulo Rocha bem mais novo não resistiu. Com o seu desaparecimento, surgem-me memórias bem longínquas sobre o meu encontro com o cinema português. Para muitos os Verdes Anos são o filme de referência de Paulo Rocha. Pelo contrário, Paulo Rocha significa para mim o impacto do Mudar de Vida (1966). Acho que não há nenhum outro filme português que interprete tão fielmente os choques a que o Portugal atávico, tradicional, pobre, trágico foi submetido. A comunidade piscatória do Furadouro é uma representação desse Portugal. Recordo que em torno dos meus 20 anos lia com orgulho como os Cahiers du Cinéma se referiam à filmografia de Paulo Rocha. Das imagens que o Mudar de Vida me deixou intocáveis na memória a que ainda me marca e da qual não consegui recuperar nenhum fotograma é a da cena sinistra do pescador/emigrante/regressado a realizar testes psicotécnicos para concorrer a um posto de trabalho numa fábrica da região. Nessa altura, ainda sem referências de economia e sem a perceção do que o desemprego e a transição para uma outra atividade significam, aquelas imagens de confronto entre a experiência concreta do mar e da emigração mal sucedida e a abstração do teste psicotécnico gravaram-se-me para sempre na memória seletiva.

sábado, 29 de dezembro de 2012

A SERENIDADE DE TÁVORA



Fim de festa em Guimarães, Capital Europeia da Cultura. Sexta-feira, 28 de Dezembro, cidade ainda fervilhante apesar do fim anunciado. Estará a aposta ganha?
Oportunidade para visitar a Exposição Fernando Távora – Modernidade Permanente.
Fim de tarde húmido, mas aconchegado e não agressivo. Sinal dos tempos. O campus da Universidade do Minho em Guimarães aberto, nenhum sinal aparente de segurança, cancelas de acesso das viaturas levantadas, campus praticamente deserto, um laboratório ou outro com luz, alguns (poucos) praticantes de jogging na bela envolvente deste espaço. Lá ao fundo, em cima e à esquerda, luz no Edifício da Escola de Arquitetura, ele próprio um projeto de Fernando Távora e de seu filho J.B. Távora, acolhendo a exposição “Fernando Távora - Modernidade Permanente”.
Feliz harmonia entre o conforto depurado do edifício e a serenidade eloquente que transparece de todo aquele material. Como era diferente esta geração da arquitetura que lançou as primeiras pedras do que alguns ainda teimam em classificar de A Escola do Porto. A sobriedade serena e eloquente do seu traço, a sua mundividência feita de encontros com os grandes arquitetos da época (bolsa Fundação Calouste Gulbenkian), fundamentais para conceber e consolidar a sua própria modernidade. Em fotografias da exposição, nomes conhecidos, muito jovens ainda, ilustrações de cumplicidades, afetos e influências: Mestre Carlos Ramos, Lanhas, Pedro Ramalho, Alexandre Alves Costa, Nadir Afonso e muitos mais.
Mas para um leigo da arquitetura, embora sensorialmente tocado por ela, numa sala de aulas belíssima, um pequeno anfiteatro quase um quadrado em que o mestre ocupa não um lugar acima do auditório mas pelo contrário ao mesmo nível ou a um nível inferior, um conjunto de vídeos recupera algumas aulas do Arquiteto. E perante uns minutos de visualização desse material, emerge a figura do Mestre, crescentemente perdida nas nossas Universidades e que para as artes continua a ser o epicentro de toda a prática pedagógica.
A serenidade do Mestre reconfortou-me o fim de tarde.

70-30

 
Ainda sobre a tese dos 70-30%, lançada por António Lobo Xavier (ALX) no último “Quadratura do Círculo” do ano e já ontem comentada neste espaço pelo António Figueiredo (“Malabarismo Intelectual”), quero sublinhar as afirmações finais de José Pacheco Pereira no mesmo programa:
 
Eu posso aceitar os 70-30%. E eu não nego que a questão europeia é decisiva, mas não vai no caminho que estão a dizer. Nós estamos esquecidos que o último ato europeu de significado, nesta matéria, é o pacto orçamental. O que é que ele faz? Torna rígida a política que nós, neste momento, estamos a seguir, ou seja, nós não nos limitamos a comprar um bilhete para depois nos darem mais tempo e mais dinheiro – que é no fundo, em última instância, aquilo que o bilhete vai pagar – mas estamos ao mesmo tempo a assinar o congelamento desta política estruturalmente inscrita duma tal maneira que nenhum governo deixa de ter liberdade para a conduzir.
A única maneira que se poderia prever uma alteração significativa na Europa é uma Europa que ninguém imagina que vai acontecer: era uma Europa que valorizasse de novo políticas de coesão, era uma Europa que não se limitasse apenas a resolver os problemas do euro mas que pensasse também em criar um espaço comum muito mais equilibrado do que aquele que existe. Ora, não há neste momento nenhuma força na Europa neste sentido, não há nenhuma força, nenhuma, pelo contrário há a tendência para um reforço do nacionalismo – que no caso alemão e no caso de outros países se manifesta através da tentativa de criar uma espécie de vulgata orçamental.
E mais: e a fragilidade do retorno aos mercados ou dos mercados é tão pequena que bastou o anúncio de Monti de que se demitia para imediatamente haver de novo um problema de subida de juros. Portanto, nós estamos numa vida completamente artificial, e embora eu reconheça a importância europeia, ninguém pense que nós estamos a comprar um qualquer bilhete – não, nós estamos a assinar uma espécie de testamento, de pacto com o diabo. Que a gente assina com o nosso sangue e pelo qual vendemos a alma – eles não nos vão devolver a alma!”
 
Pois assim é de uma forma que parece incontornável e irreversível. Sendo que a única coisa de que verdadeiramente não podemos acusar Passos é de não ter dito à partida ao que o mandavam: “empobrecimento” foi a palavra por ele então usada. O resto, as razões do otimismo de ALX, não passa de minudências para minimamente acomodar intelectos mais exigentes ou levemente aliviar consciências mais pesadas – porque quando o ajustamento estiver levado até aos seus extremos de suportabilidade, o nome do tal bilhete será simplesmente outro: esmola…