Com a sua habitual clareza e frontalidade,
Miguel Sousa Tavares comentou ontem no “Jornal da Noite” da SIC as buscas em
casa do ex-ministro das Finanças e do ex-presidente da Estradas de Portugal.
Nos quatro andamentos que acima se ilustram e abaixo se transcrevem.
1º De escritores criativos e condenações
prévias:
“Acho
extraordinário, há um escritor criativo na PJ que se dedica a inventar nomes
para as operações, sendo que os nomes – como este, o “Buraco no Asfalto”,
parece saído de um título de um livro do Tintin – já trazem em si um indício de
culpabilidade das pessoas. Quando aí se começa por buscas às residências e se
manda imediatamente a notícia para os jornais, os investigadores sabem muito
bem que estão a fazer uma condenação prévia de pessoas que até aí não têm
qualquer suspeita para o fazerem.”
2º De leviandades e pessoas de bem:
“E,
pelo andar da carruagem – juntando a isto o caso Medina Carreira, e partindo do
princípio que, como foi noticiado, Medina Carreira era um nome de código e que
os investigadores, em vez de perceberem isso ou de investigarem melhor, caíram
logo em cima dele e mandaram logo a notícia que deu por exemplo a capa
inacreditável do semanário “Sol” na semana passada –, qualquer dia não há
ninguém de bem que queira governar Portugal. Porque, com a maior das
leviandades, o País transformou-se num couto onde se podem fazer escutas
levianamente – várias entidades que ninguém controla –, onde se podem mandar
todas as notícias do que se passa em segredo de Justiça para os jornais – pelos
vistos, estão muito preocupados com as imagens da manifestação da RTP que
deram, mas não estão preocupados em violar o segredo de Justiça de cidadãos que
são inocentes até prova em contrário – e qualquer dia, de facto, ninguém de bem
quer governar este País.”
3º De corporações e manipulações:
“A
atuação das entidades de investigação criminal em Portugal, particularmente o
Ministério Público, está completamente fora de controlo. Eu vou dizer, muito
tranquilamente, o seguinte: eu não acredito que aqueles que fazem estas
investigações não tenham uma agenda política própria, e não sei mesmo se não
são manipulados de fora. Agora, acho absolutamente insustentável (…). Há uma
agenda política, essa agenda política pode ser apenas corporativa – de uma
guerra de uma corporação judicial contra o Governo, seja ele quem for – ou pode
ser também uma agenda política com contornos partidários, eu admito isso.
Porque o que se está a passar é de tal forma escandaloso que, de facto, tem de
haver uma agenda política ali.”
“Mas
é que nós já sabemos qual é o final. É que para o Ministério Público quase
todos são suspeitos, mas depois nenhum é condenado. Porque o efeito que se
pretende, a maior parte das vezes, parece ser só o de lançar aa condenação para
a praça pública e, uma vez lançada, não vale a pena investigar mais nada porque
já está causado o efeito. E por isso é que eu digo que isto não é uma agenda de
Justiça, isto é uma agenda política.”
4º De garantias fundamentais e silêncios
cavacais:
“Isto
não é por acaso, isto não é pura leviandade, os casos repetem-se sucessivamente
– o anterior Procurador-Geral da República, quando saiu, disse que isto era um
escândalo – e eu, mais uma vez, eu espanta-me como é que o senhor Presidente da
República assiste a isto calado, está em causa o essencial das garantias do
cidadão, o essencial. Eu não acredito que, quer o dr. Almerindo Marques quer o
dr. Teixeira dos Santos, tenham sido corrompidos, tenham cometido burlas, etc.
– podem ter governado bem ou mal as Estradas de Portugal ou o Ministério das
Finanças, agora acusá-los de corrupção, acusá-los não, acusá-los perante a
opinião pública.”
Julgo por demais óbvio que me sinta
dispensado de acrescentar o que quer que seja a tão contundente e judiciosa
denúncia…
Sem comentários:
Enviar um comentário