sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

DESTAPAR A TAP



O assunto TAP desperta-me uma multiplicidade de reflexões e comentários, contraditórios entre si, tenho de confessar. E não é porque a privatização parece ter aterrado nas incongruências, sejam elas provenientes do próprio Governo ou do candidato Efromovich (não é claro se tivemos um recuo de circunstância do primeiro ou antes a confirmação da falta de garantias do segundo).
Os meus juízos contraditórios acerca da TAP começam por de facto não ser capaz de associar à sua privatização algo de chocante ou incómodo, muito ao contrário do que penso de outras privatizações. Tenho alguma dificuldade em compreender o que pode significar uma “companhia de bandeira” num país debilitado como Portugal, sobretudo um país que não foi capaz de nos últimos dez a vinte anos ter uma ideia segura do seu lugar no mundo e de a assumir persistente e convictamente. Mercados como o Brasil ou Angola seriam sempre objeto de atenção e investimento por qualquer companhia que ocupasse o lugar da TAP. Outros mercados de menor expressão e que seriam abandonados numa lógica de mercado podem sempre ser objeto de contratualização de serviço público com uma companhia privada, é tudo uma questão de boa negociação no processo de privatização. Por outro lado, as relações da nossa diáspora com a TAP estarão mais esbatidas do que em tempos idos. Pelo menos, a diáspora europeia tem hoje uma relação bem mais forte com as diversas “low cost” que demandam os mercados da emigração portuguesa, embora os subsídios públicos a este tipo de companhias tenham de ser colocados no prato da balança.
Outra questão bem diferente é a de saber se este é o momento certo para privatizar. Todos os elementos disponíveis apontam para a imbecilidade da TROIKA nesta matéria, pretendendo aplicar a todo o custo um produto do cardápio estandardizado de medidas de ajustamento sem ter em conta a forte penalização da envolvente em que as privatizações iriam decorrer. Nestas condições, é difícil avaliar o que vale efetivamente a TAP do ponto de vista do mercado das viagens aéreas. Nas condições de perifericidade em que Portugal se debate, é bem provável que, mesmo em condições normais, o mercado não reconheça à TAP o valor estratégico que lhe atribuímos (sem ignorar a nossa dificuldade em explorar esse valor estratégico) e que Lisboa não seja necessariamente o grande hub que queremos que ela represente. Mas aceito que esta divergência possa justificar a não privatização.
O valor de mercado da TAP parece hoje afetado não apenas por divergências de geoestratégia territorial entre potenciais candidatos à privatização, mas também pela própria situação financeira da companhia. As condições de financiamento do transporte aéreo não serão mais as mesmas e o stock da dívida da TAP é desincentivador. Para além disso, temos as consequências de algumas opções que se revelaram desastrosas, das quais a empresa de manutenção no Brasil é talvez a mais emblemática.
E para terminar os juízos contraditórios tenho dificuldade em esquecer-me das dificuldades da companhia em compreender a valia do aeroporto de Sá Carneiro, protagonizando um entendimento da internacionalização do país baseado apenas na capital.
Por todas estas reflexões contraditórias o José Castro Caldas que me desculpe mas assinar petições pela não privatização da TAP é coisa que não me atrai. Isso não significa que a transparência do processo não me desperte sérias dúvidas, sobretudo pela vacuidade que hoje expressões como interesse público e interesse estratégico nacional têm vindo a revestir.

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