O assunto TAP
desperta-me uma multiplicidade de reflexões e comentários, contraditórios entre
si, tenho de confessar. E não é porque a privatização parece ter aterrado nas
incongruências, sejam elas provenientes do próprio Governo ou do candidato
Efromovich (não é claro se tivemos um recuo de circunstância do primeiro ou
antes a confirmação da falta de garantias do segundo).
Os meus juízos
contraditórios acerca da TAP começam por de facto não ser capaz de associar à sua
privatização algo de chocante ou incómodo, muito ao contrário do que penso de
outras privatizações. Tenho alguma dificuldade em compreender o que pode
significar uma “companhia de bandeira” num país debilitado como Portugal,
sobretudo um país que não foi capaz de nos últimos dez a vinte anos ter uma
ideia segura do seu lugar no mundo e de a assumir persistente e convictamente. Mercados
como o Brasil ou Angola seriam sempre objeto de atenção e investimento por
qualquer companhia que ocupasse o lugar da TAP. Outros mercados de menor
expressão e que seriam abandonados numa lógica de mercado podem sempre ser objeto
de contratualização de serviço público com uma companhia privada, é tudo uma
questão de boa negociação no processo de privatização. Por outro lado, as relações
da nossa diáspora com a TAP estarão mais esbatidas do que em tempos idos. Pelo
menos, a diáspora europeia tem hoje uma relação bem mais forte com as diversas “low cost” que demandam os mercados da
emigração portuguesa, embora os subsídios públicos a este tipo de companhias
tenham de ser colocados no prato da balança.
Outra questão bem
diferente é a de saber se este é o momento certo para privatizar. Todos os
elementos disponíveis apontam para a imbecilidade da TROIKA nesta matéria,
pretendendo aplicar a todo o custo um produto do cardápio estandardizado de
medidas de ajustamento sem ter em conta a forte penalização da envolvente em
que as privatizações iriam decorrer. Nestas condições, é difícil avaliar o que
vale efetivamente a TAP do ponto de vista do mercado das viagens aéreas. Nas
condições de perifericidade em que Portugal se debate, é bem provável que,
mesmo em condições normais, o mercado não reconheça à TAP o valor estratégico
que lhe atribuímos (sem ignorar a nossa dificuldade em explorar esse valor
estratégico) e que Lisboa não seja necessariamente o grande hub que queremos que ela represente. Mas
aceito que esta divergência possa justificar a não privatização.
O valor de mercado da
TAP parece hoje afetado não apenas por divergências de geoestratégia
territorial entre potenciais candidatos à privatização, mas também pela própria
situação financeira da companhia. As condições de financiamento do transporte aéreo
não serão mais as mesmas e o stock da
dívida da TAP é desincentivador. Para além disso, temos as consequências de
algumas opções que se revelaram desastrosas, das quais a empresa de manutenção
no Brasil é talvez a mais emblemática.
E para terminar os juízos
contraditórios tenho dificuldade em esquecer-me das dificuldades da companhia
em compreender a valia do aeroporto de Sá Carneiro, protagonizando um
entendimento da internacionalização do país baseado apenas na capital.
Por todas estas reflexões
contraditórias o José Castro Caldas que me desculpe mas assinar petições pela não
privatização da TAP é coisa que não me atrai. Isso não significa que a transparência
do processo não me desperte sérias dúvidas, sobretudo pela vacuidade que hoje
expressões como interesse público e interesse estratégico nacional têm vindo a
revestir.
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