terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

COMO INTERPRETAR OS YIELDS DAS OBRIGAÇÕES ALEMÃS?

(Financial Times on line)


O ambiente financeiro fervilha de emoções. O SYRIZA parece estar mais preparado do que observadores distraídos e marcados pelo preconceito ideológico estariam provavelmente à espera. A contraproposta de Varoufakis para ultrapassar as reservas ao haircut de dívida, baseada na troca de dívida atual por títulos indexados ao crescimento económico grego com excedentes orçamentais primários e na criação de dívida perpétua (seria necessário compreender melhor esta última dimensão), tem pelo menos o condão de fazer parar os mercados para pensar as cenas dos próximos episódios. Isto mostra mais uma vez que a democracia é um fator dinâmico, cristalizador é a fuga permanente à clarificação democrática e a evolução do projeto europeu mostra-o de modo cristalino.
Mas os mercados fervilham de sensações novas no prolongamento da matéria em que detive a atenção no post anterior, mais propriamente na nova maneira de pensar em termos de taxas de juro negativas. Ontem, fazia referência à especulação de Gavyn Davies no Financial Times sobre as consequências de uma eventual decisão do BCE de fazer descer ainda mais as suas taxas de referência de curto prazo para -0,8%. Ora, já não no domínio da especulação intelectual, mas sim no âmbito do comportamento concreto dos mercados, os yields das obrigações alemãs a 10 anos desceram para níveis abaixo dos praticados pelo mercado em relação a obrigações similares japonesas.
Elaine Moore and Robin Wigglesworth assinalavam hoje no Financial Times a perplexidade e choque dos analistas financeiros face a este comportamento do mercado, que muitos diziam nunca terem vivido nas suas vidas profissionais. O que surpreende no referido artigo é que, controversamente, os jornalistas não interpretam o comportamento dos yields alemães como um bom sinal, mas antes como um efeito perverso da chamada “japanização” da economia da zona euro, ou seja como um efeito dos riscos deflacionários com que a economia japonesa se debateu após a sua crise macro de 1990. E, paradoxo dos paradoxos, a Alemanha não parece disposta a inverter o seu comportamento de excedentes primários das suas contas públicas, recusando assim endividar-se a taxas praticamente nulas. Esta teimosia pode sair-lhes cara.
Isto de entender o verdadeiro espírito dos mercados tem que se lhe diga. Começa a ser matéria mais para oráculos do que para vulgares economistas que nunca morreram de amores por mercados financeiros.

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