Ainda sobre a tese dos 70-30%, lançada por António Lobo Xavier (ALX) no último
“Quadratura do Círculo” do ano e já ontem comentada neste espaço pelo António
Figueiredo (“Malabarismo Intelectual”), quero sublinhar as afirmações finais de
José Pacheco Pereira no mesmo programa:
“Eu posso
aceitar os 70-30%. E eu não nego que a questão europeia é decisiva, mas não vai
no caminho que estão a dizer. Nós estamos esquecidos que o último ato europeu
de significado, nesta matéria, é o pacto orçamental. O que é que ele faz? Torna
rígida a política que nós, neste momento, estamos a seguir, ou seja, nós não
nos limitamos a comprar um bilhete para depois nos darem mais tempo e mais dinheiro
– que é no fundo, em última instância, aquilo que o bilhete vai pagar – mas
estamos ao mesmo tempo a assinar o congelamento desta política estruturalmente
inscrita duma tal maneira que nenhum governo deixa de ter liberdade para a
conduzir.
A
única maneira que se poderia prever uma alteração significativa na Europa é uma
Europa que ninguém imagina que vai acontecer: era uma Europa que valorizasse de
novo políticas de coesão, era uma Europa que não se limitasse apenas a resolver
os problemas do euro mas que pensasse também em criar um espaço comum muito
mais equilibrado do que aquele que existe. Ora, não há neste momento nenhuma
força na Europa neste sentido, não há nenhuma força, nenhuma, pelo contrário há
a tendência para um reforço do nacionalismo – que no caso alemão e no caso de
outros países se manifesta através da tentativa de criar uma espécie de vulgata
orçamental.
E
mais: e a fragilidade do retorno aos mercados ou dos mercados é tão pequena que
bastou o anúncio de Monti de que se demitia para imediatamente haver de novo um
problema de subida de juros. Portanto, nós estamos numa vida completamente
artificial, e embora eu reconheça a importância europeia, ninguém pense que nós
estamos a comprar um qualquer bilhete – não, nós estamos a assinar uma espécie
de testamento, de pacto com o diabo. Que a gente assina com o nosso sangue e
pelo qual vendemos a alma – eles não nos vão devolver a alma!”
Pois assim é de uma forma que parece incontornável
e irreversível. Sendo que a única coisa de que verdadeiramente não podemos
acusar Passos é de não ter dito à partida ao que o mandavam: “empobrecimento”
foi a palavra por ele então usada. O resto, as razões do otimismo de ALX, não passa
de minudências para minimamente acomodar intelectos mais exigentes ou levemente
aliviar consciências mais pesadas – porque quando o ajustamento estiver levado
até aos seus extremos de suportabilidade, o nome do tal bilhete será
simplesmente outro: esmola…
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