segunda-feira, 4 de junho de 2018

CHICO E MUITO MAIS


Um fim de semana quase absolutamente conseguido, não fora a estranheza climática deste final de Primavera. Abri e fechei no velho Coliseu do Porto – onde cada vez mais impera a dedicação e o foco do Eduardo Paz Barroso –, primeiro com a simpática e talentosa Stacey Kent e na noite passada com o incomparável Chico. Pelo meio, circulei entre Lamego, a Régua, o Pinhão (Alijó), Mesão Frio e Armamar, ouvindo o Camané (conforme post anterior), aprendendo muito com o saber transmitido por Pedro Mexia a pretexto de Agustina Bessa-Luís (de quem não há “leitores mornos” e que caraterizou pela geografia, pela genealogia, pela invenção de uma classe social, pela crueldade, pela malícia divertida, pela obscuridade, pelo lado indomável e pela genialidade de “uma obra para uma vida inteira”), revisitando o “Vale Abraão” pela mão sensível e detalhadamente conhecedora de Leonor Baldaque (neta de Agustina e atriz de Oliveira, assim especialmente capacitada para ligar o fosso existente entre um e o outro numa lógica de descrença comum no progresso da Humanidade e no progresso individual de cada um, sublinhando ainda o sofrimento e a infelicidade associados à condição de ser mulher e aquele tão agustiniano final – “ninguém imita melhor do que eu uma bela vida” –, para acabar a concluir pela necessidade de “decretar a morte a este mundo de miséria, maledicência e provincianismo”), constatando a força comovente de tantas energias locais (dos alunos do Conservatório de Vila Real ao Orfeão da Universidade Sénior de Armamar e, sobretudo, aos generosos e focados jovens e cidadãos que estiveram um Sábado inteiro a pensar o Douro entre o Museu e o Teatrinho do Peso da Régua) e trocando ideias e impressões em geometrias de uma enorme e fascinante variedade por todos aqueles sítios.

Volto ao Chico Buarque para recordar que já cá não vinha há treze anos – “Tanto Mar” a nos separar! – e que o reencontro se fez com trinta canções – entre muitas velhinhas, como “Geni e o Zepelim”, “Futuros Amantes” ou “Yolanda”, e as novas do recente álbum “Caravanas” – entoadas como só ele sabe perante uma sala a abarrotar de gente e de um entusiasmo quase venerador.

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