quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

MAIS SOBRE “ISTO”


Com a sua habitual clareza e frontalidade, Miguel Sousa Tavares comentou ontem no “Jornal da Noite” da SIC as buscas em casa do ex-ministro das Finanças e do ex-presidente da Estradas de Portugal. Nos quatro andamentos que acima se ilustram e abaixo se transcrevem.

1º De escritores criativos e condenações prévias:

“Acho extraordinário, há um escritor criativo na PJ que se dedica a inventar nomes para as operações, sendo que os nomes – como este, o “Buraco no Asfalto”, parece saído de um título de um livro do Tintin – já trazem em si um indício de culpabilidade das pessoas. Quando aí se começa por buscas às residências e se manda imediatamente a notícia para os jornais, os investigadores sabem muito bem que estão a fazer uma condenação prévia de pessoas que até aí não têm qualquer suspeita para o fazerem.”

2º De leviandades e pessoas de bem:

“E, pelo andar da carruagem – juntando a isto o caso Medina Carreira, e partindo do princípio que, como foi noticiado, Medina Carreira era um nome de código e que os investigadores, em vez de perceberem isso ou de investigarem melhor, caíram logo em cima dele e mandaram logo a notícia que deu por exemplo a capa inacreditável do semanário “Sol” na semana passada –, qualquer dia não há ninguém de bem que queira governar Portugal. Porque, com a maior das leviandades, o País transformou-se num couto onde se podem fazer escutas levianamente – várias entidades que ninguém controla –, onde se podem mandar todas as notícias do que se passa em segredo de Justiça para os jornais – pelos vistos, estão muito preocupados com as imagens da manifestação da RTP que deram, mas não estão preocupados em violar o segredo de Justiça de cidadãos que são inocentes até prova em contrário – e qualquer dia, de facto, ninguém de bem quer governar este País.”

3º De corporações e manipulações:

“A atuação das entidades de investigação criminal em Portugal, particularmente o Ministério Público, está completamente fora de controlo. Eu vou dizer, muito tranquilamente, o seguinte: eu não acredito que aqueles que fazem estas investigações não tenham uma agenda política própria, e não sei mesmo se não são manipulados de fora. Agora, acho absolutamente insustentável (…). Há uma agenda política, essa agenda política pode ser apenas corporativa – de uma guerra de uma corporação judicial contra o Governo, seja ele quem for – ou pode ser também uma agenda política com contornos partidários, eu admito isso. Porque o que se está a passar é de tal forma escandaloso que, de facto, tem de haver uma agenda política ali.”
“Mas é que nós já sabemos qual é o final. É que para o Ministério Público quase todos são suspeitos, mas depois nenhum é condenado. Porque o efeito que se pretende, a maior parte das vezes, parece ser só o de lançar aa condenação para a praça pública e, uma vez lançada, não vale a pena investigar mais nada porque já está causado o efeito. E por isso é que eu digo que isto não é uma agenda de Justiça, isto é uma agenda política.”

4º De garantias fundamentais e silêncios cavacais:

“Isto não é por acaso, isto não é pura leviandade, os casos repetem-se sucessivamente – o anterior Procurador-Geral da República, quando saiu, disse que isto era um escândalo – e eu, mais uma vez, eu espanta-me como é que o senhor Presidente da República assiste a isto calado, está em causa o essencial das garantias do cidadão, o essencial. Eu não acredito que, quer o dr. Almerindo Marques quer o dr. Teixeira dos Santos, tenham sido corrompidos, tenham cometido burlas, etc. – podem ter governado bem ou mal as Estradas de Portugal ou o Ministério das Finanças, agora acusá-los de corrupção, acusá-los não, acusá-los perante a opinião pública.”

Julgo por demais óbvio que me sinta dispensado de acrescentar o que quer que seja a tão contundente e judiciosa denúncia…

Sem comentários:

Enviar um comentário