Os tempos vão de feição para discutir amplamente
e sem rodeios o reconhecimento público dos economistas seja nos meandros de
suporte da decisão política, seja no seu acolhimento pela comunicação social. Sobretudo
para integrarmos nesse debate sem constrangimentos a chegada de economistas
académicos ao poder, como o foram por exemplo Vítor Gaspar em Portugal e agora Yanis
Varoufakis novo ministro das finanças no recém-empossado Governo grego do
SYRIZA.
Comecemos pela curiosa utilização das ferramentas
de consulta e tratamento do arquivo do New York Times concretizada por Justin
Wolfers no The Upshot do New York Times, uma das melhores colunas de abertura
ao debate das ideias económicas que conheço.
A análise de Wolfers, discutida também por Noha Smith no Bloomberg View, permite demonstrar com evidência segura, estruturada a
partir das citações de cientistas sociais realizadas no New York Times, que a
partir da Grande Depressão de 1929-30 o reconhecimento dos economistas
disparou, embora com flutuações, assumindo claramente o topo das citações num
contexto em que praticamente todas as ciências sociais crescem a sua reputação
no jornal em análise.
Ora, neste contexto de amplo reconhecimento e até
devoção dos media pela palavra dos economistas, espanta que a pouco conseguida
recuperação das economias mais avançadas após a Grande Recessão de 2007-2008,
com a zona euro à cabeça, não seja explicada tout court pela chamada austeridade fiscal, ou seja pela
desproporcionada queda ou não suficiente adaptação da despesa pública ao cenário
de debilidade de procura global. Esta questão que é tema de um incisivo pronunciamento
de Simon Wren-Lewis no Mainly Macro
parece tão evidente que, com o reconhecimento atrás assinalado, espanta observar
como subsiste a interrogação. Até o nosso circunspecto e tímido Vítor Constâncio
veio nestes dias contrariar a ideia de que os problemas da zona euro sejam um
problema de economia de oferta, para sublinhar a profundidade da debilidade da
procura global. O que talvez signifique que o reconhecimento da palavra dos
economistas seja acompanhado de distorções e de presença de outros valores que
não apenas o da consistência das ideias económicas.
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