sábado, 29 de dezembro de 2012

70-30

 
Ainda sobre a tese dos 70-30%, lançada por António Lobo Xavier (ALX) no último “Quadratura do Círculo” do ano e já ontem comentada neste espaço pelo António Figueiredo (“Malabarismo Intelectual”), quero sublinhar as afirmações finais de José Pacheco Pereira no mesmo programa:
 
Eu posso aceitar os 70-30%. E eu não nego que a questão europeia é decisiva, mas não vai no caminho que estão a dizer. Nós estamos esquecidos que o último ato europeu de significado, nesta matéria, é o pacto orçamental. O que é que ele faz? Torna rígida a política que nós, neste momento, estamos a seguir, ou seja, nós não nos limitamos a comprar um bilhete para depois nos darem mais tempo e mais dinheiro – que é no fundo, em última instância, aquilo que o bilhete vai pagar – mas estamos ao mesmo tempo a assinar o congelamento desta política estruturalmente inscrita duma tal maneira que nenhum governo deixa de ter liberdade para a conduzir.
A única maneira que se poderia prever uma alteração significativa na Europa é uma Europa que ninguém imagina que vai acontecer: era uma Europa que valorizasse de novo políticas de coesão, era uma Europa que não se limitasse apenas a resolver os problemas do euro mas que pensasse também em criar um espaço comum muito mais equilibrado do que aquele que existe. Ora, não há neste momento nenhuma força na Europa neste sentido, não há nenhuma força, nenhuma, pelo contrário há a tendência para um reforço do nacionalismo – que no caso alemão e no caso de outros países se manifesta através da tentativa de criar uma espécie de vulgata orçamental.
E mais: e a fragilidade do retorno aos mercados ou dos mercados é tão pequena que bastou o anúncio de Monti de que se demitia para imediatamente haver de novo um problema de subida de juros. Portanto, nós estamos numa vida completamente artificial, e embora eu reconheça a importância europeia, ninguém pense que nós estamos a comprar um qualquer bilhete – não, nós estamos a assinar uma espécie de testamento, de pacto com o diabo. Que a gente assina com o nosso sangue e pelo qual vendemos a alma – eles não nos vão devolver a alma!”
 
Pois assim é de uma forma que parece incontornável e irreversível. Sendo que a única coisa de que verdadeiramente não podemos acusar Passos é de não ter dito à partida ao que o mandavam: “empobrecimento” foi a palavra por ele então usada. O resto, as razões do otimismo de ALX, não passa de minudências para minimamente acomodar intelectos mais exigentes ou levemente aliviar consciências mais pesadas – porque quando o ajustamento estiver levado até aos seus extremos de suportabilidade, o nome do tal bilhete será simplesmente outro: esmola…

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