sábado, 30 de junho de 2018

DEPRESSÃO? NÃO É NECESSÁRIO!




O futebol é um dos domínios que mais contribui para alimentar uma perceção polarizada sobre o que valemos e o que podemos fazer. Tanto nos leva a hiper-valorizar capacidades, como a mergulhar em profundas depressões. Não há necessidade disso. Trata-se apenas da nossa maleita de não saber dimensionar a imagem sobre nós próprios, projetando-nos distorcidamente na comparação com os outros.

Talvez joguemos mais do que o Uruguai que parece partido entre uma defesa excecional, atenção não apenas ao duo central Godin e Gimenez, mas também a um surpreendente defesa esquerdo Laxalt, e dois avançados que jogam de olhos fechados. O primeiro golo do Uruguai é de privilegiados e foi sem dúvida demasiado cedo, pois potenciou todas as virtualidades desta seleção em que não há um nome relevante que seja no meio campo. E depois o nosso poder de construção de fogo anunciava problemas. Como sabemos o nosso Fernando é lento a tomar decisões. A construção de jogo pelos laterais nunca chegou aos níveis do Europeu, sobretudo porque Rafael Guerreiro nunca apresentou uma condição física capaz para aguentar o balanço. A força do meio-campo esteve a meio gás, Wiiliam é um portento de força e resiliência mas é lento e não acrescenta acutilância à alimentação do ataque. Bernardo ainda apresenta hiatos comprometedores, Moutinho está em ciclo descendente e Adrien já não é o que era. E no ataque o potencial de Guedes tarda a afirmar-se em jogos desta dimensão, não se percebendo a hesitação de Santos entre um jogador de área de raiz (André Silva) ou um ataque mais móvel, mas com pouco fogo. Gelson foi morto à nascença por uma entrada prematura contra Marrocos. Ronaldo não pode fazer tudo e quanto mais pressionado para resolver o que o coletivo não resolve menos joga, como aliás o jogo de hoje bem o mostrou.

Não sou Marcelo e por isso não necessito de pintar a realidade para emular os Portugueses, que têm de aprender a motivar-se com outras coisas. A nossa saída nos oitavos é a medida real do poderio que demonstrámos e quando assim é não há necessidade de depressões. Precisávamos de uma evolução a partir da fase de grupos. Tivemos jogos demasiado sofridos para uma evolução sustentada de modelo tático que nos permitisse encarar o jogo de hoje com mais confiança e rotina de processos. O nosso grupo era atípico e os modelos de jogo que encontrámos, Espanha, Marrocos e Irão eram substancialmente diferentes dos problemas colocados por uma seleção partida entre a defesa e o ataque mas temível na exploração desse modelo, dada a excelência das individualidades.

A noite de Seixas está húmida mas de uma amenidade irrepetível. Reina um silêncio sepulcral na aldeia e o som da noite na vila faz lembrar uma estância termal. O sonho acabou. Mas não temos de ficar deprimidos por isso.

FOGUETES, FESTA E CANAS


Por caraterística pessoal, não costumo primar pelo louvor acéfalo de tudo quanto cheire a mero fervor patriótico. Daí que talvez possa ser considerado insuspeito de qualquer pecado luso-distorcido por aqui querer deixar devidamente vincado um cumprimento a António Vitorino, mais um português a lograr sucesso em areópagos internacionais, desta vez uma eleição vitoriosa para o cargo de diretor-geral da OIM (Organização Internacional para as Migrações). Numa semana que começara com a visita do Presidente da República à Casa Branca, um movimento que envolvia alguns riscos de imagem e que se saldou, no mínimo, por um objetivo sucesso pessoal (os dotes de inteligência conseguem, por vezes, fazer milagres!) e também do País, contrariando claramente a maioria das opiniões produzidas a propósito (a minha incluída). Casos para voltar a aqui louvar a diplomacia nacional que, não sei muito bem porquê na verdadeira essência da razão das coisas (obviamente por defeito meu, que apenas posso testemunhar a grande qualidade e empenho de muitos dos nossos embaixadores e a enorme capacidade política e de trabalho do nosso ministro dos Negócios Estrangeiros), continua a somar resultados excecionais e completamente imprevisíveis. Num quadro como este, tudo o que não podemos agora é deixar de capitalizar o que assim nos vai sucedendo de positivo no contexto mundial – o que aliás, e para sermos justos, temos vindo a tentar fazer de modo crescente, e já com alguns resultados visíveis, mas ainda carece de um pouco menos de inspiração e espontaneísmo e de um pouco mais de suor e organização...

sexta-feira, 29 de junho de 2018

A CIMEIRA

(cartoons de Pierre Kroll, http://www.lesoir.be)

(Ricardo Martínez, http://www.elmundo.es)

Três de uma imensidão de modos fundadamente convergentes de encarar a Cimeira Europeia ontem repetida e que resultou numa maratona que se estendeu até altas horas da madrugada. O resultado foi generalizadamente apresentado como tendo sido o de um acordo, um não acordo disfarçado de acordo possível e não tanto o desejável acordo, como disseram muitos. De facto, a União é useira e vezeira neste tipo de enfrentamento e leitura dos problemas: esconder o lixo debaixo do tapete, premiar a arrogância e a chantagem (da Turquia à Itália, para só dar dois exemplos perfeitamente claros), prosseguir uma lógica de chacun pour soi que já só convence quem quer ser convencido. Ninguém saberá muito bem que caminho é este nem para onde estamos verdadeiramente a ir, mas a ideia de um processo que evolui de vitória em vitória até à derrota final não será das mais desajustadas ou descabidas...


DESTA VEZ...



(Gallego & Rey,http://www.elmundo.es)

Terminou esta noite a fase de grupos do Mundial da Rússia. Com a campeã Alemanha a constituir-se na grande surpresa da competição ao ser ineditamente afastada mas de modo incontestável – o futuro próximo trará certamente algumas explicações para um desaire tão inesperado quanto incompreensível, sendo que o mundo, e especialmente a larga maioria dos europeus, terá ficado bastante agradado com um tal desenlace mas sendo também que o torneio objetivamente perde com o prematuro desaparecimento competitivo de Kroos, Özil, Khedira, Gündoğan, Neuer, Kimmich e outros excelentes artistas da bola. 

Quanto ao resto, e ao jeito de um balanço necessariamente telegráfico, sublinharia os seguintes pontos: (i) o apuramento para os oitavos de dez seleções europeias, cinco sul-americanas e uma asiática, o surpreendente Japão; (ii) a imaturidade das seleções africanas, todas afastadas a despeito de algumas possuírem elementos de inegável qualidade; (iii) o facto de apenas três equipas contarem por vitórias os três jogos disputados – Uruguai, Croácia e Bélgica – e de mais outras cinco ainda não terem qualquer derrota – Brasil e França, com duas vitórias e um empate, e Suíça, Espanha e Portugal, com dois empates e uma vitória; (iv) a estruturação subjetiva dos apurados entre as formações que se apresentaram acima do esperado – Croácia, Brasil, França, Bélgica, Inglaterra e Suécia, por esta ordem –, as que se apresentaram abaixo do esperado – Argentina, Espanha e Portugal, também por esta ordem – e as que cumpriram objetivos mas acabarão por não passar de outsiders mais ou menos influentes – Uruguai, Suíça, Colômbia, México, Rússia, Dinamarca e Japão, igualmente por esta ordem.

Por fim, e correndo o risco de uma aposta seguramente pouco mais do que gratuita, diria então que ou teremos umas meias-finais totalmente europeias (França-Bélgica e Croácia-Inglaterra) ou, em alternativa, umas meias-finais euro-americanas (França-Brasil e Croácia-Colômbia). E o campeão? Por ora, tendo preferencialmente para a Croácia, no primeiro caso, e para o Brasil, no segundo. Com a melhor França desde há muito tempo a poder ter uma palavra a dizer. Mas, sendo a bola redonda, tudo pode acontecer exceto desta vez que no final vença a Alemanha...

quinta-feira, 28 de junho de 2018

A ARGENTINA SOFRE...


Para gáudio do nosso velho amigo Urbano Sonzini Astudillo, assim como de todos os seus compatriotas argentinos, a equipa azul-celeste lá escapou de ficar pela fase de grupos do Mundial ao vencer a Nigéria com um golo de Rojo na parte terminal de um encontro em que finalmente venceu mas voltou a não convencer.

Já nem o futebol e o ídolo Messi ajudam o país a minorar o ciclo depressivo que há longo tempo o vem atingindo. Com efeito, as crises têm-se sucedido de forma quase estonteante nas últimas mais de quatro décadas: recordemos, sem sermos exaustivos, a desvalorização do peso em 160% e a inflação a chegar aos 777% em 1975 (o Rodrigazo), a quebra do PIB em 10% durante o governo militar (1981), a bancarrota de 1989 (com uma quebra do PIB de 12% em dois anos) e o corralito de 2001. Veja-se assim, numa perspetiva secular, o impressionante gráfico abaixo, bem revelador da perda de peso da Argentina no contexto mundial, onde já ocupa uma posição que ronda o 50º lugar em termos de PIB per capita (contra o 5º de final do século XIX ou o 11º de meados do século XX), e mesmo latino-americano (o país está hoje largamente afastado do Brasil e do México no ranking dos países de uma região onde já foi potência dominante ou disputou palmo a palmo a liderança com o Brasil).

Acresce a esta desgraça estrutural o facto de a Argentina ter sido objeto, no início do mês, de um resgate no valor de 50 mil milhões de dólares (em torno de 10% do seu PIB) por parte do FMI, na sequência de uma negociação muito rapidamente precipitada pela imperiosidade de se susterem os riscos mais imediatos associados às turbulências de maio (desvalorização do peso em 22 pontos e taxas de juro a subirem até aos 40%). Com a receita é a de sempre: a contrapartida de um equilíbrio orçamental a atingir em três anos (leia-se 19,3 mil milhões), ou seja, um esforço gigantesco e seguramente gerador de uma nova onda de mal-estar social.

Será que a sorte e o engenho de Messi e seus pares vão mudar no jogo dos oitavos contra os franceses? Até certo ponto, veria com um certo agrado que um pequeno paliativo desse tipo pudesse ser servido ao simpático povo argentino...


(Bernardo Erlich, http://www.clarin.com)

O CONSELHO QUE PODE SER O PRINCÍPIO DO FIM



(Não tenho qualquer competência ou veleidade de futurólogo ou aprendiz de prospetiva. Limito-me a reconhecer que o Conselho Europeu que esta tarde se inicia em Bruxelas acontece num momento em que todas as contradições do mundo parecem convergir num grande nó. E para baralhar e comprometer ainda mais a situação, os riscos de uma próxima recessão europeia viram a sua probabilidade de ocorrência aumentarem significativamente nos últimos dias.)

As vozes populares dizem que “o que nasce torto raramente se endireita”. Aplicando esta sabedoria popular ao projeto europeu, poderíamos dizer que, face aos sucessivos empurrões com a barriga dos líderes europeus em matéria de superação das contradições internas do projeto e do seu relacionamento com os eleitorados nacionais, o cântaro tantas vezes vai periclitante à fonte que um dia partirá com estrondo. Até agora, parece que as lideranças europeias necessitam do aperto e da aflição em cima da hora para descobrirem saídas que componham a manta por uns tempos. O método é arriscado e não é seguro que sempre funcione. Pode ser que seja desta vez ou que de novo alguma luz comprometida e uma vez mais contraditória a prazo surja no calor das negociações.

Dirão vozes críticas como a de José Pacheco Pereira que tudo isto se deve à pretensão tecnocrática e antidemocrática de construir os sucessivos momentos do projeto europeu à revelia dos parlamentos nacionais, dos eleitorados que os elegem e das populações cidadãs em última análise. Esta posição merece ponderação. Não é difícil encontrarmos momentos em que a tecnocracia europeia, com objetivos políticos encobertos nas soluções técnicas se sobrepôs a uma reflexão mais democrática e inclusiva do que os avanços prematuros representaram. Mas os argumentos de JPP vão muitas vezes no sentido de denunciar as perdas de soberania que a integração europeia representa, reivindicando também que essas perdas de soberania deveriam ter sido mais consistentemente apresentadas no prato da balança das opções políticas.

Compreendo essa argumentação, reconheço que levanta questões relevantes que não devemos escamotear, mas acho que o projeto de uma União Europeia, com a ideia de uma União Económica e Monetária no seu interior, não pode ser construído à medida e em estreita interação com os eleitorados nacionais. Um projeto desta natureza tem de assentar sempre em algumas componentes transnacionais, de alguma audácia e projeção para o futuro, algumas ideias europeias que prevaleçam sobre os interesses nacionais. Assistimos hoje ao absurdo contraditório dos demónios políticos que atravessam alguns eleitorados europeus (em Itália, no leste europeu, na própria Alemanha com uma senhora Merkel cada vez mais encostada à parede) a condicionarem o próprio projeto europeu. Dir-me-ão que tais demónios podem ser associados aos próprios erros de progressão das instituições europeias. Mas em meu entender a emergência de tais demónios tem uma explicação mais vasta do que a que é circunscrita às derivas da construção europeia. Esses demónios surgem predominantemente associados à baixa qualificação, ao não cosmopolitismo, aos deserdados da economia que sempre existiram nas mutações dos ciclos longos da economia, ao sentimento de perda, à desqualificação da classe política, enfim a um conjunto de fatores que transcende em muito as derivas, reais, da construção europeia. Por isso, não estou convencido que o contrafactual das não perdas de soberania produzisse resultados melhores, o que não significa que não reconheça que a construção podia e deveria assentar numa maior interação política com os eleitorados nacionais.

A União Europeia chega ao Conselho de hoje à tarde de novo pressionada, seja por sinais de que a recessão é hoje mais provável do que há um mês ou dois (link aqui e aqui para artigos de Wolfgang Munchau), seja pela dimensão global e estrutural dos problemas dos refugiados que buscam território europeu. A primeira fonte de pressão abate-se sobre as possibilidades de mobilização de recursos financeiros para uma abordagem mais abrangente da crise humanitária e da necessidade de também a combater na origem dos fluxos. A construção de um orçamento para a zona euro, o completar do edifício da União Bancária e a emissão de ativos seguros para combater uma qualquer fonte de recessão, venha ela do mercado da dívida soberana, do sistema bancário ou de uma bolha imobiliária qualquer, estão periclitantes. A segunda pressão é ainda mais incómoda e violenta. Temos assistido a verdadeiras insurreições do espírito comunitário, sem que se pressintam quaisquer sanções para os prevaricadores assumidos. Insurreição tanto mais que os valores dos fluxos de entrada de refugiados caíram substancialmente como se vê no gráfico abaixo:

(New York Times, link aqui)

Tal como as coisas se apresentam, a probabilidade de uma resposta ao problema migratório a 28 parece uma miragem. E uma solução em geometria limitada a alguns dos 28, sem sanções para os que se recusam a uma visão solidária ou com sanções para os prevaricadores, pode ser o princípio da falência. Nestas situações, a interação com os eleitorados nacionais é explosiva e não podemos ignorar a hipótese de que a senhora Merkel possa ser uma das sacrificadas de todo este processo. O que seria aterrador do ponto de vista dos rumos que se poderiam abrir na Alemanha.

Por sua vez, a ideia dos centros de barragem nos países emissores de refugiados sem intervenção nas causas profundas de guerra, pobreza extrema e violência descontrolada que avançam vertiginosamente nesses países não é menos abjeta e aterradora.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

MERKRON?



Não que seja especialmente fundado o depósito de muitas esperanças no resultado oficialmente saído do encontro recentemente havido entre Merkel e Macron no castelo germânico de Meseberg a propósito da situação europeia e das reformas a implementar no funcionamento da Zona Euro. Porque, apesar do entusiasmo do presidente francês – que sublinhou como principal decisão a de um próximo estabelecimento de “um verdadeiro orçamento europeu para a convergência entre economias da zona euro e para o investimento” –, a maioria dos analistas preferiu falar simplesmente de um “compromisso razoável”. Mas sobretudo porque, como tão bem sintetizou o diário alemão Frankfurter Allgemeine, “longe vai o tempo em que bastava um acordo entre França e Alemanha para que houvesse movimento na Europa”. E ainda porque, há vontades e vontades mais a força indestrutível das condições objetivas, como a imagem abaixo magistralmente elucida...

(Klaus Stuttman, http://www.tagesspiegel.de)

terça-feira, 26 de junho de 2018

O CRESCIMENTO ECONÓMICO VISTO À LUPA DA DESIGUALDADE



(Os economistas do desenvolvimento, e não apenas esses, sempre foram críticos em relação à utilização da taxa de crescimento do PIB como medida do bem-estar material de uma população. Vários caminhos de crítica foram traçados e finalmente os critérios da desigualdade vêm ajudar nessa tarefa)

A insatisfação que muitos economistas sentem com a utilização da taxa de crescimento económico (a taxa de crescimento do PIB a preços constantes) tem uma longa história e vários caminhos de tentativa de superação dessa insatisfação foram traçados. São conhecidas as tentativas de combinar o crescimento do PIB com a dinâmica de outras variáveis, seja com várias dimensões da qualidade de vida, seja com a poupança dos recursos naturais ao serviço das gerações futuras e não ficaríamos por aqui nessa senda. Há mesmo quem seja mais radical e proponha a substituição do indicador PIB por algo de mais ambicioso. É o caso do Índice de Felicidade das Nações, cuja edição de 2018 (link aqui) acaba de ser publicada, com vastíssima e diversificada informação para os mais curiosos na avaliação comparativa da felicidade nacional. Na sua elaboração, há pelo menos um economista de grande projeção mediática, Jeffrey Sachs, com várias obras publicadas em português.


Mas não é o índice da felicidade nacional que hoje suscita a minha atenção. É antes uma via mais simples, tocada por uma matéria que é extremamente cara a este blogue, a economia da desigualdade. Sabemos, e já o documentámos neste espaço repetidas vezes, que a desigualdade tem merecido na última década de produção de investigação económica uma atenção extrema, aliás com resultados extremos em notoriedade mediática (veja-se o mistério do êxito editorial do Capital no século XXI de Thomas Piketty). Ora é ainda a desigualdade que inspira a procura de uma alternativa ao crescimento do PIB, segundo métodos paradoxalmente muito simples em termos conceptuais, mas ainda de difícil operacionalização. Os economistas americanos agrupados em torno do think-tank Equitable Growth, que tantas vezes é convocado neste blogue por minha iniciativa, chamam à correção do crescimento do PIB como medida da dinâmica do bem-estar material “desintegração do crescimento” (link aqui).

Como se operacionaliza então a “desintegração do crescimento” e que luz nova ela traz à medida do bem-estar material das sociedades?

Em primeiro lugar, há uma operação a fazer, de contabilidade nacional elementar: transformar o crescimento do PIB em crescimento do rendimento, ou seja, ver o seu crescimento pelo lado do que os indivíduos recebem pelos fatores que representam. Transformado em rendimento, o crescimento do rendimento nacional é visto não como uma grandeza global, ocultando a sua repartição pelos grupos de população. Divide-se a população de uma população por grupos (regra geral percentis) e analisa-se o crescimento do rendimento apropriado por cada um desses grupos. Não é difícil demonstrar que a taxa de crescimento do rendimento global é igual ao somatório das taxas de crescimento do rendimento de cada grupo de população ponderada pela percentagem de rendimento que cabe a cada grupo no rendimento global.

Uma simples operação desta natureza transforma radicalmente a interpretação de uma taxa de crescimento opaca numa outra em que será visível a desigualdade dos efeitos de distribuição desse mesmo rendimento. E assim por uma via simples e intuitiva se ganha profundidade na análise da repartição dinâmica do bolo, pressupondo que o bolo cresce.

O Equitable Growth tem uma máxima simples mas de grande alcance: se não medirmos o crescimento desigual não poderemos combatê-lo com medidas de política pertinentes.