sábado, 28 de fevereiro de 2015

OPERAÇÃO MOSCOVO


(Jean-Pierre Cagnat, http://www.lemonde.fr)

É em momentos inspirados como os que nos revelou no “Público” desta Sexta-Feira, com a sua crónica “Ver ou Não Ver”, que vem ao de cima o génio e a qualidade de análise e escrita de Vasco Pulido Valente. Por isso – e pela mais que central relevância do tema em questão no preciso dia em que o líder oposicionista Boris Nemtsov, que foi vice de Yeltsin, era assassinado com quatro tiros junto ao Kremlin – não resisto a aqui a reproduzir para benefício de todos e com a devida vénia ao autor e à publicação de origem.

“Com as nossas preocupações domésticas, não nos sobra o tempo para pensar em coisas muito mais sérias como o expansionismo da Rússia.
Vem na Wikipédia, mas convém repetir, que a Rússia é uma federação de 22 repúblicas, 46 regiões autónomas (como a da Madeira) e nove territórios. Pior ainda, tem 160 etnias diferentes, 100 línguas diferentes, quatro grandes religiões diferentes (a ortodoxa, a islamita, a judaica e a budista) e uma enorme variedade de seitas, que constantemente varia e se multiplica. Tudo isto para uma população relativamente pequena de 140 milhões de habitantes. Qualquer pessoa de senso compreenderá que, segundo um velho hábito do século XVIII, chamamos Rússia a um Império que só pode ser governado autocraticamente e onde a democracia está para sempre condenada.
O autocrata de hoje já não é o czar Nicolau II, nem Lenine, nem Estaline, nem Khruschev, nem Brejnev. É um antigo membro da polícia secreta e, por consequência, um dissimulador, um mentiroso, um torcionário e um assassino, que dá pelo nome de Putin e que preside a uma cleptocracia, largamente caótica, a que só a violência e o seu arbítrio garantem uma vaga coesão e uma aparência de Estado. Além disso, na falta de uma legitimidade dinástica como a dos Romanov, ou ideológica como a URSS, Putin precisa, para se ir aguentando, de invocar a legitimidade imperial, principalmente depois da maior derrota que o Império sofreu desde 1613. O que não seria importante, se depois da implosão do comunismo a Rússia não permanecesse a segunda potência militar do mundo.
E se a Europa não se tivesse desarmado, como desarmou, para pagar o Estado social. A Inglaterra, por exemplo, gasta em defesa menos do que 2 por cento do PIB, no momento em que Putin (de resto, provocado pela França e pela Alemanha) embarcou numa política claramente agressiva e revanchista. A Crimeia foi o primeiro objectivo, como já o fora para Catarina, porque o Império fica fechado ao exterior sem um porto de água quente; e o segundo foi parte da bacia do Donetsk, porque a Crimeia não serve de nada sem uma ligação fácil e segura ao coração do Império. Estaline e Hitler perceberam este ponto essencial. Putin também; e não há a sombra de uma dúvida de que não recuará. Como, tarde ou cedo, vai acabar por querer que as repúblicas bálticas voltem ao seu domínio e que a Ásia Central aceite obedientemente a sua ordem. Os movimentos preliminares da III Guerra Mundial estão em curso: para o Ocidente ver – ou não ver.”

E tanto que é possível dizer em apenas 32 linhas, 4 parágrafos, 420 palavras e pouco menos de 2500 carateres com espaços!

E SE NÃO TIVESSE SIDO ASSIM?

(David Beckworth)


A situação comparativa da resposta das economias americana e da zona Euro à crise de 2007-2008, largamente desfavorável à segunda, tem dado origem a uma vastíssima literatura. A mais relevante é a que procura mostrar que, apesar das debilidades do edifício do Euro, sempre vulnerável a situações de stresse, os resultados poderiam ter sido substancialmente diferentes acaso o BCE tivesse tido respaldo para uma intervenção menos hesitante e de maior magnitude de meios envolvidos. A matéria é fascinante, mas convém referir à partida que a ciência económica enfrenta dificuldades sérias em concretizar os chamados exercícios do contrafactual, ou seja medir o que teria acontecido acaso a intervenção de política económica fosse outra, fosse acionada mais cedo e os recursos utilizados tivessem sido mais expressivos. Regra geral, os pressupostos que é necessário construir para tornar tais exercícios minimamente fiáveis são extremamente exigentes e aconselham a relativizar resultados encontrados. Predominam por isso exercícios de contrafactual mais indiretos do que propriamente modelos de grande sofisticação que de debatem sempre com a sobresimplificação a que são conduzidos.
A questão que Beckworth se propõe responder é como estaria hoje a zona Euro acaso o BCE tivesse baixado e não aumentado a taxa de juro de referência em 2008 e 2011 e não tivesse esperado tanto tempo para lançar o seu programa de quantitative easing (QE), abalançando-se para o mesmo em 2009, ou seja quatro cinco anos antes.
O gráfico que abre este post é elucidativo da comparação. Embora a administração Obama tivesse também (com reservas de muitos economistas americanos) iniciado uma política de aperto fiscal em 2010 (por via da redução da despesa pública), a verdade é que a política monetária induziu ritmos de crescimento da despesa monetária muito mais expressivo do que o da zona euro. Beckworth refere e bem que um QE lançado mais cedo tenderia a suscitar uma mais provável subida de preços nas economias mais perto do pleno emprego, onde a Alemanha se perfilaria de forma clara. Caso isso tivesse acontecido, então os países sob resgate não seriam obrigados a uma desvalorização interna tão intensa, os seus preços teriam descido em termos relativos face a essas economias e globalmente a zona Euro estaria melhor.
Um outro contrafactual relevante é suscitado por Beckworth lançando a hipótese o que teria acontecido se a zona Euro como um todo e as suas autoridades mais representativas tivessem entendido que o problema europeu não era globalmente uma crise de dívida.

 (David Beckworth - O comportamento do peso da dívida pública no PIB após a crise é esclarecedor)
O exemplo assassino é o da Espanha que mostra à saciedade que é a crise a provocar um problema de dívida em Espanha e não um problema de dívida a suscitar a crise e resgate. Beckworth é dos que pensa que a zona euro tem um problema de crise monetária e não uma crise de dívida, embora em meu entender a crise europeia não é apenas o produto de uma crise monetária típica.
Os gráficos seguintes retomam cálculos de outros economistas que colocam em evidência uma forte correlação entre o comportamento da despesa pública entre 2010 e 2013 e o crescimento (ou o seu contrário) observado nesse mesmo período. Beckworth insiste em avançar com a ideia de que a variável omissa é a da política monetária excessivamente restritiva, resultado do BCE ter entendido tarde (apenas com o alerta da deflação) que deveria ter seguido o exemplo do FED americano e não ceder às fobias inflacionárias alemãs.

(David Beckworth -O peso da dívida pública no PIB agrava-se após a política monetária se tornar mais restritiva)

 (David Beckworth -A austeridade nunca poderia ter acionado o crescimento, apesar da purificação punitiva das almas dos considerados infratores)
Em meu entender, o erro de cálculo e de tempo de entrada (como no futebol, uma entrada a destempo e atrasada dá geralmente direito a falta) do BCE não é suficiente para explicar a tragédia do Euro. Mas não me custa aceitar que uma intervenção mais atempada e decidida do BCE teria minimizado problemas, embora sem os resolver integralmente.

MANUEL DE LUCENA

(Luís Grañena, http://www.sabado.pt)

Arrumava eu os meus arquivos mensais – como sempre procuro fazer na viragem dos meses – quando me dei conta de um lapso involuntariamente cometido: a não menção aqui ao falecimento de Manuel de Lucena (ML), ocorrido no próprio dia em que cumpria 77 anos (7 de fevereiro). Um intelectual de primeira água que assim desaparece, na sequência de uma vida cheia e só aparentemente acidentada/contraditória nos principais contornos das suas posições públicas (ilustra-o a síntese que sabiamente conseguiu realizar entre Melo Antunes, Francisco Sá Carneiro e Jorge Sampaio). A sua pertença à geração de 62 marcou-o para sempre e esteve na origem das revistas “O Tempo e o Modo” e “Polémica”, mas a ligação mais perene que se lhe conheceu foi o Instituto de Ciências Sociais (ICS), tendo sido “A Evolução do Sistema Corporativo Português” (1976) a sua obra mais referenciada. Sendo que ML foi sobretudo “um homem livre”, podendo também ser justamente caraterizado como “um aristocrata do pensamento”. De si próprio, falava nos seguintes termos: “Eu acho que só há uma coisa que eu faço mesmo bem: é traduzir. Não sou estúpido, de vez em quando penso umas coisas que não são mal pensadas, mas não tenho um pensamento vasto e universal capaz de acolher os principais aspetos da nossa querida existência.” A lucidez dos melhores...

A AUTORIZAÇÃO DE MERKEL E SUA TROIKA


Mais duas sugestivas capas de jornais alemães, cada uma no seu género, marcando o dia em que o “Bundestag” aprovou a extensão do programa da Grécia por quatro meses com uma enganadora maioria de 542 deputados contra 32 e 13 abstenções. O tranquilizador resultado decorre de um intenso e eficaz trabalho da coligação governamental CDU-SPD (abaixo, uma foto dos seus quatro maiorais), sobretudo no plano comunicacional, mas não evita que nos questionemos sobre o absurdo desta tutela ou da construção que a consente...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

SYRIZICES



O gozo com que algumas correntes de opinião se deleitam com o recuo do SYRIZA nas negociações com a União Europeia chega a ser pornográfico. O espectro de poder haver uma alternativa era de facto uma ameaça fatal aos que internalizaram nas suas cabecinhas que “não há alternativa” e que reagem ao pensamento dominante como qualquer animalzinho em experiências de laboratórios mais ou menos pavlovianas.
Mas não é essa a perspetiva que me interessa. O que fundamentalmente me atrai é que o SYRIZA, com o seu recuo e com a vertente marcadamente redistributiva que o seu programa veicula, acaba por preencher de forma não antecipável há uns tempos atrás o espaço vazio do centro-esquerda no pós- crise. Não há evidência alternativa à generalizada observação de que o pós 2007-2008 e sobretudo as políticas de austeridade cavaram fundo na desigualdade da distribuição do rendimento, exigindo entre outras coisas, e como o trabalho de Piketty nos veio mostrar com uma notoriedade inesperada, uma política fiscal agressivamente redistributiva. A trágica demolição do PASOK, claramente embrenhado no mais sórdido recôndito da política grega, e a cumplicidade da Nova Democracia com a continuidade e aprofundamento dessa desigualdade tornaram impossível essa fiscalidade. O vazio do centro-esquerda foi criado e a dinâmica das aspirações e da indignação da população grega fizeram o rosto. O SYRIZA arrisca-se a transformar-se na força política que naturalmente ocupará esse vazio.
O que é que de interessante pode ter esta SYRIZICE para Portugal? Coisas bem relevantes que um PS cinzentão e centrão se nega a compreender, fugindo dessa evidência, assustado com qualquer entrave eleitoral ao salivar do poder. Mas alguém de bom juízo acredita que o PS vai criar empatia com os eleitores através de uma agenda programática que até pode ser elaborada pelas mais responsáveis personalidades? Pacheco Pereira incendiou ontem o debate do Quadratura com essa denúncia e como o compreendo. O calculismo do PS é essencialmente fruto do medo e vertigem em ocupar o espaço redistributivo do centro-esquerda, já parcialmente refém dos tiques de não hostilização do eleitorado. Não é com essa abordagem que António Costa se identificará com a vastíssima população portuguesa que aspira a uma partilha mais justa das dificuldades do país. Qual agenda programática! Alguém a vai ler em contexto eleitoral? Simplesmente um conjunto reduzido de propostas para mostrar que é possível fazer diferente e sobretudo a identificação com os problemas dos que mais sofreram com o ajustamento.

ZEINAL E A SÃ CONSCIÊNCIA



A passagem de Zeinal Bava, ontem, pela comissão de inquérito ao BES/GES logrou uma rara unanimidade na comunicação social portuguesa. Quer quanto à forma, quer quanto ao conteúdo. Doravante, este comendador de Cavaco já não mais escapará àquela imagem que – entre o ar pensador, a fachada sorridente e a expressão aparvalhada – repetia que não sabia de nada, que não tinha que saber, que não guardava memória, que lhe era difícil responder, que não lhe cabiam responsabilidades, que fora assim porque assim fora.

Mas, mais uma vez, foi Fernando Alves quem melhor descreveu a cena na sua curta crónica desta manhã na TSF. Assim disse, quase tudo deixando dito:
“Quantas horas teria podido ficar Zeinal Bava repetindo a chave sagaz da sã consciência sem o presumível estabelecimento das sinapses, as que fossem necessárias. O que se revelou admirável, irritantemente admirável na audição de ontem, foi a capacidade de Zeinal em esticar a fala oca. O homem que se presta a intermináveis explicações, enquadrando sempre operações muito complexas nas quais sempre desempenhou papéis decisivos, concluiu sempre, invariavelmente, que não sabia de nada nem teria de saber. Gestor amnésico lhe chama hoje o JN, Bruno Faria Lopes no ‘sobe e desce’ do Diário Económico sublinha que o homem do detalhe só não sabia da Rio Forte, o homem do detalhe sorriu na Comissão e repetiu a chave sagaz: ‘em sã consciência, não me lembro de alguma vez...’, ‘em sã consciência, não sabia...’, ‘em sã consciência...’. Muitos cuidam da reputação mas não da consciência, disse num dos sermões o Padre António Vieira. Ora, invocando ontem repetidamente a sã consciência, o amante dos detalhes de cuja memória deles tão sorridentemente se liberta não granjeou entre os deputados de todas as bancadas uma confortável reputação. Consensualmente considerado um gestor sofisticado, terá ele em sã consciência pressentido que se esfumou qualquer outra hipótese de consensualidade? Enfim, detalhe despiciendo em sã consciência.”

FREITAS VÊ-SE GREGO EM NOME DA EUROPA


Apanhei por acaso a “Grande Entrevista” desta semana na “RTP Informação”, onde Diogo Freitas do Amaral era o convidado de Vítor Gonçalves. Já na parte final da mesma, falando sobre a questão greco-europeia e perante um atrapalhado/embasbacado jornalista que o tentava quanto possível contrariar, foi dizendo de sua justiça, ou seja, o seguinte:
Não, pelo contrário [interpelado sobre se concorda que as negociações entre o Syriza e o Eurogrupo, e o acordo resultante, se podem resumir na frase “entradas de leão, saídas de sendeiro”]. Eu acho que o governo grego – que não é só o Syriza, é também um outro partido, que não é de extrema-direita; nem o Syriza é de extrema-esquerda nem o outro partido é de extrema-direita; o outro partido é constituído por dissidentes da Nova Democracia que há dois anos eram ministros de Samaras, colega do dr. Passos Coelho e do dr. Paulo Portas –, eu acho que as negociações do governo grego foram mais longe do que seria previsível em quinze dias. Ainda não conseguiram tudo, claro (...), eles recuaram muito, mas a Alemanha recuou muito mais.

E ainda mais o seguinte:
Olhe, primeiro, o governo grego conseguiu acabar com o tabu da política económica neoliberal, que não podia ser discutida, não podia ser emendada, não podia ser melhorada, era aquilo e mais nada, e pôs toda a Europa e todo o mundo a discutir os méritos e os deméritos da política neoliberal – primeira vitória. Segunda vitória: o governo grego conseguiu que o BCE, antes ainda de chegarem a acordo, lhe desse mais oito mil e quinhentos milhões de dólares para a banca grega, que era o que eles precisavam para aguentar estes quatro meses. Depois, conseguiu dobrar a Alemanha, que não queria nenhum acordo, queria excluir a Grécia do Euro, foi obrigada a engolir, foi obrigada a aceitar um acordo, e mais, teve que fazer uma jogada muito hábil em que a senhora Merkel pôs o seu ministro das Finanças Schäuble a fazer de polícia mau, pediu ao senhor Jean-Claude Juncker que fizesse de polícia bom, abrindo o caminho, e depois ela conseguiu o acordo a meio caminho. O que é que foram as medidas que o governo grego apresentou há dois dias que foram aprovadas por todo o Eurogrupo? É a reforma do Estado, rever o sistema fiscal, a eficiência fiscal, o combate à fraude, rever o sistema da segurança social, é a reforma do Estado. Portanto, isto não é nenhuma cedência. E acabou a austeridade pura e dura: a partir de agora, vai haver disciplina orçamental com certeza, rigor orçamental mas a teoria da austeridade pura e dura como única solução para as crises dos países do Sul da Europa acabou, morreu. Como morreu a Troika.

Exageros e imprecisões devidamente ressalvados, por serem essencialmente irrelevantes no cômputo geral da justeza última análise produzida, lá tivemos mais um “senador” – e de linhagem conservadora! – a pôr alguns pontos nos ii emitindo sem rebuço certas verdades que estavam a precisar de ser vigorosamente realçadas cá na nossa terra. O que pensará o PS sobre isto?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A CABRA E O CAVALO



Nuno Melo é um deputado europeu “light” e “q.b.” que, se excetuarmos a sua intervenção na comissão parlamentar do BPN, se tem especializado na pequena política televisiva, na exploração do pequeno byte nas redes sociais e não só, obtendo por essa via efémeros momentos de pretensa glória, que o devem realizar, e cada qual realiza-se com o que estiver mais à mão.
O seu aproveitamento do byte despreocupado mas impreparado de António Costa com investidores e autoridades chineses e o discurso preparado na Antena 1 em torno do significado dos anos da cabra e do cavalo na cultura chinesa vem nessa sequência.
Só o refiro aqui por dois motivos.
Primeiro, porque intuo que a próxima campanha eleitoral vai estar cheia até à náusea destes números e piruetas de circunstância, tudo fazendo a maioria para encontrar ecos do seu discurso onírico sobre a transformação do país. Pelo sim pelo não vou tomar alguns protetores estomacais, porque receio náuseas profundas com o que se perfila no horizonte eleitoral.
Segundo, porque na perspetiva dos interesses de António Costa não sou dos que desvalorizam este tipo de situações, mesmo aderindo à semântica preciosista de que estar diferente ou estar melhor não é de facto a mesma coisa. Podem dizer-me que a diplomacia económica é das mais cínicas e hipócritas que se vendem por aí e até posso concordar com isso, a fazer fé no que vai sendo visto por esse mundo fora. Mas a alternativa de António Costa não pode menosprezar um discurso para essa realidade. Claro que não lembraria ao diabo e seguir por exemplo o pensamento de Félix Ribeiro e defender que na geoestratégia da globalização não interessa a Portugal ficar reduzido a uma feitoria da China. Mas já que os chineses estão cá (e não vou discutir as contrapartidas e quem as terá auferido de os ter por cá) parece fundamental começar a fazer o discurso de que o capital estrangeiro deve ser uma parte da solução de transformar o padrão estrutural da economia portuguesa e não tornar-se um problema, afunilando essa transformação. Essa posição de país não ofende ninguém, embora os investidores estrangeiros possam contrapor que então preparem melhor as vossas privatizações. O que seria uma boa réplica, mas aí Costa poderá sempre dizer que os malandros que me antecederam, com a cumplicidade da Troika, deram-se ao luxo de privatizar sem lei estratégica com escrutínio parlamentar.