domingo, 1 de fevereiro de 2015

O ESTRANHO RECONHECIMENTO DOS ECONOMISTAS



Os tempos vão de feição para discutir amplamente e sem rodeios o reconhecimento público dos economistas seja nos meandros de suporte da decisão política, seja no seu acolhimento pela comunicação social. Sobretudo para integrarmos nesse debate sem constrangimentos a chegada de economistas académicos ao poder, como o foram por exemplo Vítor Gaspar em Portugal e agora Yanis Varoufakis novo ministro das finanças no recém-empossado Governo grego do SYRIZA.
Comecemos pela curiosa utilização das ferramentas de consulta e tratamento do arquivo do New York Times concretizada por Justin Wolfers no The Upshot do New York Times, uma das melhores colunas de abertura ao debate das ideias económicas que conheço.
A análise de Wolfers, discutida também por Noha Smith no Bloomberg View, permite demonstrar com evidência segura, estruturada a partir das citações de cientistas sociais realizadas no New York Times, que a partir da Grande Depressão de 1929-30 o reconhecimento dos economistas disparou, embora com flutuações, assumindo claramente o topo das citações num contexto em que praticamente todas as ciências sociais crescem a sua reputação no jornal em análise.
Ora, neste contexto de amplo reconhecimento e até devoção dos media pela palavra dos economistas, espanta que a pouco conseguida recuperação das economias mais avançadas após a Grande Recessão de 2007-2008, com a zona euro à cabeça, não seja explicada tout court pela chamada austeridade fiscal, ou seja pela desproporcionada queda ou não suficiente adaptação da despesa pública ao cenário de debilidade de procura global. Esta questão que é tema de um incisivo pronunciamento de Simon Wren-Lewis no Mainly Macro parece tão evidente que, com o reconhecimento atrás assinalado, espanta observar como subsiste a interrogação. Até o nosso circunspecto e tímido Vítor Constâncio veio nestes dias contrariar a ideia de que os problemas da zona euro sejam um problema de economia de oferta, para sublinhar a profundidade da debilidade da procura global. O que talvez signifique que o reconhecimento da palavra dos economistas seja acompanhado de distorções e de presença de outros valores que não apenas o da consistência das ideias económicas.

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